O tempo frio e seco — que ocorre entre maio e setembro — começou a dar as caras no Distrito Federal e, com ele, dias com temperaturas e umidade relativa do ar mais baixas aguardam os moradores da capital do país. É justamente durante esse período, de acordo com o pneumologista Thiago Fuscaldi, que as doenças ligadas às vias aéreas começam a ganhar destaque. "Temos um aumento na incidência de rinites e sinusites, por exemplo. Além disso, pacientes com doenças crônicas, como asma e bronquite, podem apresentar maiores sintomas", alerta.
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O médico ressalta que isso acontece, nessa época, porque costuma ter mais poeira e bactérias misturadas ao ar que respiramos. "Para quem tem alguma doença crônica, é importante manter o uso dos medicamentos regulares, além de se hidratar bastante para que as mucosas fiquem mais protegidas. Lavar o nariz com soro também é bom", aconselha.
Mas não é só a respiração que é afetada por conta do frio e da seca. Segundo o cardiologista Ricardo Teixeira Leal, outro problema está relacionado à pressão arterial. "Quando a temperatura baixa muito, o nosso corpo tem mecanismos próprios para nos manter entre os 35,5ºC e 36,5ºC, independente da temperatura externa", explica. "Isso, às vezes, ocorre com o fechamento das artérias periféricas. É por isso que, de vez em quando, as pontas dos dedos ficam roxas e duras. Porém, esse mecanismo, desencadeia no aumento da pressão, podendo levar a possíveis quadros de infarto e acidente vascular cerebral (AVC)", acrescenta o cardiologista.
A pele é um dos órgãos que mais sofrem. A dermatologista Ludmilla Tolentino afirma que o tempo frio e seco pode provocar ou agravar doenças existentes, causar ressecamento cutâneo e coceira crônica. "As doenças de pele mais comuns nesse período são a dermatite seborreica, psoríase, rosácea, eczemas, dermatite atópica, além do ressecamento dos pés e extremidades do corpo", detalha a especialista. "Em casos de aparecimento de sintomas cutâneos ou agravamentos de doenças pré-existentes, é necessário procurar um dermatologista", alerta.
Etiqueta respiratória
Ao Correio, a secretária de Saúde do DF, Lucilene Florêncio, disse que o mais importante para a população é retomar a questão da etiqueta respiratória. "O uso do álcool em gel, lavar as mãos e utilizar máscaras em ambientes fechados, caso esteja sintomático, são medidas que adquirimos durante a pandemia e que podem ser lançadas a todo momento, sempre que houver necessidade", lembrou. De acordo com a gestora, a intenção da pasta é intensificar a parceria com as regionais de saúde, além de reforçar e contar com o apoio da Secretaria de Comunicação, a fim de melhorar a cobertura vacinal.
Também é preciso conscientizar a população a procurar o local adequado para o atendimento. "Se estiver com coriza, febril ou com qualquer outro sintoma mais leve, procure uma UBS. O profissional que ali estiver vai fazer o acolhimento. Isso é importante para deixar os hospitais para os casos de maior gravidade. Esse ordenamento da 'porta correta' precisa chegar até o usuário", ressaltou Lucilene Florêncio.
Vegetação
Problemas com o período da seca não alcançam apenas os seres humanos. É nessa época que costumam ocorrer, com maior frequência, as queimadas na capital do país. De acordo com dados da Operação Verde Vivo (leia Para saber mais) do Corpo de Bombeiros (CBMDF), a comparação da quantidade de ocorrências entre o período chuvoso, que foi de outubro de 2021 a abril de 2022 (1.206) e a última seca — ocorrida entre maio e setembro do ano passado (7.767) —, mostra aumento de 544% nos números de incêndios florestais.
Biólogo e professor do Centro Universitário de Brasília (Ceub), Stefano Aires explica que, durante a seca, a maioria dos incêndios são causados pelo homem — sejam acidentais ou intencionais. "Temos uma maior disponibilidade de combustível seco, que está bastante acumulado e propenso ao fogo. Além disso, nesse período, a população aproveita para queimar lixo e limpar pasto, ações que têm maior risco de gerar incêndio", esclarece.
Com isso, segundo o especialista, a vida selvagem é afetada. "Esses incêndios acabam desabrigando animais silvestres e, além disso, temos um alto índice de mortalidade de vegetação. Embora o cerrado se restabeleça rapidamente, a gente acaba perdendo algumas espécies", confirma. "O importante para evitar isso é não queimar lixo, de forma alguma, e não descartar material inflamável ou que possa gerar risco de incêndio", comenta Aires.
Abastecimento hídrico
Outra grande preocupação no Distrito Federal durante a seca fica por conta dos reservatórios que abastecem a capital. De acordo com Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa-DF), no último período de estiagem, os reservatórios do Descoberto e Santa Maria atingiram 41% e 67% de volume útil, respectivamente. Ainda segundo a agência reguladora, atualmente, os níveis estão 100% para o primeiro e 82,6% para o último.
Em nota, a Adasa disse que os dois reservatórios operam de forma integrada no sistema de distribuição de água do DF e que tem feito campanhas de conscientização da população para uso racional e reuso da água.
"Embora os volumes úteis estejam dentro das projeções, é importante que todas as instituições, órgãos de governo, setores produtivos e sobretudo a população mantenham postura responsável com relação ao uso da água", ressaltou o texto.