O ex-comandante-geral da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), Fábio Augusto Vieira, revelou que, durante os ataques aos prédios dos Três Poderes, no 8 de janeiro, assegurou que exoneraria o comandante da cavalaria da PMDF após o fim do confronto com bolsonaristas. O oficial, no entanto, descobriu, apenas quando estava preso, que a cavalaria não havia sido acionada nos ataques.
O comandante da cavalaria era o tenente-coronel Genilson Figueiredo de Oliveira. Vieira revelou que encontrou Oliveira na Praça dos Três Poderes e quase prendeu o comandante pela falta de combate da tropa dele. “O comandante é uma pessoa que eu conheço há mais de 20 anos. Quando o encontrei, eu não o prendi, mas disse para ele se preparar porque ele seria exonerado porque, na minha época de cavalaria, eu jamais deixaria aquilo ocorrer”, disse.
Após ter sido decretada a prisão do oficial pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, Oliveira ficou preso no Regimento de Polícia Montada, em Taguatinga, comandando por Oliveira. Lá, o comandante explicou ao ex-comandante-geral da PMDF que cavalaria não foi acionada nos atos de 8 de janeiro.
“Nos atos, ele ficou calado porque estava atuando. Eu tomei conhecimento depois, pelo destino, ele me falou que a cavalaria não havia sido acionada. Sendo que havia passado, e eu havia enfatizado, de que as unidades especializadas eram para serem empregadas”, disse o oficial, aos distritais.
Durante os atos, um policial militar da cavalaria foi derrubado e agredido por bolsonaristas. O cavalo que levava o soldado também foi espancado pelos manifestantes que pediam golpe.
DOP era responsável
O ex-comandante-geral da PMDF revelou que só soube que não havia planejamento operacional sobre os atos do 8 de janeiro após relatório da intervenção, quando deixou a prisão. Segundo o oficial, conforme disse em depoimento à CPI dos Atos Antidemocráticos, o planejamento é de responsabilidade do Departamento de Operações (DOP).
Enquanto ocupava o cargo de comandante-geral, Vieira foi avisado pelos seus militares, nos dias anteriores, que todas as providências para os atos de 8 de janeiro com o efetivo “era suficiente”. “Conversei com o coronel Paulo José no sábado para aumentar o efetivo. O que eu detectei no dia lá (8 de janeiro), de manhã havia um efetivo mais suficiente. Até às 11h da manhã, o acampamento não sabia que ia descer (para a Esplanada)”, disse o coronel.
Quem comandava o DOP era o coronel Jorge Eduardo Naime, mas o oficial estava de folga, dando lugar ao tenente-coronel Paulo José. Questionado pelo presidente da CPI Chico Vigilante (PT) se acha normal o planejamento não ter sido realizado pelo DOP, Vieira opinou achar estranho. “Esse documento (o planejamento operacional), além da distribuição do efetivo, detalha exatamente como a operação será executada. Por exemplo, traz conceito da operação; a distribuição do efetivo no terreno de operação. Segundo informações do interventor, esse plano não foi elaborado”, disse.