Condenado a mais de 58 anos de prisão por crimes como tráfico de drogas, roubos, porte ilegal de arma de fogo e organização criminosa, Walter Pereira de Lima, mais conhecido como Waltinho, é apontado como um dos responsáveis por transmitir recados do Primeiro Comando da Capital (PCC) de dentro do Complexo Penitenciário da Papuda para a rua. O criminoso está detido na Penitenciária do DF 1 (PDF 1) e foi o encarregado de recrutar o próprio filho, Gabriel dos Santos Lima, para a facção paulista.
Walter é ex-integrante do Comboio do Cão (CDC), facção fundada no DF e liderada por Fabiano Sabino, vulgo FB, e Willian Peres Rodrigues, o Wilinha. Ambos estão presos em celas isoladas na Papuda. Em uma carta enviada de dentro do cárcere e endereçada a Fabiano, ele pede para que o CDC se posicione sobre um "atrito" que envolveu ele e outra pessoa na cadeia. Cita, ainda, que a vida dele está em jogo. "(...) Eu próprio que pedi minha exclusão. Você sempre deixou claro, que vocês do CDC não se envolvem nessa guerra, que são tão amigos. Quero saber como vai ficar. Te peço que você esclareça essa situação da guerra."
O manuscrito foi alvo de investigação da segunda fase da Operação Sicário, desencadeada pela 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia), na manhã desta segunda-feira (29/5), e que resultou na prisão de 11 faccionados do PCC e um do Comando Vermelho (CV). Foram cumpridos oito mandados de busca em Brazlândia, Samambaia, Riacho Fundo 1 e Monte Alto (GO). Outras sete ordens judiciais foram cumpridas na Papuda e na Penitenciária Feminina do DF. A ação envolveu ao menos 30 policiais penais.
Atuação
Walter está envolvido em uma série de crimes relacionados ao PCC. Em 2015, o grupo em que ele pertence foi responsável por, pelo menos, 22 explosões de caixas eletrônicos no DF. No mesmo ano, ele e a mulher (também integrante do PCC), conhecida como “Rapunzel”, foram detidos com um total de 39 artefatos explosivos.
Preso, Walter começou a articular formas para repassar recados para criminosos soltos. O filho Gabriel foi encarregado por ele para a missão de recrutar e batizar novos membros para a facção. Em uma das conversas colhidas pela polícia, de 2022, Gabriel chega a dizer que o pai “o colocou em uma facção”. O genitor ainda atribuiu outras ordens ao criminoso de atacar policiais e atear fogo nos ônibus da cidade. O objetivo era gerar pânico na cidade e atacar grupos rivais.
O criminoso de alta periculosidade também se envolveu na transmissão de recados ameaçadores a um delegado da PCDF e à juíza da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal (VEP), Leila Cury. No manuscrito, Walter ordenava o sequestro de um membro da família da magistrada, na tentativa de coagi-la a expedir alvarás de soltura de internos.
Guerra ao Comboio
Uma carta escrita por um integrante do PCC de dentro da Papuda revela a aversão e repulsa de membros da facção paulista contra faccionados do Comboio. O recado foi escrito por um preso lotado na PDF 1. "Estamos vivendo uma situação de abandono e opressão tanto pelo Estado e tanto por uma quadrilha que se denomina Comboio do Cão. Precisamos de atenção do PCC com urgência. Só uma facção do nosso porte para nos amparar e lutar em bando e bem armado contra ao estado no centro do poder", escreve.
O detento fala sobre o Comboio do Cão "brecar" o PCC no sistema penitenciário e "impedir" de "pregar" a ideologia da organização criminosa fundada no DF. "Disseram que vão batizar excluídos e decretados pelo PCC e que o projeto deles já foram lançados pra rua, pra nos brecar na rua também." Ainda segundo o faccionado, há 27 integrantes do PCC no pátio e 80 do CDC, o que resultaria em uma certa preocupação. "Somos minoria em todos os blocos e a maioria é sempre CDC". Por fim, o detento pede auxílio da "Sintonia do Estado", núcleo do PCC.
Operação
As investigações da segunda fase da Operação Sicário começaram há dois meses, com a prisão de Gabriel dos Santos Lima, integrante do PCC e responsável pelo recrutamento de novos faccionados em Brazlândia. À época, foram identificadas ordens de ataque à polícia e à população de Brazlândia emitidas pelo pai.
Na primeira fase da operação foram presos Gabriel e Grasielly. O aprofundamento das investigações apontou que outros faccionados atuavam em Brazlândia em duas frentes: no tráfico de drogas (PCC) e roubo, receptação e adulteração de veículos (CV).
Apurou-se que parte dos comandos que chegava aos faccionados soltos — que, no PCC, integram a chamada “sintonia da rua” — era transmitida por faccionados presos.