No Distrito Federal, segundo a Vara da Infância e Juventude (VIJ), há 82 crianças e adolescentes cadastrados para adoção. Apesar de existirem 505 famílias habilitadas a recebê-las, isso não significa que todas terão um lar garantido. Apenas 12% das crianças têm até dois anos — idade buscada por 93% das famílias aptas a recebê-las. A adoção torna-se ainda mais difícil para meninas e meninos mais velhos — cerca de 1% das famílias aceita adotá-las se tiverem mais de 8 anos de idade — faixa etária na qual se enquadram cerca de 38% dos que esperam pela adoção.
O Correio conversou com pessoas que acolheram crianças e adolescentes ou que ainda aguardam a oportunidade. Ouviu quem foi recebido em uma família. No Distrito Federal, no entanto, essas estatísticas mostram que há um longo caminho a trilhar.
A professora Heloísa Helena, 49 anos, e o marido, Antonio Manoel, 41, esperaram por três anos para tornar realidade a felicidade de se tornarem pais. Depois de tentarem ter filhos biológicos sem sucesso, embora não haja razões médicas que expliquem a dificuldade, optaram pela adoção e comemoram a decisão tomada. "O perfil que pedimos, em princípio, era de 0 a 5 anos. Depois, mudamos para até 10 anos, podendo ser grupo de irmãos", relembra Heloísa.
Em seguida, entraram em suas vidas os irmãos Yago Moreira, 10, e Iarley Gabriel, 9. "Como eram grandes, a adaptação foi difícil, mas, hoje, está tranquilo. Eles não nasceram da minha barriga, mas entraram no meu coração", conta. Heloísa recorda a primeira vez em que foi chamada de mãe pelos meninos, atualmente com 12 e 13 anos. "Quase caí da cadeira, porque sempre quis ser mãe. O amor parece que sempre existiu e que eles sempre estiveram em nossas vidas", diz a professora.
A digital influencer Carol Wanz, 23, descobriu aos 3 anos que foi adotada ainda recém-nascida. "Nunca foi um problema para mim. Cresci acreditando que pai e mãe são aqueles que cuidam, que dão amor e suporte. Nunca me senti triste e sempre tive uma relação incrível com a minha família", contou Carol. Os pais, Ana Carla e Josias, adotaram outras duas meninas, Ana Maria e Ana Beatriz.
Expectativa
A oncologista Maria Letícia, de 50 anos, deu entrada nos papéis de adoção em junho de 2015. "De início, entrei na fila de espera para habilitação. É um treinamento para você entender o que é a adoção e só depois entrar no Cadastro Nacional de Adoção (CNA). Como quero um bebe de até 1 ano, no começo eu era a número 530 e hoje estou na posição 45", conta.
Ser mãe é um antigo desejo de Maria Letícia, que "quer viver a maternidade desde que se entende por gente". Quando chegou aos 40 anos, estava bem sucedida profissionalmente, mas sem um companheiro e sem filhos. Foi quando resolveu adotar uma criança. "Tentei muitos tratamentos que não deram certo. É muito difícil para uma mulher aceitar a sua infertilidade", confidencia. Quando estava na fila para adotar, Maria Letícia conheceu o atual marido, que, assim como ela, abraçou a ideia e tem aguardado ansiosamente para conhecer o novo bebê da família. "Depois que nos casamos fizemos tratamento juntos, mas acordamos que, mesmo que eu engravidasse, ainda assim, iríamos adotar", revela a médica.
Para ela, todos esses anos ajudaram a amadurecer ainda mais a vontade de ser mãe. "A minha expectativa é que esteja muito perto de acontecer. Já comprei presente para ele ou ela, eu e meu marido costumamos comprar livros. Compramos até uma mochila quando fomos para a Disney e mandamos reformar o quarto", diz, animada.
Espera
Para sensibilizar a sociedade sobre esse ato de amor, em 25 de maio é celebrado o Dia Nacional da Adoção. De acordo com a VIJ, o tempo para que o processo se concretize depende do perfil da criança e do adolescente que a pessoa define no processo de habilitação. Quem deseja adotar bebê ou criança de até 5 anos, saudável e sem irmãos, terá de aguardar por tempo indeterminado. Os motivos são que a maioria dos interessados escolhe esse perfil, crianças com essas características são em menor número e não permanecem cadastradas para adoção por longo período.
Por outro lado, quem tem motivação e disponibilidade afetiva para acolher crianças acima de 6 anos ou adolescentes, menores com deficiência ou problemas de saúde, ou ainda grupos de irmãos, pode iniciar o processo após o deferimento da habilitação do candidato. É respeitada a ordem de classificação no Sistema Nacional de Adoção (SNA), porém, crianças e adolescentes com esse perfil já podem ser adotadas.
A psicóloga especialista em adoção Penha Oliveira atua há 20 anos com famílias e crianças que passam pela trajetória da adoção. A experiência de Penha mostra que, na maioria dos casos, recorrem à adoção casais homoafetivos, quem tem problemas de infertilidade e pessoas sozinhas que querem ser pais, mas não têm um parceiro em vista.
Maioridade
A Supervisora da Seção de Fiscalização, Orientação e Acompanhamento de Entidades, da VIJ, Vânia Sibylla, fala sobre o que acontece quando quem vive em lar adotivo (temporário) ou abrigo completa 18 anos. "As crianças e os adolescentes acolhidos, em sua maioria, têm famílias biológicas. A equipe multidisciplinar das instituições de acolhimento é responsável por acompanhá-los, seja para a reintegração familiar, seja para a adoção, quando o retorno à família de origem não é possível, ou até atingirem a maioridade, aos 18 anos", explica.
Conforme Vânia, com esse acompanhamento, os jovens acolhidos podem ser encaminhados para o primeiro emprego e cursos profissionalizantes, entre outras opções que os levem a estarem mais autônomos. A supervisora ressalva, porém, que nem todos têm essas alternativas de imediato. Assim, por algum tempo, as próprias instituições mantêm esses jovens até estarem mais seguros para seguir com independência. Outros podem ainda voltar para as própria famílias biológicas.
Acolhimento
De acordo com a Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), há no DF a República para Jovens Egressos do Acolhimento, ou seja, que completaram 18 anos, que funciona no Guará 2. Outra será implementada em breve, segundo a pasta. Os endereços não são divulgados, por questões de segurança.