Começou a temporada dos ipês-roxos, que se espalham pelo Distrito Federal, a partir de junho, e encantam o brasiliense ao se destacarem entre o cinza dos edifícios e o verde dos gramados. Com ciclistas, pedestres a caminho do trabalho ou passeando com seus pets pela Asa Sul, Sudoeste, Universidade de Brasília (UnB), Eixinho e Eixo Monumental, o urbanismo da capital do país muda com o tom forte das flores desta árvore resistente à seca do Cerrado. No Plano Piloto, por exemplo, há mais de 25 mil exemplares plantados pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap), responsável por cuidar da planta.
No campus Darcy Ribeiro, na Asa Norte, o analista de tecnologia da informação Márcio Assis, 47 anos, andava com a cadelinha Nina, enquanto foi deixar a esposa Sueli Assis, 47, no local de trabalho, a Biblioteca Central (BCE). "O urbanismo da capital ganha em beleza com esta época do ano", comenta a moradora do Sudoeste.
São mais de 270 mil pés de ipês de cinco cores (branco, amarelo, verde, rosa e roxo) plantados no Distrito Federal, de acordo com a Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap). No Sudoeste, há um ipê em frente ao apartamento do casal, o que gera um diferencial para o paisagismo da cidade, conforme diz o profissional de TI. "É muito bacana quando chega esta época. Muda nossa visão de fora", diz.
Márcio fala que a árvore também faz brilhar os olhos de parentes que vêm a passeio e se impressionam com as cinco cores das flores, que significam espiritualidade e magia. "Contribui bastante para embelezar, porque se tem a estrutura de Brasília com muitos monumentos bonitos e traz uma novidade para a cidade, principalmente para os turistas", analisa.
Para Sueli, essa junção do cinza dos prédios com o roxo dos ipês é o que causa o impacto no olhar. "Dá muito mais elementos, para uma cidade de concreto, ter muitas árvores verdes. No Eixinho, por exemplo, se não tivesse aquele tanto de ipês floridos, seria só uma pista. É uma visão completamente diferente", opina.
Sobre rodas
Semanalmente, em cima de duas rodas e com as mãos no guidão da bicicleta, as irmãs Getinália Batista, 57, e Márcia Santana, 55, costumam pedalar desde a 710 Sul, onde moram, até o início da Asa Sul, e sentem que os ipês causam uma sensação de calmaria, diferentemente de percursos em rodovias com barulhos dos veículos e perigo de acidentes. "Como está quente, vamos pela sombra das árvores e é maravilhoso pedalar debaixo dos ipês, principalmente no Eixão, onde há alguns muito bonitos", elogia Getinália.
As ciclistas também pedalam por Ceilândia e trilhas da Floresta Nacional de Brasília (Flona), onde não veem ipês como no Plano Piloto, reivindicação da população fora do centro do DF. "Os moradores dessas regiões pedem mais ipês por lá também. E faz toda a diferença ter um colorido nas ruas para nós que pedalamos e enfrentamos muita poeira", conta Sueli.
Características
Segundo a doutora em ecologia e pesquisadora do Departamento de Ecologia da UnB Carmen Regina Correia, os ipês do Distrito Federal não florescem por se tratar de um período de seca, mas do próprio ciclo da espécie. Tanto é verdade que o mesmo ocorre na região da Mata Atlântica, que é um bioma úmido.
Outra característica é o ponto de saída das sementes das flores com a força do vento. Nele, as flores atraem muitos insetos polinizadores, que ajuda na reprodução da espécie. "Uma coisa muito importante para as plantas é essa dispersão, que leva para longe e garante a sobrevivência daquela espécie", explica.
Existem ainda as variações dentro das próprias cores, como é o caso do ipê-roxo, que é exclusivo do cerrado. Carmen contextualiza que o formato da folha, por vezes, muda e o tronco ou a arquitetura das árvores são diferentes entre elas. "O que muda para outras é o tamanho da árvore, mais aberta ou mais compacta, o formato da flor, a forma como elas se compõem, uns que dão cachos e outros são espalhados na copa. Essas características botânicas específicas da folha, seja serrilhada na ponta ou com vários folíolos, que fazem a diferença de uma para outra", completa a engenheira agrônoma.
Morador da Asa Sul, o aposentado Nivacir Vilarinho, 74, costuma passear de manhã com o cachorro Grey. Nas caminhadas tranquilas pela Quadra 204, ele aprecia de perto o ipê-roxo plantado ao lado da Delegacia Especial de Atendimento Mulher 1 (Deam). A paixão é herança do tempo em que tinha contato com os rios para pesca e áreas de mata, em Ituiutaba, em Minas Gerais, onde nasceu. "Ter uma árvore como essa é um privilégio, porque a minha vida sempre foi desse contato com a natureza", recorda.
Além da beleza dos ipês-roxos em Brasília, Nivacir tem um apreço pela espécie, que no processo de fotossíntese, absorvem o gás carbônico do ar, libera o oxigênio e deixa o meio ambiente mais úmido e fresco. "Ter ipês é importante não só para a cidade, mas para a saúde da população, por conta desse combate ao gás carbônico. Quanto mais árvores bem distribuídas em uma região é melhor para nós", completa o aposentado.
Aquarela
Depois do roxo, vem os ipês-amarelos, cuja floração acontece entre julho e outubro. Já o ipê-branco começa a enfeitar as ruas entre agosto e dezembro e pode ter entre duas ou três florações seguidas na mesma estação. Pouco perceptível pela população, o ipê-verde também começa sua floração entre agosto e setembro. A última espécie a florir é o ipê-rosa, de agosto a outubro.
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