Em 2023, a apreensão de maconha na capital federal já superou em três vezes, até maio, o número total registrado no ano passado. O crescimento reflete o trabalho de enfrentamento ao narcotráfico no Distrito Federal. Dados da Coordenação de Repressão às Drogas da Polícia Civil (Cord/PCDF) revelam o combate à comercialização ilegal, em grande quantidade, dos três tipos de drogas mais usadas. Além da maconha, há a cocaína e o crack.
Produto com maior acessibilidade, a maconha lidera o ranking de apreensões realizadas e coloca este período em posição superior a 2022 inteiro. Desde o início do ano até maio, foram apreendidas mais de sete toneladas da droga, na área central de Brasília e em outras regiões administrativas, enquanto que, em todo o ano passado, foram 2,2 toneladas. Depois da maconha, a cocaína aparece em segundo lugar com o maior número de apreensões, com 36kg. Em todo o ano de 2022, o total foi de 138kg e, em 2021, 72kg. O crack é a terceira droga mais apreendida no DF: foram 143kg nos primeiros meses deste ano, 106kg em todo o ano passado e 29kg em 2021.
Poder aquisitivo
De acordo com especialistas, o grande volume de drogas apreendidas pode estar relacionado ao fato de o Distrito Federal estar localizado na região central do país, sendo ponto estratégico para o escoamento dessa mercadoria para outras partes do país e do mundo, principalmente por termos um aeroporto internacional e toda uma logística que facilita a entrada das redes altamente articuladas do tráfico de drogas no DF.
Outro fator importante para a ação bem-sucedida dos traficantes é o alto poder aquisitivo de Brasília, um dos maiores do país. De acordo com Welliton Caixeta Maciel, especialista em segurança pública e professor de Teoria Geral do Direito Penal e Antropologia do Direito da Universidade de Brasília (UnB), a capital tem público consumidor para o tráfico de drogas por causa do elevado padrão de vida da sociedade brasiliense. "O mercado ilícito é classificado como marcador social. A cidade com maior rentabilidade fica muito visada pelas organizações e pelas grandes facções", destaca.
Sobre a maconha, por exemplo, o especialista destaca que esse produto alcança um estrato social da população com perfil de alta renda, mas também na camada mais baixa. "Essa é uma droga que tem cliente certo. Ela tem uma penetrabilidade maior porque é mais popularizada em termos de classes sociais e também de faixa etária. É socialmente mais consumida. Além disso, tem valor mais atrativo. Ela possibilita outras misturas na preparação do produto, o que proporciona um valor menor na hora da venda", disse.
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Enfrentamento
Segundo a Cord/PCDF, o crescimento é resultado de um trabalho de inteligência que vem monitorando quadrilhas organizadas e especializadas nessa modalidade criminosa. De acordo com o delegado Rogério Henrique Oliveira, coordenador da divisão, a maior parte d droga apreendida no DF tem origem em Mato Grosso e em Mato Grosso do Sul e é distribuída pelo país. Ele explica que o produto chega em Goiás, onde boa parte delas é distribuída nas regiões do Entorno e entram com certa facilidade no Distrito Federal. "É difícil mapear o destino final da droga. A parada final, para os agentes, é quando ela é apreendida", destaca. Em algumas ocasiões, porém, a polícia consegue saber para onde estão levando esse tipo de mercadoria — em uma das últimas apreensões realizadas pela Cord, por exemplo, a mercadoria de 2kg de cocaína tinha como destino Tocantins. Em outra abordagem, com o apoio da Polícia Rodoviária Federal, o destino era Salvador, com 15kg de maconha.
O investigador endossa que a capital do país tem mercado atrativo e aquecido pelo potencial econômico da cidade, que favorece a maior venda dos entorpecentes, em especial da maconha. "Brasília possui vários bairros com alta concentração de renda, o que proporciona tranquilidade aos criminosos, por causa da qualidade de vida que oferece, do padrão social que temos e, principalmente, pela capilaridade da clientela", destaca.
O delegado Rogério Henrique Oliveira destaca que a batalha contra o narcotráfico local é realizada por meio de atividades de inteligência, em que, identificadas as quadrilhas, a PCDF ataca o patrimônio desses criminosos. De acordo com o chefe de polícia, é preciso fazer uma "asfixia patrimonial", porque as forças de segurança não conseguem quebrar esses grupos sem que haja o sequestro de bens para inibir a lavagem de dinheiro. "A busca pelo patrimônio é a forma mais rápida para coibir o tráfico de drogas. Só as apreensões não são suficientes para um enfrentamento técnico. E esse volume apreendido deixa a Polícia Civil em alerta para realizar mais operações contra esse mercado no Distrito Federal", finaliza.