O Distrito Federal conta com um fenômeno singular: um acidente geográfico que faz com que, de uma mesma nascente, corram águas em direções opostas, alimentando as duas maiores bacias hidrográficas da América do Sul: a do Prata e a Amazônica. Essa região também é responsável por abastecer boa parte das áreas de Planaltina e Sobradinho e é protegida por uma unidade de conservação de proteção integral, a Estação Ecológica Águas Emendadas. No entanto, ambientalistas têm alertado à população e às autoridades para os riscos que a região está sofrendo por conta do desmatamento, uso de agrotóxicos em plantio de larga escala e do processo descontrolado de urbanização.
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O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) é o órgão do governo responsável por administrar a estação ecológica e, segundo o presidente Rôney Nemer, é um desafio cuidar da área, pois a unidade de conservação é cercada por uma zona de amortecimento, isto é, região onde a atividade humana é sujeita a normas e restrições para minimizar os impactos. "O entorno vem sofrendo ocupação, grilagem, impermeabilização, agressão ao lençol freático", descreve Nemer. "Por isso, nós trabalhamos para incentivar o desenvolvimento rural preservando o meio ambiente", completa ele. "Águas Emendadas é o nosso xodó. Temos a unidade como nossa prioridade", destaca.
"O lençol freático que forma Águas Emendadas sofreu um grande rebaixamento nas últimas décadas e o volume de água na Vereda Grande é muito menor do que já foi. Os moradores da região do entorno da estação ecológica relatam constantemente a diminuição da água disponível nos poços artesianos", observa o ambientalista Marcelo Benini. Marcelo também é coordenador da Guardiões de Águas Emendadas (GAE), uma organização da sociedade civil que reúne pessoas interessadas em dedicar parte do seu tempo e de suas habilidades à preservação de Águas Emendadas. "Passamos os últimos dois anos fazendo um levantamento minucioso dos problemas e ameaças, além das consequências negativas que isso pode gerar e está gerando em Águas Emendadas. Desenvolvemos projetos e iniciativas de preservação e educação ambiental em parceria com comunidades da região", explica Marcelo.
Agrotóxico
"A presença da monocultura da soja ao lado da estação ecológica prejudica muito. Além do desmatamento para o plantio em larga escala, há o risco de o agrotóxico usado na lavoura infiltrar e atingir o lençol freático ou ser levado pelas chuvas para dentro de corpos hídricos como a Lagoa Bonita, que está praticamente toda cercada pela soja", pontua Marcelo Benini.
"Faltam políticas públicas voltadas para a questão ambiental, como fiscalização mais rígida, investimentos em monitoramento em tempo real e aumentar o efetivo de servidores naquela área de proteção ambiental, que está sendo ameaçada constantemente pela ação do homem", sugere o ambientalista e assistente social Nelson Rodrigues.
Outra questão que preocupa é o processo desenfreado de urbanização que a região vem sofrendo. A estação ecológica é delimitada por rodovias federais e distritais como a BR-020, a DF-345, a DF-205, a DF-128. "Com o crescimento do Distrito Federal, a região vem sofrendo uma pressão cada vez maior da especulação imobiliária, cercando a região com empreendimentos habitacionais", aponta o socioambientalista e organizador de mutirões de regeneração do cerrado, Thiago Ávila.
Coordenador da GAE, Marcelo Benini acredita que a sociedade precisa se unir ao poder público para proteger a estação Águas Emendadas. "É preciso realizar ações integradas de fiscalização e controle, mas também de implementação de projetos e alternativas econômicas sustentáveis para a população daquela área, como produção orgânica, sistemas agroflorestais, meliponicultura, turismo com foco no cerrado, atividades extrativistas, ações e projetos que transformem a região em um polo de sustentabilidade", opina.
Na próxima quarta-feira, está agendada uma visita de representantes da Embaixada da Alemanha à estação de Águas Emendadas. Segundo o presidente do Ibram, o país está interessado em ajudar na preservação da área. No próximo dia 28, às 10h, a GAE promoverá uma caminhada no Eixão Norte com a presença de artistas, ambientalistas e lideranças sociais. A ideia é sensibilizar a população para a situação de Águas Emendadas.
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