Engravidar, algo que faz parte da fisiologia humana, pode se tornar uma jornada cansativa para as mulheres. Caso elas não consigam fecundar o óvulo e manter a gestação de forma natural, existe a opção dos métodos de concepção científicos, mas o alto custo financeiro dos processos é um obstáculo para os tentantes — termo usado para caracterizar mulheres ou casais que estão tentando engravidar com auxílio de tratamento médico. A boa notícia é que o Distrito Federal é um dos poucos locais — juntamente com estados como Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Pernambuco — que possuem esse serviço público. Único centro de saúde que oferece a reprodução assistida de forma totalmente gratuita, o Hospital Materno Infantil Brasília (Hmib) criou o Centro de Ensino e Pesquisa em Reprodução Assistida (Cepra) em 1998 e celebra 25 anos de histórias exitosas.
A iniciativa surgiu da necessidade de propiciar o tratamento para engravidar a mulheres do DF que não tinham condições financeiras para custear métodos de reprodução humana assistida. E o equipamento público está em ritmo acelerado. Nos primeiros seis meses deste ano, houve aumento médio de 27,2% dos procedimentos em comparação com o mesmo período do ano passado. Em números absolutos, de janeiro a 15 de junho de 2023, foram feitos 140 tratamentos. Em todo o ano passado, foram 221. Segundo a ginecologista Mariana Roller, diretora do Cepra, a taxa de êxito dos tratamentos é de, em média 40%. "A reprodução humana é um processo bastante complexo e, para haver sucesso, depende de uma série de fatores que envolvem tanto o homem quanto a mulher. Mas, posso afirmar que a idade delas é um fator crucial", explica a especialista, que aponta as maiores causas de infertilidade percebidas pelo Cepra. "Síndrome do ovário policístico e entupimento de trompas, além de fatores masculinos", enumera.
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Sonho
A moradora do Jardim Botânico Luana Lima, de 37 anos, conta que começou a tentar engravidar aos 32, com o uso de tabelinha e coito programado, acupuntura e vitaminas. Porém, em seis meses de vãs tentativas, percebeu que algo estava errado e procurou uma ginecologista. Nos exames, foi constatado que ela não conseguiria engravidar de maneira natural e recebeu indicação para que fizesse fertilização in vitro. "Eu estava com hormônios baixos, uma trompa entupida, menopausa precoce e minha reserva ovariana estava entrando em falência. Eu não tinha tempo", explicou a tenente do Exército. Após três anos e lutando contra o tempo, ela começou a fazer tratamentos em Brasília, São Paulo e Recife. E foi no Hmib que a militar conseguiu engravidar de Ester, de um ano, e já pensa em ter o segundo filho.
Sabrina Oliveira, 28, ainda não teve a mesma sorte. Casada há quatro anos e, com um ano de tentativas frustradas, depois de vários exames dolorosos, chegou o diagnóstico: síndrome dos ovários policísticos e uma trompa obstruída. "Foi nesse momento que a gente ficou sem chão, como se o meu maior sonho tivesse ficado impossível", declara a estudante. Abalada com a descoberta da infertilidade, ela procurou uma ginecologista especialista em reprodução humana para saber o que realmente poderia fazer e foi indicada a fertilização in vitro. Ela e o esposo, porém, não têm como pagar o tratamento e lamentam a burocracia para conseguir uma vaga no Cepra do Hmib.
Fila de espera
A lista de espera para fertilização in vitro no Hmib, atualmente, é de 302 pacientes, enquanto a de inseminação intrauterina — que é mais rápida, ainda que não imediata, mas não atende ao caso de Sabrina — está zerada. Para ter acesso ao tratamento gratuito, primeiramente, a mulher deve procurar a unidade básica de saúde (UBS) mais próxima para ser atendida pela equipe de saúde da família. Durante a consulta, é preciso relatar as possíveis causas de não estar conseguindo engravidar. Feito isso, a equipe irá solicitar alguns exames. Havendo necessidade, a UBS irá encaminhar o paciente para uma unidade hospitalar mais próxima que analisará se o caso tem necessidade de intervenção cirúrgica ou uma histeroscopia (inspeção médica da cavidade uterina através de endoscopia). Esgotando-se todas as possibilidades de gravidez de maneira natural, e quando somente a fertilização e a inseminação intrauterina forem a última saída, então, o caso será encaminhado ao Centro Especializado de Reprodução Humana (Cepra) do Hospital Materno Infantil Brasília (Hmib), onde a mulher ou o casal será inserido em uma fila para iniciar o tratamento.
No centro de saúde, a idade máxima para fazer inseminação é 38 anos e, para fertilização in vitro, 40 anos. Os métodos disponíveis no HMIB incluem, ainda, congelamento de embrião, transferência de embriões congelados e punção de epidídimo. A unidade trabalha com equipe multiprofissional, composta por ginecologistas especializados em reprodução humana, embriologistas, andrologistas, psicólogos, geneticistas, assistentes sociais, enfermeiros e técnicos de enfermagem. Segundo a diretora do Cepa, o acompanhamento psicológico é fundamental. "Os casais tentantes sofrem muito com ansiedade. Além disso, existe um preparo caso não haja sucessos no procedimento", explica Mariana Roller.
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Legislação
O número de ciclos de fertilização in vitro cresceu mais de 32% no Brasil. Já o Centro-Oeste
apresentou um aumento de 39,2%. Os dados foram analisados pela Associação Brasileira de
Reprodução Assistida (Sbra).
Segundo a juíza do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJDFT) Geilza Diniz existe, no Brasil, projeto de lei em tramitação sobre o tema. Por enquanto, a questão é abordada na Resolução n. 2320/2022 do Conselho Federal de Medicina (CFM). "A Resolução prevê que as técnicas de reprodução assistida podem ser utilizadas, desde que exista possibilidade de sucesso e baixa probabilidade de risco grave à saúde do paciente ou do possível descendente prevendo, inclusive, casos de reprodução após a morte", explica a magistrada.