A data que marca o Dia do Trabalhador — ou do Trabalho — foi comemorada em diversas regiões do Distrito Federal com programação diversificada, atrações musicais do samba ao rock, sertanejo e dança, além de atividades cidadãs, como a realizada no Zoológico de Brasília, durante todo o dia de ontem.
Criada após a tragédia que ceifou a vida de operários em Chicago (EUA), em meados do Século 19, a data celebra o proletariado e suas conquistas, como a direitos como férias, 13º salário, descanso semanal e redução da carga horária de 16 horas para 8 horas.
Cerca de 1 mil pessoas se reuniram no estacionamento da Administração Regional de Sobradinho para curtir o dia ensolarado. Em um ambiente com pula-pula, venda de roupas e música, famílias como a do professor Michael Mello, 35 anos, aproveitaram o dia fora do batente para se divertir, acompanhado dos filhos Aleff Gabriel, de 9 meses, e Ingrid Sofia, de 2 anos. "Vale a pena a gente sempre estar aproveitando este momento em família porque todo o trabalho é digno e merecemos nosso descanso", destaca o docente, enquanto no palco colorido por grafites se apresentava a banda de rock Ciméria.
De acordo com o último levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa e Estatística do Distrito Federal (IPE-DF), em parceria com o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), no segundo semestre de 2022 16,9% das mulheres economicamente ativas estavam desempregadas. Homens eram 13%.
O administrador de Sobradinho 2, Diego Matos, cita que deu oportunidade para mais mulheres artesãs e artistas do que homens na programação para reduzir tal desigualdade. O evento contou com a "Feira Delas", feita para artesãs que buscam espaço na cidade. "Entre os comerciantes, a maioria são mulheres, além das apresentações culturais feitas por ciganas. A gente convive com outros problemas como as mães solo. Então, temos esse olhar diferenciado para o público feminino."
CUT-DF
A busca por uma oportunidade também depende do esforço do próprio artista independente, um trabalhador pelo reconhecimento popular. De segunda a quinta-feira, Anderson Natanael, 28, é o MC Docinho, que faz rimas no Setor O e em Ceilândia Centro, locais onde vende brigadeiros e trufas a R$ 2,50 cada. O objetivo do jovem é pagar a faculdade particular de pedagogia, curso no qual está no sexto semestre. "É muito importante buscar minha capacitação porque eu tendo a oportunidade de vender as minhas trufas é mais um motivo para eu não me envolver com a criminalidade", explica.
Anderson, que estava na celebração organizada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT-DF), na Praça da Feira Central de Ceilândia, cita que o feriado é essencial para o jovem, que vê na data um marco dos direitos adquiridos pela força sindical. "Esse dia nos faz relembrar que tudo teve uma luta para termos direitos sociais, como 13º, salário mínimo. Todo dia é Dia do Trabalhador, porque é quem levanta essa sociedade e faz as coisas funcionarem", exemplifica o servidor público federal.
Para os trabalhadores terem uma rotina sem preocupações com recebimento do salário e garantia dos direitos, a luta sindical e exigência por melhores condições de emprego e vida é essencial. É o que avalia Eduardo Mariano, 65, diretor do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Federal no Distrito Federal (Sindsep-DF).
"Nós temos estabilidade no emprego, mas a maioria das categorias não tem essa conquista. Muitos trabalhadores, no momento de crise, ficam sujeitos à demissão e ao desemprego. Por isso que eles têm que estar em constante luta para manter as conquistas do período de luta", opina o morador de Águas Claras.
Quando se trata de mulheres economicamente ativas, no segundo semestre de 2021 para o mesmo período de 2022, o número caiu de 862 mil para 848 mil, o que representa diminuição de 1,6%, segundo o Instituto de Pesquisa e Estatística do DF. "A maioria das mulheres são pessoas provedoras do lar e precisam do trabalho para dar sustento à família. E atualmente existem muitas nessa condição. Então, elas têm que ter trabalho e direitos que os homens também têm", cobra a professora aposentada Mônica Kokay, 60.
A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) esteve presente no evento da CUT-DF em Ceilândia e defendeu jornadas justas para todos os trabalhadores. "O Dia do Trabalhador é um dia de luta. Um dia para lembrar que os trabalhadores têm direito a uma jornada de trabalho que permita que ele viva outras experiências humanas. Lembramos a importância de termos no Brasil um avanço das conquistas dos trabalhadores. Precisamos revogar os retrocessos que foram impostos à classe trabalhadora nos últimos anos. Estamos comemorando o aumento real do salário mínimo, a ampliação da faixa de isenção do imposto de renda. Quem constrói esse país é a classe trabalhadora", comentou a parlamentar.
A parlamentar destacou, ainda , a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho. "Essa desigualdade é decorrente de um país sexista, patriarcal e patrimonialista. Na luta das centrais das classes trabalhadores tem a luta por equidade de gênero. Não podemos mais seguir com essas lutas sem fazer recortes de gênero e raciais. As mulheres negras têm uma renda menor ainda, e compõem um número maior de desempregadas. Não podemos esquecer que a falta de dignidade no trabalho atinge mais as mulheres e a população negra", afirmou a deputada.
Zoo
No Zoológico de Brasília, pais e filhos aproveitaram o feriado para curtir uma programação diferenciada. Além dos animais, considerados sempre atração no Zoo, o público se divertiu com atividades recreativas. Moradora de Ceilândia, a professora Danielle Estrela, 40, levou os filhos Mariana, 8, e Heitor, 10, que pintaram os rostos e brincaram com ar livre. "Antes de virmos para cá, fomos em um evento dos trabalhadores, pedindo nossos direitos. Onde moramos, não tem tantos eventos. Para mim e para eles, é primordial ter um evento como esses. Adoramos a natureza, e estar ao lado deles é muito bacana", disse.
Já no Parque da Cidade, o feriado levou muitos brasilienses para correr, que presenciaram o pôr-do-sol único de Brasília.
Punk Rock
Também em Ceilândia, a Casa do Cantador recebeu, pelo segundo ano consecutivo, a Gig Hardcore/Punk, evento só com bandas do gênero. Participaram as bandas Galinha Preta, Os Maltrapilhos, Terror Revolucionário, Crushed Bones e Desonra.
Organizador do evento e vocalista da banda Os Maltrapilhos, Marcio Vinicius Santos lembra que faz muito bem a Ceilândia receber shows com uma "pegada" diferente. "A gente sabe que a cidade é adepta do forró, além de rap e samba. Então, pra gente é prazeroso levar o punk rock e o hardcore para o público."