Um relatório da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) mostra que um empresário do ramo de piscinas do país desembolsou R$ 10 mil para ajudar na contratação de um trio elétrico, em dezembro do ano passado, às véspera dos ataques à sede da Polícia Federal, em Brasília.
Filipe Sisson, CEO da empresa iGUi, contribuiu em um contrato com o proprietário de trio elétrico, considerado o maior de Brasília. O carro de som, chamado de “Coyote”, seria colocado em frente ao Congresso Nacional nos dias 10 e 11 de dezembro, ao custo de R$ 20 mil — metade bancado pelo empresário. Quem intermediou a negociação foi um homem conhecido como "Mauro Brasil", que desembolsou R$ 4 mil em dinheiro vivo — o restante do valor foi bancado por outros bolsonaristas, em pagamentos por Pix.
"Esse valor foi pago da seguinte forma: R$ 4 mil em espécie de Mauro Brasil e o restante em Pix de diversas pessoas. Fez constar que todas as pessoas que contrataram sua empresa nas situações acima mencionadas estavam ou frequentavam o acampamento do Quartel-General do Exército", cita trecho do depoimento do proprietário do trio, identificado como Rubens.
Os documentos, levantados pela PCDF sobre o extrato da conta bancária do trio e cedidos à Câmara Legislativa (CLDF), foram obtidos após o depoimento do proprietário do trio elétrico. Segundo o proprietário, o empresário Adauto Lúcio Mesquita, que prestou depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no início desse mês, intermediou a contratação do trio para manifestações nos dias 2, 5 e 6 de novembro. O proprietário do trio cobrava R$ 10 mil a diária.
O Correio tenta contato com Sisson, mas até o fechamento desta matéria não obteve retorno.
Trio elétrico
Após a contratação do trio, intermediado por Adauto, Rubens esclareceu que o "Coyote" foi alugado por várias ocasiões para os manifestantes. Em duas ocasiões, nos dias 13 e 15 novembro, os contratantes seriam pessoas identificadas como "Linaldo, Major, Priscila e Daniel".
Para a polícia, Priscila é a mulher identificada como Ana Priscila Azevedo, presa pela Polícia Federal em 10 de janeiro, suspeita de ser a organizadora dos atos terroristas em Brasília. O "Major" é o major da reserva da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) Cláudio Mendes dos Santos. Ele foi preso pela PF em 23 de março, considerado como um dos locutores oficiais do movimento golpista.
Segundo a corporação, Cláudio é suspeito de atuar na incitação de atos antidemocráticos, em frente do Quartel General do Exército, no Setor Militar Urbano (SMU). "As investigações apontam ainda que o preso teria ensinado táticas de guerrilha para os participantes do acampamento situado no QG do Exército, em Brasília", detalhou a corporação.
Além disso, de acordo com a corporação, "os fatos investigados constituem, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido."