Violência /

De dentro do cárcere, PCC controla tráfico, ordena mortes e batiza membros

Onze criminosos foram alvos de uma megaoperação da Polícia Civil contra integrantes da facção paulista e um do Comando Vermelho. Agentes encontram bilhete que tramava contra família de juíza

Darcianne Diogo
postado em 30/05/2023 06:00
 (crédito: Divulgação/PCDF)
(crédito: Divulgação/PCDF)

Transmissão de recados, imposição de ordens e cooptação de novos membros. Das cadeias do Distrito Federal, o Primeiro Comando da Capital (PCC) chefiava a prática de tráfico de drogas e roubos e ordenava homicídios de rivais e planejando sequestro de familiares de autoridades. Uma megaoperação desencadeada, ontem, pela 18ª Delegacia de Polícia (Brazlândia) trouxe à tona a atuação da facção paulista no Distrito Federal e resultou na prisão de 11 integrantes da cúpula do PCC e de um do Comando Vermelho (CV).

As prisões fazem parte da segunda fase da operação Sicário. A primeira foi desencadeada em março e levou à cadeia Gabriel dos Santos Lima e Grasielly dos Santos. Gabriel é filho de Walter Pereira de Lima, atualmente preso na Penitenciária do DF 1 (PDF1), onde cumpre mais de 58 anos de pena por diversos crimes, entre eles organização criminosa, roubos, tráfico de drogas e porte ilegal de arma de fogo. Grasielly é casada com Walter.

Teria sido de Walter a ideia de recrutar o filho para o PCC, que, por sua vez, foi encarregado de aliciar e batizar novos membros para a facção. O pai ainda atribuiu outras ordens ao criminoso de atacar policiais e atear fogo nos ônibus da cidade. O objetivo era gerar pânico na cidade e atacar grupos rivais.

Todas essas ordens eram transmitidas pela mulher de Walter e também integrante do PCC. A polícia apurou que ela era responsável por passar os recados e demandas dos membros da facção detidos na Papuda para a "Sintonia Final" — da alta cúpula — da facção em São Paulo. Em um dos recados repassados ao filho, Walter orientava o filho a andar com "gente grande" e vender drogas em alta quantidade.

Walter Pereira era responsável por transmitir recados ao filho de dentro da cadeia
Walter Pereira era responsável por transmitir recados ao filho de dentro da cadeia (foto: Material cedido ao Correio)

Walter também se envolveu na transmissão de recados ameaçadores a um delegado da PCDF e à juíza da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal (VEP), Leila Cury. No manuscrito, ele ordenava o sequestro de um familiar da magistrada, na tentativa de coagi-la a expedir alvarás de soltura de internos.

"A investigação contou com o apoio da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária/Seape, Polícias Penais do Distrito Federal e do Estado de Goiás, além da Vara de Execuções Penais. O enfrentamento às organizações criminosas exigiu o cumprimento de busca em celas, análise de teor de bilhetes compartilhados entre custodiados e a inclusão de lideranças negativas no regime disciplinar diferenciado", afirmou o delegado-chefe da 18ª DP, Fernando Cocito.

Guerra

Uma carta escrita por um membro do PCC, de dentro da Papuda, revela a aversão e a repulsa de membros da facção paulista contra integrantes do Comboio do Cão (CDC). O manuscrito também foi alvo da investigação de ontem.

O recado foi produzido por um preso lotado na PDF 1. "Estamos vivendo uma situação de abandono e opressão tanto pelo Estado e tanto por uma quadrilha que se denomina Comboio do Cão (SIC). Precisamos de atenção do PCC com urgência. Só uma facção do nosso porte para nos amparar e lutar em bando e bem armado contra ao Estado no centro do poder", escreve.

O detento fala sobre o Comboio do Cão "brecar" o PCC no sistema penitenciário e "impedir" de "pregar" a ideologia da organização criminosa fundada no DF. "Disseram que vão batizar excluídos e decretados pelo PCC e que o projeto deles já foram lançados pra rua, pra nos brecar na rua também." Ainda segundo o faccionado, há 27 integrantes do PCC no pátio e 80 do CDC, o que resultaria em uma certa preocupação. "Somos minoria em todos os blocos e a maioria é sempre CDC."

Outros recados captados pela polícia mostram a mulher de Walter e outro faccionado decidindo sobre a tortura e morte de um criminoso e da esposa, que teriam traído a organização criminosa. Segundo as conversas, em meio à tortura, os executores deveriam dizer aos traidores que eles iriam sobreviver. A facção, no entanto, afirmou que isso garantiria a coleta de informações sensíveis antes da execução do casal.

Conforme revelaram as investigações, os faccionados do PCC exigiram para o recrutamento de dois novos integrantes que eles matassem o sobrinho de um policial militar de Brazlândia. Os autores aceitaram a proposta e a vítima, identificada como Denerson Albernaz da Silva, 37 anos, foi morta à luz do dia, na quadra 58 da Vila São José de Brazlândia, em 25 de setembro de 2022. Após a empreitada, os criminosos foram filiados ao PCC. Ambos foram presos na manhã de ontem.

 

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