CB.Saúde

Infectologista alerta sobre baixa adesão à vacina da gripe no DF

Imunizantes estão disponíveis na rede pública, mas período de má informação afastou público das unidades de saúde

José Augusto Limão*
postado em 26/05/2023 06:00 / atualizado em 26/05/2023 18:22
 (crédito:  Mariana Lins )
(crédito: Mariana Lins )

O aumento de infecções respiratórias no Distrito Federal foi tema do CB.Saúde — parceria entre Correio e TV Brasília — de quinta-feira (25/5). À jornalista Carmen Souza, a infectologista do Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Regional da Asa Norte (HRAN) Maria Aparecida Teixeira falou sobre a baixa adesão das vacinas contra a gripe nos últimos anos. Segundo dados do Ministério da Saúde, em 2019, a cobertura da vacina de gripe no Brasil foi de 91%. Em 2022, 68%. Neste ano, o número não chegou a 40%. "Essa baixa cobertura se deve muito a um período em que a gente ficou muito mal informado, com informações muito truncadas", conta.

A seca chegou com temperaturas baixas. Muita gente com gripe indo para hospital. O que está acontecendo, tem um vírus da gripe mais forte ou as pessoas estão mais fracas?

É importante dizer que este é um período classicamente afetado pelo aumento das infecções respiratórias. A chamada sazonalidade é um período em que a gente espera uma maior frequência. A temperatura modifica, Brasília tem a peculiaridade de ser mais seca e isso tira a umidificação natural das nossas vias aéreas, predispondo eventos alérgicos e com isso também eventos infecciosos, mas não existe nenhum vírus novo, é tudo muito esperado e o resfriado comum continua sendo o mais frequente nessa época.

Quando é preciso recorrer a um profissional diante dessa infecção respiratória comum nesse período?

Excelente pergunta, pois isso me dá possibilidade de tranquilizar a população com relação ao resfriado comum, que acontece de três a quatro episódios no adulto por ano. Na criança, com a idade pré-escolar, de cinco a sete por ano. Então a prevenção se baseia em praticamente medidas não farmacológicas como higiene das mãos, uso da etiqueta respiratória, o que é isso? Quando a gente torce ou espirra nós temos de preferência que ter um lencinho descartável para proteger a via aérea e depois descartar e higienizar as mãos, isso é o ideal. Então, está valendo ter o composto alcoólico na bolsa ou se tiver água e sabão próximo excelente, mais a etiqueta respiratória e se não tiver esse lencinho na hora, é preciso colocar a parte interna do cotovelo pra espirrar ou tossir e de preferência quando está doente ficar mais em casa. Nós aprendemos muito com o que passou, não estou falando de lockdown, estou falando de se resguardar realmente para tentar não disseminar o vírus do resfriado comum, que são vários.

E os sinais de alerta? Qual é o caminho que o cidadão precisa recorrer em uma situação
de emergência? Ir à UBS ao hospital?

Quando eu falava do resfriado comum, ele é uma síndrome de vias aéreas superiores, que é autolimitada. Ou seja, ela começa e termina sozinha sem precisar de nenhuma medida. De três a 10 dias, com a evolução em algumas pessoas, fica até mais tempo com sintomas, como tosse, uma dorzinha de garganta, um mal estar, febre baixa, ali por 10 dias, até 15 dias. A gente costuma tolerar isso num paciente que não tenha problemas imunitários.

Se o paciente passa desse tempo ou se mesmo antes desse tempo, ele tem uma febre elevada podemos ligar o sinal de alerta para que sejam complicações bacterianas. Ou mesmo que não seja um resfriado comum mas uma influenza, porque a gripe não é um resfriado comum. A Influenza é uma infecção viral mais séria, ela dá febre elevada, muito mal estar.

Então se a pessoa estiver com resfriado comum, que se prolongue muito pode aparecer ali intensificação da tosse mais produtiva, com secreção, expectoração, dor na região frontal da cabeça, podendo ser uma sinusite, cansaço, ela tem que se dirigir a um pronto atendimento, UBS, UPA.

Ir à UBS, a princípio, está resolvido, mas caso já tenha problemas de saúde e está cansada, se sentindo fatigada, não só de sensação, mas de respiração curta, é melhor que ela vá logo para um pronto-atendimento de um hospital, como o Hospital Regional da Regional de Asa Norte (HRAN) por exemplo.

A taxa de vacinação está muito baixa no Brasil inteiro, menos de 40%. Há vacina disponível para o público ampliado, o que falta pras pessoas se vacinarem? 

O Ministério da Saúde está fazendo o papel dele muito bem, as vacinas estão aí, tem para todo mundo. Estamos oferecendo a vacina pelo SUS, a vacina é anti-influenza e a vacina bivalente — contra a covid-19 — e, sinceramente, eu acho que essa baixa cobertura se deve muito a um período em que a gente ficou muito mal informado. Naturalmente numa situação muito nova pra todo mundo, mesmo para a comunidade científica que gerou receio.

Sobre as vacinas, a gente sempre teve uma parcela da população com receio, mas isso se intensificou muito nos últimos tempos. Toda vacina tem risco, mas o que a gente tem que ver é o impacto dela em termos de saúde pública. Estamos conversando hoje aqui nesse espaço que não é tão amplo, frente a frente com uma distância não muito longa é porque nós somos vacinadas. E não vacinar pode favorecer o surgimento de vírus ainda mais perigosos.

O vírus gerou um repertório de anticorpo naturalmente. Quem não desenvolveu esse anticorpo naturalmente, o adquiriu por meio das vacinas. Desse modo, é muito importante a população procurar os postos e se colocar na situação de segurança, bem como os seus familiares.

O Brasil decretou uma emergência zoo sanitária por conta da gripe aviária. O que isso significa? Corremos perigo?

Não tem motivo para pânico. Essa zoosanitária é o vírus H5N5, que circula em algumas aves, aves migratórias, aquáticas e aqui no nosso país nos estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Até ontem, pelo menos eram oito casos. Por isso foi decretada emergência.

Situação de emergência não é pra gerar um pânico na população. É uma forma que as instituições governamentais tem pra aplicar medidas justamente que se antecipem. Não há casos em humanos, não tem motivo para pânico, mas quem é pecuarista tem que ficar atento com as suas criações de aves.

*Estagiário sob a supervisão de Suzano Almeida

 

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