Instalada em 18 de janeiro, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, da Câmara Legislativa (CLDF), investiga os envolvidos nos atentados do 12 de dezembro de 2022 — quando criminosos tentaram invadir a sede da Polícia Federal e incendiaram veículos — e 8 de janeiro, com a invasão e vandalismo das sedes dos Três Poderes, em Brasília. Em quase quatro meses de atuação, a CPI ouviu nove depoentes, entre eles empresários e militares. E com base nos dados produzidos pela ferramenta Pinpoint, do Google, o Correio listou quais foram as pessoas mais citadas nas sessões parlamentares.
Tirando os deputados distritais que compõem a Comissão, a pessoa mais citada nas atas é o ex-secretário de Segurança Pública do DF Anderson Torres, que foi preso em 14 de janeiro e é investigado por omissão e conivência nos atos golpistas de 8 de janeiro. Torres, que também foi ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, chegou a ser convocado em março, mas não compareceu à CPI.
Nesta quinta-feira (11/5), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, revogou a prisão preventiva de Torres. Agora, ele deverá cumprir medidas cautelares, como fazer uso de tornozeleira eletrônica enquanto aguarda o processo.
O nome do ex-secretário é citado 37 vezes nos documentos da Comissão. Há dois requerimentos para a convocação de Anderson Torres e um para a alteração da data (de 16 para 23 de março). Além disso, ele é citado em uma ementa, de autoria do deputado Fábio Félix (PSol), que solicitava a agenda de compromissos de Torres entre os dias 1º a 8 de janeiro, assim como a lista de visitantes da Secretaria de Segurança Pública do DF no mesmo período.
Em 2 de março, o ex-secretário é citado em notas taquigráficas da oitiva do ex-secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública Fernando de Souza Oliveira, que foi questionado pelo deputado Chico Vigilante, presidente da Comissão, sobre a troca de cargos na pasta. "Anderson Torres lhe disse o motivo de realizar a troca de ocupantes de cargos estratégicos da Secretaria de Segurança Pública assim que tomou posse? Pois muitos daqueles foram exonerados, trabalharam com ele quando passou pela secretaria, no mandato anterior. Inclusive, alguns deles foram nomeados por ele", indagou o parlamentar. Fernando, por sua vez, disse que não teve esse tipo de conversa com o ex-secretário.
Em 30 de março, Anderson Torres foi citado em termo de depoimento do coronel da PMDF Jorge Henrique da Silva Pinto. O militar afirmou que o ex-secretário não fez nenhuma reunião com os coordenadores da Subsecretaria de Inteligência antes do dia 8 de janeiro. O nome dele também aparece em um requerimento administrativo para a a quebra do sigilo bancário, fiscal, telefônico e telemático.
Lula
Outro nome bastante citado é do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Das 24 citações, 13 delas vem da alteração que o presidente da CPI, o deputado Chico Vigilante, fez no nome parlamentar. Em 2018, ele incorporou o "Lula da Silva" como forma de demonstrar apoio quando o petista foi preso. O nome do presidente da República também é citado quando os parlamentares questionaram o delegado e ex-secretário Júlio Danilo Souza Ferreira e o coronel Jorge Henrique da Silva Pinto acerca dos planejamentos de segurança para as cerimônias de diplomação (12 de dezembro) e da posse de Lula.
Marília Ferreira Alencar, ex-secretária de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública, foi citada 20 vezes. Entre as menções estão a convocação para depor na CPI e as notas taquigráficas da oitiva. Há também um requerimento administrativo para a reconvocação da delegada, datado do dia 10 de março e feito pelo deputado Fábio Félix. No primeiro depoimento, Marília negou haver falhas de inteligência para prever os atos antidemocráticos do dia 8 de janeiro. "Há, no entanto, elementos concretos que evidenciam tanto em relação à participação da senhora Marília em ato público e manifestações em redes sociais de apoio ao então presidente Jair Bolsonaro, quanto ao uso do cargo que ocupava no MJ para favorecer a reeleição do então presidente", afirmou Fábio Félix no requerimento.
Em seguida, aparecem os nomes do coronel Jorge Henrique da Silva Pinto, do ex-secretário Fernando de Souza Oliveira e do general Gustavo Henrique Dutra de Menezes. O nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) vem logo após, com 17 citações que constam em oitivas de alguns depoentes, entre eles a do empresário Joveci Xavier de Andrade, suspeito de financiar os atos golpistas. Em depoimento, Joveci disse que não participou de manifestações contra a democracia e também negou ter financiado a campanha de Bolsonaro.
Por fim, o nome do coronel e ex-comandante de Operações da PMDF Jorge Naime é citado 16 vezes. Em depoimento à CPI, ele disse que o Exército protegeu os acampados em frente ao QG após a invasão das sedes dos Três Poderes. “Linha de choque montada com blindados e, por mais interessante que parecesse, eles não estavam voltados para o acampamento. Eles estavam voltados para a PM, protegendo o acampamento”, relatou. Depois, vem o nome do ministro do STF Alexandre de Moraes, que é relator do inquérito que investiga a responsabilidade de autoridades nos atos antidemocráticos.
Confira os 20 nomes mais citados (incluindo os deputados):
- Chico Vigilante (deputado distrital e presidente da CPI)
- Daniel de Castro Souza (deputado distrital)
- Fábio Félix (deputado distrital)
- Joaquim Roriz Neto (deputado distrital)
- Anderson Torres (ex-secretário de Segurança Pública)
- Sarah Vasconcelos (secretária da CPI)
- João Hermeto de Oliveira Neto (relator da CPI e deputado distrital)
- Gabriel Magno Pereira Cruz (deputado distrital)
- Paula Belmonte (deputada distrital)
- Jaqueline Silva (deputada distrital)
- Lula (presidente da República)
- Robério Negreiros (deputado distrital)
- Marília Alencar (ex-subsecretária de Inteligência)
- Jorge Pinto (tentente-coronel da PMDF e ex-coordenador de Assuntos Institucionais da Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública)
- Fernando Oliveira (ex-secretário-executivo da Secretaria de Segurança Pública)
- Gustavo Henrique Dutra de Menezes (general e ex-chefe do Comando Militar do Planalto)
- Jair Bolsonaro (ex-presidente da República)
- Joaquim Domingos Roriz Neto (deputado distrital)
- Jorge Naime (coronel e ex-comandante de Operações da PMDF)
- Alexandre de Moraes (ministro do STF)
A produção desta reportagem usou recursos da ferramenta Pinpoint, do Google. Confira a coleção de arquivos analisados.