O feriado de Corpus Christi é um grande atrativo para que o brasiliense que quer descansar e sair da rotina pegue a estrada. Com o descanso prolongado, as rodovias que cortam o Distrito Federal ficam cheias de veículos tentando deixar a capital rumo a municípios próximos. Entretanto, a recorrência de acidentes acende o sinal de alerta de motoristas que passam por essas vias, que, de acordo com a Polícia Rodoviária Federal, requerem maior atenção de todos.
Segundo a PRF, as vias que passam pela capital com mais registros de acidentes são a BR-020 e a BR-251. No ano passado, as duas somadas tiveram 546 acidentes e 69 mortes.
Só na BR-020, principal ligação entre o centro de Brasília e as regiões de Sobradinho e Planaltina, e por onde passam cerca de 80 mil veículos por dia, houve 480 acidentes, com 50 vidas perdidas, em 2022. Neste ano, os números continuam altos. Até a última atualização, foram registrados 191 acidentes e 19 pessoas mortas. As principais causas dos acidentes, segundo a corporação, são velocidade incompatível e reação tardia ou ineficiente do condutor.
A BR-251, por sua vez, acumula 27 acidentes e seis óbitos apenas neste ano. Um dos casos mais recentes foi o desastre em 8 de maio, no Km 46, próximo à entrada da área da Marinha. A colisão envolveu cinco veículos. Um casal morreu na hora e uma terceira pessoa chegou a ser socorrida pelo Corpo de Bombeiros (CBMDF), mas não resistiu.
Outra fatalidade ocorrida no mesmo mês, em 27 de maio, na BR-251 próximo ao Café Sem Troco, em São Sebastião, resultou em tragédia familiar. Joana Antunes, de 69 anos, e a filha dela, Fátima Antunes, 46, morreram após o carro, um Palio, colidir de frente com uma caminhonete.
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Imprudência
Os maus-hábitos que mais contribuem para a alta recorrência de fatalidades na rodovia, segundo a PRF, são: acessar a via sem observar a presença de outros veículos, ultrapassagem indevida e transitar na contramão. A corporação também aponta que a precariedade na iluminação e problemas na estrutura viária em alguns pontos também são fatores contribuintes para ocorrência de acidentes.
O chefe do Núcleo de Segurança Viária da PRF da Regional do DF Jonathan Nicolau também destaca a BR-040, cuja maior parte da via passa por trechos urbanos, onde são mais comuns atropelamentos e colisões envolvendo motociclistas. "Começamos, nesta quarta-feira (ontem), a operação Corpus Christi, que vai intensificar a fiscalização nas rodovias federais, como as BRs 070, 080, 020, 251, 040 e 060, nas quais teremos aumento de efetivo, verificando as condições dos veículos e a velocidade dos condutores, principalmente na BR-251. A rodovia passou por reforma recentemente, o que fez com que muitos motoristas trafeguem com a velocidade extremamente alta. A sinalização também está precária na via", aponta o policial.
O chefe de segurança aconselha aos motoristas que vão viajar a fazer a revisão do veículo, principalmente do estado dos pneus e do sistema de iluminação, além de tentar pegar as estradas fora dos horários de pico. "A PRF também aconselha a fazer ultrapassagens de forma segura, usar cinto de segurança e verificar se os passageiros também estão seguros e dirigir dentro do limite de velocidade da via", informa. No caso da BR-040, o alerta é para os pedestres, que têm de usar as passarelas ao cruzar a via. "No feriado, o risco de atropelamento é maior por conta da maior incidência de motoristas alcoolizados", alerta Jonathan Nicolau.
As estradas que dão acesso aos principais destinos dos brasilienses se encontram em bom estado, de acordo com o Nicolau. "A 060, que é bastante utilizada para quem vai para Caldas Novas (GO), é um trecho concessionado e está em boas condições. Quem vai pela 040 também pega um trecho sob responsabilidade do setor privado, mas, a partir de Luziânia (GO), o motorista pega uma rodovia estadual. O trecho da 020, que os motoristas usam com destino à Chapada dos Veadeiros e precisam pegar está excelente", informa.
DF-001
Entre as rodovias distritais, a que mais tem registro de acidentes é a DF-001. "É uma rodovia muito extensa, que contorna todo o DF, passando por vários pontos importantes, com adensamento populacional, como o Pistão Sul e o Riacho Fundo 2", explica Fauzi Nacfur Junior, presidente do Departamento de Estrada de Rodagem (DER-DF). Ele aponta que, mesmo com a obra de duplicação de parte do trajeto entre Taguatinga e Brazlândia, o trecho ainda é um ponto crítico.
A duplicação foi feita do entroncamento com a BR-070 até o local conhecido como Trevo do Texas, em uma extensão de 10km. "As principais causas de acidentes da estrada são alta velocidade, alcoolemia e o uso de celular ao volante, prática que vem aumentando muito ultimamente", alerta o presidente do DER-DF. Segundo o levantamento feito pelo Departamento de Trânsito (Detran), em 2022, a DF-001 teve 23 acidentes com morte em toda sua extensão.
Problemas
O Correio percorreu as principais rodovias do Distrito Federal para entender a situação por trás das estatísticas alarmantes. A reportagem se deparou com problemas de infraestrutura na DF- 001, onde a pista tinha desnível e trepidação. Na BR-251, há escassez de sinalização. Mesmo sendo uma via com alta recorrência de acidentes e sem iluminação noturna, a pista se encontra com poucos alertas aos motoristas.
Wilson Rodrigues, de 51 anos, mora em Sobradinho, passa constantemente pela BR-020 e presencia os diversos acidentes na via. "São frequentes, ainda mais se tratando desses engarrafamentos que ocorrem todos os dias, devido a obra. Já vi muitos acidentes, inclusive, com morte. É muito complicado para quem passa aqui todos os dias", disse o motorista.
O maior causador de acidentes na DF-001, de acordo com o morador do Lago Oeste Genival de Araújo, 50, tem sido imprudência e alta velocidade dos motoristas. "As pessoas fazem ultrapassagens arriscadas e pulam os quebra-molas, que são feitos exatamente para que haja a diminuição da velocidade", contou.
O motorista de aplicativo Manoel Scooby roda pelas vias do DF durante o dia, noite e de madrugada e já presenciou muitos acidentes ao longo da jornada de trabalho. "A BR-020 tem muitos acidentes, inclusive a maioria que presenciei foi com motos. Mas a pista com maior número de ocorrências é a BR-251, perto da Marinha, e grande parte são fatais e colisões causadas por ultrapassagens irresponsáveis", enumerou.
Artigo
Soluções Abrangentes
Adriana Modesto de Sousa, doutora em Transportes
Em sentido amplo, é importante destacar a estreita relação entre políticas habitacionais, de transportes e de circulação, pois a forma com que as referidas políticas dialogam impactará nos padrões/necessidades de deslocamentos e no cenário da sinistralidade viária. Nesse sentido, o DF é fortemente dependente do modal rodoviário, uma vez que não dispomos de trens suburbanos, veículo leve sobre trilhos (VLT) e a malha metroviária é reduzida. Como consequência, há a necessidade da promoção de deslocamentos para Brasília, por exemplo, tendo como locais de origem as adjacentes às BRs 020, 251 e DF 001, a população o fará pelo modo rodoviário.
Adicionalmente são vários os elementos que podem contribuir para a ocorrência de um sinistro de trânsito tais como: a qualidade da formação dos condutores, fatores comportamentais, a rigidez da legislação de trânsito e respectiva fiscalização, a efetividade das campanhas de conscientização quanto aos riscos inerentes ao trânsito, os limites de velocidade tolerados, a existência de pontos críticos sem a devida adequação ou correção, a carência de equipamentos/dispositivos e intervenções nas vias de modo a assegurar a integridade física e proteção à vida, sobretudo, dos segmentos de usuários do trânsito mais vulneráveis tais como pedestres e ciclistas.
No que tange às BRs 020, BR 251 é DF 001 saliento como fatores potencialmente relacionados à via: o volume de tráfego, a circulação de veículos de carga, a carência de passarelas em locais em que há o embarque e desembarque de passageiros, carência de redutores de velocidade, as condições da sinalização vertical ou mesmo sua inexistência, a qualidade do pavimento, a qualidade da iluminação ou a existência de algum tipo de obstrução visual, o trânsito de pedestres nas rodovias (zona rural), os altos limites de velocidade entre outros.
Para a melhor compreensão dos fatores que contribuíram para a ocorrência de sinistros nessas vias, é necessário o reconhecimento do cenário em toda a sua extensão e nos trechos específicos, a dinâmica de cada ocorrência, propiciando um diagnóstico mais acurado acerca de qual ou quais fatores concorreram para o desfecho e a possibilidade de identificação, elaboração e implementação de medidas preventivas adequadas e pertinentes a cada contexto.
Como medidas preventivas, existe a necessidade de investimentos no transporte sobre trilhos, sobretudo, trens suburbanos, contribuindo para a melhor qualidade de vida dos moradores do DF.
Por fim, registro a abordagem distinta entre os órgãos de trânsito e o campo da saúde uma vez que esse considera além do período dos 30 dias, adicionalmente os processos de invalidez transitória ou permanente decorrentes de um sinistro de trânsito.
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