ATOS ANTIDEMOCRÁTICOS

CPI vai apontar falhas de PMs, GSI e mirar em financiadores do 8/1

Comissão da Câmara Legislativa está empenhada em identificar a origem do dinheiro que mantinha os extremistas acampados no QG do Exército. Distritais também desejam esclarecer versões dos policiais militares e do general Dutra sobre acampamento

Pablo Giovanni
Suzano Almeida
postado em 20/05/2023 06:01 / atualizado em 24/05/2023 13:19
 (crédito:  Carlos Gandra/CLDF)
(crédito: Carlos Gandra/CLDF)

Iniciada em 9 março, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa (CLDF) avança para suas últimas oitivas, antes do recesso do mês de julho. Até o momento foram ouvidos empresários, integrantes da Secretaria de Segurança Pública, oficiais da Polícia Militar do Distrito Federal e um general do Exército Brasileiro. Na avaliação dos membros da CPI, com o que se tem de apurado, é notório que houve erro no planejamento, mas os deputados distritais não estão satisfeitos e pretendem se aprofundar.

Além das oitivas, os distritais têm se dedicado a realizar a quebra de sigilo de empresários, para saber o caminho do dinheiro usado para financiar o acampamento de extremistas em frente ao Quartel General do Exército (QG) — onde bolsonaristas radicais supostamente tramaram contra o Estado de Direito — e das manifestações na Esplanada dos Ministérios, como a que culminou na invasão às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro.

"Todos os empresários querem se eximir da responsabilidade de terem financiado os atos, mas, ao nos aprofundarmos nas investigações, temos convicção que toda aquela estrutura de tendas e de aluguel de caminhão de som não teria como se manter se não tivesse alguém para pagar", afirma o deputado distrital e relator da CPI dos Atos Antidemocráticos, Hermeto (MDB).

Outro ponto que vem sendo confrontado são as versões para a remoção das estruturas em frente ao QG. Segundo o relator, a resposta dada pelo general Gustavo Henrique Dutra, então comandante militar do Planalto durante os ataques, de que a Justiça não havia determinado a retirada dos extremistas, não condiz com o que estava planejado junto à PMDF, que, em ao menos duas oportunidades, foi mobilizada pelo próprio Exército para a retirada.

Para Hermeto, o que é fato para os membros da comissão é que o planejamento das forças de segurança e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) para as manifestações de 8 de janeiro foi frustrado. "Uma coisa que ficou clara em todas as oitivas e que estará em meu relatório é que, em princípio, todos falharam. Os 200 policiais foram mandados para um massacre. Não tinha sequer água para eles. O GSI não tinha militares suficientes para proteger os prédios", elenca o relator. "Não estou dizendo que foi proposital, mas ela (a falha no planejamento) existiu. Se o sobreaviso — policiais que estão de folga, mas à disposição do comando — estivesse lá de prontidão, não teria acontecido tudo aquilo", assegura o distrital.

Prorrogação da CPI

O relator Hermeto aponta que a CPI dos Atos Antidemocráticos deverá ser prorrogada. Entretanto, o pedido só deverá ocorrer após o recesso parlamentar de julho. "Nossa última oitiva ocorrerá em 29 de junho. Depois a Casa entrará em recesso. Vamos aproveitar esse tempo para avaliar o que foi produzido e pedir mais tempo", explica.

O parlamentar também conta que membros da futura Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos Atos Golpistas do Congresso Nacional procuraram a CPI da CLDF para pedir informações e cooperação para que os trabalhos corram de forma conjunta.

"Temos informações que podem ser compartilhadas, mas ainda falta descobrir muita coisa. Não entendemos ainda o motivo pelo qual o ex-secretário (de Segurança Pública Anderson Torres) foi solto e por que o coronel (Jorge Eduardo) Naime ainda está preso. O Supremo Tribunal Federal (STF) deve ter alguma informação que não temos", completa Hermeto.

Para o presidente da CLDF, Wellington Luiz (MDB), a prorrogação da CPI é necessária, já que é importante esclarecer pontas soltas na investigação dos atos de 12 de dezembro e 8 de janeiro. O emebedista também citou que o depoimento do general Dutra traz novos elementos à CPI, e que deixam a expectativa de ouvir mais depoimentos para um relatório final isento e transparente. 

"A CPI foi a primeira instalada no âmbito dos atos. Os depoimentos que já ocorreram são reveladores e trouxeram pontos importantes para a relatoria do Hermeto. Para termos noção, vimos oitivas que coincidiram na mesma versão — dos policiais militares —, mas o general Dutra, ontem (anteontem), apontou a versão dele e do Exército sobre o acampamento e a possível omissão de militares da corporação. Por isso, talvez não dê tempo para esclarecer tudo até a última oitiva, no fim de junho", opinou Wellington.

No entanto, Wellington considerou essencial que os integrantes da CPI e o restante dos parlamentares da Casa estejam em sintonia para a votação de projetos importantes para a população. Para ele, com o empenho assíduo dos sete deputados — composição da CPI —, outras pautas de dentro da Casa acabam ficando de lado.

"Acredito que, de certa forma, a CPI atrapalhou os trabalhos da Casa. Entendemos que é um trabalho que consome muito tempo dos deputados. Por isso, combinamos uma reunião com todos, na segunda, para estreitar esses pontos. Entendemos que a CPI é muito importante para esclarecer tudo o que aconteceu, mas não podemos deixar a população no prejuízo", completou o parlamentar.

 

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