O cultivo de flores e plantas ornamentais é uma atividade do agronegócio brasileiro que, no Distrito Federal, destaca-se por apresentar o maior consumo per capita quando comparado com a média nacional, de acordo com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF). Sua cadeia produtiva movimenta, por ano, cerca de R$ 100 milhões, segundo a empresa (leia Raio-x do setor). De forma geral, a floricultura convencional teve, no ano passado, um Valor Bruto de Produção (VBP) 49% maior do que o de 2021 — passando de R$ 121,9 milhões para R$ 181,6 milhões.
Para a engenheira agrônoma da Emater Gesinilde Radel Santos, as perspectivas do mercado de flores são de crescimento, melhoria de tecnologia e ampliação de área de produção e, também, das espécies cultivadas. "Isso se deve, principalmente, às condições climáticas favoráveis que o DF apresenta e à proximidade ao mercado consumidor", aponta. "Temos uma produção bastante variada, com plantas de vaso, para jardinagem, de corte, cactos e suculentas", enumera.
Outro fator que influencia no sucesso do setor, de acordo com a engenheira agrônoma, é o uso de tecnologias na produção. "Hoje, os produtores têm acesso à tecnologias como o cultivo protegido, a irrigação e a fertirrigação (técnica de aplicar fertilizantes via água de irrigação), que são fundamentais para a ampliação da produção e a qualidade do produto", destaca. "Porém, ainda há necessidade de melhorar a aplicação das tecnologias de produção e de gerenciamento para ofertar produtos cada vez melhores e com escala de produção", pondera.
Segundo Gesinilde, a capital do país destaca-se nacionalmente por ser um grande consumidor de flores e plantas ornamentais. Mesmo assim, a engenheira da Emater afirma que a produção local, hoje, ainda é insuficiente para atender o mercado interno, especialmente no segmento de flores de corte e de vaso. "Iniciamos, timidamente, a exportação de flores do DF para outros estados, como Goiás e São Paulo, porém, em volumes bem pequenos", ressalva.
Expansão
Um dos destaques é o cultivo de orquídeas. Somente na área de produção, a flor teve um aumento de 59% na comparação entre os dois últimos anos — passando de 2,642 para 4,195 hectares. O produtor André Marques, 35, tem um viveiro no Lago Oeste, onde cultiva quatro espécies da flor, para venda. A influência veio da infância. "Comecei a cultivar orquídeas quando completei 11 anos, depois que ganhei uma dos meus pais de aniversário. Fui eu quem pedi, depois de ver uma reportagem sobre a planta", recorda.
Quando completou 22 anos, André teve o primeiro contato com o atual sócio. "Na época, ele tinha a intenção de produzir orquídeas, tendo até uma estufa. Só que ele abandonou a produção e estava 'dedicado' a deixar o estoque morrer. Foi quando passei a cuidar das orquídeas e criamos a sociedade", revela. "Atualmente, a gente produz uma grande variedade de orquídeas, focando no colecionador", acrescenta.
O empresário destaca que, no início, comprava muito de outros produtores, por não ter condições de cultivo. "A Cattleya, por exemplo, é uma espécie que demora cerca de cinco anos para ficar pronta e bonita para o comércio", observa. "Hoje, conseguimos tranquilamente. A gente cultiva a orquídea desde a semente até o produto final", detalha.
André Marques, que também é presidente da Associação de Produtores de Flores e Plantas Ornamentais do DF (Central Flores), afirma que o Distrito Federal é um grande consumidor de flores. "O que vejo é uma crescente substituição. Antes, os vendedores compravam os produtos de São Paulo e, atualmente, elas (flores) estão sendo produzidas aqui", comenta.
Por isso, ele tem boas perspectivas, levando em consideração o volume de compras na capital do país. "Acredito que o mercado está em expansão, pois o consumo está mais democrático, ou seja, chegou a mais lugares e mais pessoas estão trabalhando no ramo. Então, está cada vez mais fácil encontrar flores, de diversas variedades, em muitos lugares diferentes", comemora.
"Essa perspectiva de crescimento também está atrelada ao fato de que a produção local — que abastece o mercado interno — está aumentando. Com isso, há uma redução da entrada de produtos de outros estados", opina. Isso, segundo o presidente da Central Flores, faz com que as oportunidades também apareçam. "Dando outro exemplo pessoal, no começo, quando só produzia orquídeas, tinha apenas um funcionário. Atualmente, cinco pessoas trabalham comigo, por conta do acréscimo das suculentas", conclui.
Moda das suculentas cativa produtores
Outro grande destaque no setor de floricultura do DF são os cactos/suculentas. De 2021 para 2022, a área de produção dessas espécies cresceu 104% — indo de 3,267 para 6,653 ha (confira o infográfico). Segundo a especialista da Emater, esse mercado teve um crescimento acelerado, principalmente nos últimos cinco anos. "Muitos produtores aderiram a esse cultivo ou ampliaram sua produção de cactos e suculentas, melhorando a tecnologia e investindo em diversificação dentro desse universo", comenta.
Quem vislumbrou um novo caminho com esse nicho foi a bióloga Alexia Oliveira, 32. A moradora do Núcleo Rural Santos Dumont, em Planaltina-DF, conta que chegou a trabalhar por alguns anos em empresas privadas. "Só que nunca tive o retorno financeiro e a realização profissional desejada", relembra. "Meu pai tinha um viveiro de frutíferas e queria incluir outras variedades, foi aí que vi a oportunidade de iniciar meu negócio", conta.
A parceria foi um sucesso. "Trabalhamos juntos há cerca de seis anos, porém, com suculentas — que é meu foco e renda principal — estamos há cinco", detalha. "No primeiro ano, trabalhei com várias outras plantas ornamentais, porém, nesse período, a procura pelas suculentas aumentou e me dediquei à produção da espécie em atacado e varejo", ressalta Alexia.
A produtora e vendedora revela que foi durante a pandemia que o negócio cresceu. "Conseguimos investir em variedades e na estrutura. Foram os melhores anos para comercialização. O auge sempre foi o Dia das Mães, tanto com lembrancinhas individuais como com arranjos", aponta. "Desde que passamos a comercializar suculentas, as vendas cresceram, pelo menos, seis vezes", calcula.
A gerente comercial Reijâne Alves, 38, conheceu as suculentas há cinco anos. Desde então, tem praticamente um viveiro em casa. "Nunca tinha visto esse tipo de planta. Fui conhecendo e comprando, pois não tinha essa, não tinha aquela... Quando me dei conta, não havia mais espaço", brinca. "Estou sempre querendo mais e mais e aumentando meu espaço por causa delas", confidencia.
A moradora de Sobradinho tem motivos terapêuticos para o plantio. "Atualmente, tenho um familiar que luta contra um câncer de mama metastático. Encontrei no cultivo de suculentas um alívio para a minha dor", revela.
Ciclo econômico
Cadeia produtiva da floricultura
- Fornecedores de insumos: aluguel e venda de máquinas, equipamentos, adubos, substratos, uniformes, vasos, embalagens, sementes, mudas, artesanato, transporte, armazenagem e acondicionamento;
- Produção agrícola de: flores, folhagens, árvores, arbustos, palmeiras, forrações;
- Comércio atacadista: empresas formais e informais;
- Comércio varejista: feiras, floriculturas, viveiros e gardens;
- Serviços urbanos e rurais: operadores de máquinas e equipamentos, plantio, tratos culturais, colheita, decoradores, designers, paisagistas, promotores de eventos, funerárias, festas comemorativas; consumidores de todas as classes sociais.
Fonte: Emater-DF