Discriminação

Casos de racismo e injúria crescem, respectivamente, 43% e 6% no DF

Delegada da Decrin, Ângela Santos destaca que o registro de ocorrência é ponto-chave para combater esses tipos de crimes. "As pessoas estão denunciando, pois há consciência e coragem", avalia. Conheça relatos de ocorrências

A série de ataques racistas sofridos recentemente pelo jogador Vinícius Júnior, do Real Madrid, trouxe à tona a discussão sobre a gravidade desse tipo de crime e os reflexos na sociedade. No Distrito Federal, segundo dados da Secretaria de Segurança Pública do DF, entre 2021 e 2022, os casos de injúria cresceram 6,36% e os de racismo de 43,7%. Em 2023, foram registrados 206 casos de injúria e 10 de racismo na capital do país. O mais recente foi registrado sábado passado, quando duas mulheres foram chamadas de "macacas" por policiais militares aposentados em Brazlândia e esse é apenas um exemplo do que pessoas negras sofrem diariamente no DF.

"A denúncia é ponto-chave para combater o racismo e a injúria racial", afirma Ângela Santos, delegada chefe da Delegacia Especial de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa, por Orientação Sexual, ou Contra a Pessoa Idosa ou com Deficiência (Decrin). "A partir do momento que é realizada a denúncia, o Estado sabe quantos casos têm acontecido, e podemos combater esse tipo de crime", frisa.

A delegada destaca que a educação e as políticas afirmativas são caminhos para conscientizar a população, a fim de diminuir os crimes de racismo. "O episódio do Vini Jr. assusta, como se o racismo fosse uma coisa extremamente fora da realidade, mas ele é real. O racismo, infelizmente, faz parte do nosso cotidiano", lamenta.

A Decrin iniciou os trabalhos há seis anos e, desde então, vem fomentando políticas públicas de conscientização para ajudar as vítimas desse crime. "As pessoas estão denunciando, pois há consciência e coragem. Elas vêm a um lugar onde são acolhidas e se sentem seguras para poder fazer o registro da ocorrência", ressalta Ângela Santos.

Preconceito

Beethoven Andrade, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB/DF, explica que a lei tem sido aprimorada e se tornando cada vez mais severa contra atos de discriminação e preconceito. "Há um número expressivo de indivíduos que resistem em aceitar negros, pretos e pardos como iguais, e se tornam resistentes às mudanças de comportamento e não querem conviver em uma sociedade igualitária", pontua.

Para o advogado, as pessoas estão cada vez mais conscientes de seus direitos e não estão tolerando mais qualquer tipo de discriminação ou preconceito. "Falar em igualdade não é apenas forçar um respeito entre as pessoas, mas buscar de modo conjunto superar todas as desigualdades, inclusive as sociais", salienta.

Acervo OAB/DF - "Há um número expressivo de indivíduos que resistem em aceitar negros, pretos e pardos como iguais" Beethoven Andrade, presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB/DF

Ao Correio, o professor de educação física Firmino Rodrigues, 47 anos, relata um episódio racista que sofreu. Segundo o educador, durante o período de eleição, no ano passado, ao declarar o seu voto em um grupo de WhatsApp, outro integrante fez uma série de ofensas relacionadas à cor da pele. "Postei a vitória do atual presidente e essa pessoa disse que um preto não poderia estar num grupo de amigos como ele", acrescenta.

O grupo em questão se tratava de uma equipe de competição de atletas masters de handebol, da qual Firmino havia participado anos atrás. O homem que proferiu as ofensas fazia parte do time. O professor de educação física expôs todo o caso nas redes sociais, mas, num primeiro momento, sentiu vergonha do ocorrido e tentou escondê-lo. "Quem sofre esses atos de injúria e racismo sabe o quanto é doloroso." desabafa. Mas Firmino denunciou o homem que emitiu falas racistas contra ele por injúria racial e segue aguardando o julgamento.

O estudante Samuel Carvalho, 22, conta que foi chamado de "macaco" em um grupo no WhatsApp, por meio de um emoji. "Lembro-me de contestar o porquê (da figurinha) e ele explicitou que era por conta da cor. A figurinha era um macaco com um balão de pensamento, com bananas dentro. É muito triste, fiquei abalado e decepcionado. Mas não é um caso isolado", afirma. Samuel destaca que casos assim são recorrentes com ele, "principalmente quando é velado", diz. O estudante não denunciou o caso à polícia.

Onde denunciar

 

Decrin

» Fone: (61) 3207-5244

» Uma das 35 delegacias no DF mais próxima da sua casa.

» Disque-denúncia: 197, opção 0

» WhatsApp: (61) 98626-1197

» Registro on-line na Delegacia Eletrônica: delegaciaeletronica.pcdf.df.gov.br

 

Colaborou Mila Ferreira

*Estagiários sob a supervisão de José Carlos Vieira