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Retirada de camelôs divide opiniões de usuários da Rodoviária do Plano Piloto

Os vendedores informais foram retirados do terminal do Plano Piloto, liberando espaço para a circulação dos passageiros, mas a medida divide opiniões dos usuários de transporte público que transitam pelo local

Quem passou por um dos pontos de maior circulação de pessoas do Distrito Federal, a Rodoviária do Plano Piloto, ontem, pôde perceber a ausência das dezenas de camelôs que costumam ocupar os espaços nas plataformas de embarque. Os comerciantes informais foram retirados pela operação executada pela Polícia Militar (PMDF) e por agentes do DF Legal, na última terça-feira.

A medida divide opiniões, principalmente após um vídeo viralizar na Internet mostrando o momento em que agentes de segurança agiram com truculência contra uma vendedora, no pavimento inferior da Rodoviária. Na gravação, é possível ver a mulher sendo empurrada por um dos policiais, que chega a apontar uma arma para ela.

 "Eu pago pensão e não sou fichado. Trabalho há mais de 15 anos aqui na rodoviária. Dependo daqui para viver, para pagar, também, o aluguel e o resto das contas. Costumo trabalhar com carrinho mas não o trouxe por causa do risco de perdê-lo", conta um dos ambulantes que se arriscou a continuar trabalhando no local, mesmo com a presença de vários policiais. "De vez em quando, eles dão uma carreira na gente, mas depois a gente volta", confessou para a reportagem o ambulante, que preferiu não se identificar. "A gente tem que estar onde tem movimento. Não adianta colocar naquele elefante branco (referindo-se ao Shopping Popular) aonde ninguém vai", conclui.

Os poucos vendedores que se arriscaram a ser pegos pela fiscalização trabalharam sob forte tensão. Quando colegas gritam alertando a aproximação de policiais e de agentes do DF Legal, eles rapidamente recolhem as mercadorias e correm para outro ponto longe da vigilância das autoridades. "Fica aqui quem tem coragem", aponta outro camelô que também não quis se identificar. "Nós só saímos daqui mortos. Eu dependo disso para viver. Por que eles não arranjam um lugar para a gente ficar?", questiona.

Entre os passageiros que circulam diariamente no terminal, as opiniões divergem. "Eu acho melhor sem eles, porque eles atrapalham a nossa circulação", diz a estudante Gabriele da Silva, 22, enquanto espera a condução na Plataforma C. O cozinheiro Yuri Porto, 22, avalia que os dois lados devem ser levados em conta. "Tudo tem um ponto bom e um ruim. O espaço fica mais livre para passar, mas fica sem opção de compras, além de tirar o trabalho deles", pondera.

Já o professor Néliton Alves, 25, é a favor da permanência dos comerciantes na Rodoviária. "Eu acho que eles têm que trabalhar. A circulação fica prejudicada, mas eu me coloco na situação deles. É o ganha-pão deles", analisa.

GDF

A Secretaria DF Legal informou ao Correio que não é a responsável por realizar a fiscalização do comércio irregular dentro da rodoviária. A fiscalização das adjacências da Rodoviária — como o calçadão entre o Conic e o Conjunto Nacional e as vias N1 e S1 — é de competência da pasta.

A Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob), responsável pela operação dentro da rodoviária, disse que o governo está atuando com o objetivo de coibir o comércio ilegal de mercadorias no local, a fim de proporcionar mais conforto e segurança para os usuários do transporte público do DF. Segundo a secretaria, a ação reúne auditores fiscais da Subsecretaria de Controle e Fiscalização (Sufisa) e do DF Legal, que estão atuando em cooperação com a Secretaria de Segurança Pública, por meio da Polícia Militar. A pasta também informou que a operação será contínua.

Sobre a assistência aos comerciantes, cuja maioria depende da atividade para sobreviver, a Secretaria de Desenvolvimento Social informou que atua no atendimento a esse público quando há demanda espontânea diretamente nas unidades socioassistenciais, seja para inclusão ou solicitação de serviços, programas, projetos ou benefícios do governo.

Truculência

A gravação do vídeo mostrando um policial agredindo uma vendedora na rodoviária motivou o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) a entrar com um pedido de investigação da abordagem dos agentes na ocasião. Para a Promotoria Militar, possíveis excessos na atuação policial devem ser sempre apurados e, havendo violações, deve ser aplicada a lei para a punição dos responsáveis.

Em nota, a PMDF informou ao Correio que atuou na fiscalização de ambulantes ilegais na área da Rodoviária do Plano Piloto em apoio ao DF Legal. Sobre o vídeo, a corporação disse que as imagens serão analisadas e todo e qualquer excesso quanto à atitude dos policiais militares será apurado. A corporação também ressaltou que não coaduna com desvios de conduta na instituição.

 

- Na tarde, muitos agentes de fiscalização estavam na Rodoviária para impedir o retorno dos ambulantes
- Plataforma C, geralmente lotada de camelôs, agora tem mais espaço para circulação