Recursos

Congelamento do FCDF pode impedir melhorias na saúde do DF

Rede hospitalar da capital do país atende a moradores do DF e também pacientes de outros estados, principalmente da região do Entorno. Especialistas alertam que mudanças no fundo podem impactar reajustes salariais e contratações

Naum Giló
Arthur de Souza
Mila Ferreira
postado em 30/05/2023 08:24 / atualizado em 30/05/2023 09:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

A possibilidade de congelamento de parte do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) é um sério risco para a capital do país. O governador Ibaneis Rocha (MDB) e as bancadas do DF no Congresso Nacional e na Câmara Legislativa correm contra o tempo para barrar o dispositivo que congela recursos do fundo, previsto na proposta do arcabouço fiscal aprovada pelos deputados federais e que será votado em breve no Senado Federal. Na prática, as perdas impactam diretamente serviços básicos na área da saúde. Os recursos do fundo são direcionados para custeio e pessoal da rede pública de saúde do DF, isto é, para pagamento dos profissionais e manutenção da infraestrutura. A longo prazo, o congelamento pode afetar novos reajustes, novas contratações e investimentos na área.

Desde que o FCDF foi implementado, em 2003, o percentual da parcela destinada à saúde teve algumas oscilações, mas, entre 2021 e 2023, a fatia do fundo destinada à área cresceu de 27% para 31,1% — veja quadro. Com relação ao aumento do montante destinado à saúde, na comparação com os anos anteriores, entre 2022 e 2023, houve um crescimento recorde de 60%. No orçamento de 2022, a fatia do FCDF destinada à saúde foi de R$ 4.471.492.902. Em 2023, o valor foi de R$ 7.144.401.762. Esse aumento mostra que o fundo é imprescindível para o bom funcionamento dos serviços de saúde no Distrito Federal.

Economista e especialista em contas públicas, Murilo Viana explica que o possível congelamento do fundo pode refletir, a longo prazo, no ritmo lento de elevação de salários de servidores públicos. "Como o Fundo Constitucional representa um percentual bem razoável da arrecadação do GDF, a tendência é que o DF tenha menor capacidade de absorver pressão por aumento de remuneração de servidores públicos, novas contratações e investimento. O investimento público é o primeiro que sofre em um contexto onde há restrição fiscal, porque é onde é mais fácil cortar recursos discricionários. Haverá também uma pressão orçamentária para diminuir o ritmo de elevação de salários e otimização de servidores públicos", analisa Murilo.

O especialista observa ainda que o aumento da expectativa de vida da população pode demandar uma atenção maior à área da saúde. "É preciso que o GDF esteja atento, pois, nos próximos anos, vai haver um acelerado processo de envelhecimento da população, o que vai demandar um investimento mais robusto na área de saúde e o governo provavelmente vai ter que remanejar recursos, que historicamente eram gastos com outras rubricas e passar a priorizar a saúde", pontua o economista.

Panorama

Atualmente, a situação do sistema público de saúde do DF é preocupante, com hospitais lotados e poucos servidores para atender a pacientes do DF e de outros estados. Com a redução do FCDF, o cenário pode se agravar. Percorrendo alguns dos hospitais regionais, o Correio conversou com pacientes do DF e do Entorno, que também pressionam a demanda por atendimento na rede da capital. A dona de casa Ônis Rodrigues Monteiro, 43 anos, veio do município de Padre Bernardo (GO) para o Hospital Regional de Brazlândia em busca de uma unidade de tratamento intensivo (UTI). O irmão sofreu uma picada de cobra no último sábado. "Ele foi picado por uma cobra e estava internado em Padre Bernardo, mas de ontem para hoje, a situação se agravou e ele precisou ser internado na UTI", explica Ônis.

Cleber Batista Duarte, 60, é morador de Águas Lindas (GO) e sofre de uma doença degenerativa ainda não diagnosticada. As dores que sente nas articulações o fez procurar atendimento no Hospital de Base, que o encaminhou para o Hospital Regional de Ceilândia (HRC). "Aqui no HRC, o atendimento é uma porcaria. Estou há duas horas e até agora ninguém foi chamado", relata Cléber. O pintor também conta que o atendimento na região onde mora é muito precário. Ele precisa passar por um procedimento cirúrgico para tratar um outro problema de insuficiência venosa. "Tentei três vezes e nem sequer consegui marcar a data", finaliza.

No Hospital Regional de Santa Maria, a moradora do Novo Gama (GO), Ana Carolina Bernardo da Silva, 25, espera por um atendimento para o filho de 1 ano por mais de duas horas. Os pacientes foram informados pelo alto-falante que a pediatria atenderia apenas as crianças com pulseiras amarelas, laranjas e vermelhas. O pequeno David recebeu a pulseira verde, mesmo a mãe relatando que o filho vem sofrendo com episódios de febre, diarreia e tosse. "Estou há três horas aqui, na emergência. Pelo visto, o menino vai ter que piorar de saúde para conseguir uma prioridade no atendimento", reclama a mãe.

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  • Ana Carolina, do Pedregal, tem atendimento do filho no Hospital de Santa Maria
    Ana Carolina, do Pedregal, tem atendimento do filho no Hospital de Santa Maria Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press
  • Ana Carolina da Silva, do Pedregal, tem atendimento do filho negado pelo Hospital de Santa Maria
    Ana Carolina da Silva, do Pedregal, tem atendimento do filho negado pelo Hospital de Santa Maria Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • Cleber Batista veio de Águas Lindas e espera por horas por um atendimento ortopédico no HRC
    Cleber Batista veio de Águas Lindas e espera por horas por um atendimento ortopédico no HRC Foto: Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • Cleber Batista veio de Águas Lindas e esperou por horas por um atendimento no HRC
    Cleber Batista veio de Águas Lindas e esperou por horas por um atendimento no HRC Foto: Minervino Júnior/CB/D.A Press
  • Presidente regional do PSD, Paulo Octavio apresentou documento sobre as perdas do DF ao senador Omar Aziz
    Presidente regional do PSD, Paulo Octavio apresentou documento sobre as perdas do DF ao senador Omar Aziz Foto: Divulgação

A importância dos recursos

Porcentagem do FCDF destinado à Saúde
2020 — 26%
2021 — 27%
2022 — 27%
2023 — 31%

Porcentagem de aumento da fatia destinada à Saúde com relação ao ano anterior
2020 — 7%
2021 — 3%
2022 — 5%
2023 — 60%

*Fonte: Seplad

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