CRIME ORGANIZADO

Carta escrita por membro do PCC expõe guerra contra Comboio do Cão

Manuscrito foi produzido de dentro do Complexo Penitenciário da Papuda e revela guerra entre as organizações criminosas

Uma carta escrita por um integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC) de dentro do Complexo Penitenciário da Papuda revela a aversão e repulsa de membros da facção paulista contra integrantes do Comboio do Cão (CDC). O manuscrito foi alvo de investigação da segunda fase da operação Sicário, desencadeada pela 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia), que prendeu, na manhã desta segunda-feira (29/5), 11 membros do PCC e um do Comando Vermelho (CV).

O recado foi escrito por um preso lotado na Penitenciária do Distrito Federal 1 (PDF 1). O manuscrito deixa claro a disputa entre as duas facções. "Estamos vivendo uma situação de abandono e opressão tanto pelo Estado e tanto por uma quadrilha que se denomina Comboio do Cão. Precisamos de atenção do PCC com urgência. Só uma facção do nosso porte para nos amparar e lutar em bando e bem armado contra ao estado no centro do poder", escreve.

O detento fala sobre o Comboio do Cão "brecar" o PCC no sistema penitenciário e "impedir" de "pregar" a ideologia da organização criminosa fundada no DF. "Disseram que vão batizar excluídos e decretados pelo PCC e que o projeto deles já foram lançados pra rua, pra nos brecar na rua também." Ainda segundo o faccionado, há 27 integrantes do PCC no pátio e 80 do CDC, o que resultaria em uma certa preocupação. "Somos minoria em todos os blocos e a maioria é sempre CDC". Por fim, o detento pede auxílio da "Sintonia do Estado", núcleo do PCC.

Operação

A operação Sicário chegou ao encalço de 11 integrantes do PCC e um do CV. Foram cumpridos oito mandados de busca em Brazlândia, Samambaia, Riacho Fundo 1 e Monte Alto (GO). Outras sete ordens judiciais foram cumpridas na Papuda e na Penitenciária Feminina do DF. A ação envolveu ao menos 30 policiais penais.

As investigações começaram há dois meses, com a prisão de Gabriel dos Santos Lima, integrante do PCC e responsável pelo recrutamento de novos faccionados em Brazlândia. À época, foram identificadas ordens de ataque à polícia e à população de Brazlândia emitidas por Walter Pereira de Lima, também membro da facção paulista e pai de Gabriel.

Na primeira fase da operação foram presos Gabriel e Grasielly dos Santos Oliveira de Lima, vulgo Rapuzel, esposa dele. O aprofundamento das investigações apontou que outros faccionados atuavam em Brazlândia em duas frentes: no tráfico de drogas (PCC) e roubo, receptação e adulteração de veículos (CV). Apurou-se que parte dos comandos que chegava aos faccionados soltos – que, no PCC, integram a chamada “sintonia da rua” – era transmitida por faccionados presos.

Recado ao Comboio

Um outro bilhete escrito por Walter e endereçada a membros do CDC pede a facção para se posicionar sobre um "atrito" que envolveu ele e outra pessoa. Na carta, ele fala com Fabiano, o FB, e apontado como o líder da organização criminosa, sobre a vida dele estar em jogo. "(...) Eu próprio que pedi minha exclusão. Você sempre deixou claro, que vocês do CDC não se envolvem nessa guerra, que são tanto amigo. Quero saber como vai ficar. Te peço que você esclareça essa situação da guerra."

Outros recados captados mostram dois integrantes do PCC de Brasília decidindo sobre a tortura e morte de um faccionado e da esposa dele, que teriam traído a organização criminosa. Segundo as conversas, em meio à tortura, os executores deveriam dizer aos traidores que eles iriam sobreviver. A facção, no entanto, afirmou que isso garantiria a colheita de informações sensíveis antes da execução do casal. Também foi captada deliberação e decisão sobre a morte de um inimigo local da facção.

Divulgação/PCDF - Segunda fase da Operação Sicário
Divulgação/PCDF - Segunda fase da Operação Sicário