ATOS ANTIDEMOCRÁTICOS

CPI: Lula ficou irritado com ausência de ministro no QG, revela general Dutra

Após descobrir que José Múcio, chefe do Ministério da Defesa, não estava no QG em tratativas para prisão dos invasores dos prédios dos Três Poderes, o presidente ficou irritado durante telefonema

Pablo Giovanni
postado em 18/05/2023 18:43 / atualizado em 18/05/2023 18:51
 (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
(crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

O general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto (CMP), revelou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em ligação, ficou irritado com a ausência de um ministro nas tratativas para desmobilizar o acampamento bolsonarista em frente ao Quartel-General do Exército, na noite de 8 de janeiro.

O ministro que Lula ficou irritado seria José Múcio, chefe do Ministério da Defesa. Dutra afirmou que ligou para o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, para explicar o porquê de ser contrário à entrada da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) no acampamento, quando G.Dias passou a ligação à Lula.

“Ele (Lula) perguntou: ‘O ministro Múcio está aí com o senhor?’. Eu disse que não. Ele disse que (Múcio) deveria estar, e desligou o telefone”, revelou Dutra.

Posteriormente, os ministros Flávio Dino, Rui Costa e o próprio Múcio estiveram no QG, para entender o os próximos passos para a prisão dos invasores.

Na mesma ligação, Dutra explicou que a conversa com G.Dias e Lula se deu após o ex-interventor da segurança pública, Ricardo Cappelli, pedir a entrada imediata da PMDF para prender os bolsonaristas. O general afirmou que a operação poderia resultar em mortes porque não foi planejada. Assim, Cappelli ligou para o ministro Flávio Dino para explicar e Dutra ligou para o ex-chefe do GSI, G.Dias.

“O presidente (Lula) está muito irritado e disse que vai entrar (no acampamento do QG), me explicou o general Dias. Eu disse ao general que ‘vai dar problema’. Após, ele passou o telefone para o presidente. Para mim, foi uma surpresa (falar com o presidente). Falei exatamente assim: ‘presidente, boa noite. Aqui é o general Dutra, comandante do CMP’. Ele falou: ‘general, são criminosos, têm que ser todos presos’. Eu disse que todos estamos indignados, e serão presos”, disse Dutra.

“Eu disse que só estamos lamentando danos ao patrimônio, e se entrarmos agora, sem planejamento, podemos terminar essa noite com sangue. Eu tenho uma admiração pelo presidente Lula pela inteligência emocional dele. Na mesma hora, ele disse que seria uma tragédia (terminar a noite em sangue). E falou: ‘general, isola a Praça dos Cristais e prende todo mundo amanhã’. Eu agradeci e desejei boa noite”, disse o general.

Pedras portuguesas

Antes, Dutra explicou que não teve nenhum conflito com Cappelli para a não desmobilização do acampamento na noite de 8 de janeiro e que não poderia ocorrer a prisão de bolsonaristas, por existir a possibilidade de manifestantes utilizarem as pedras portuguesas, da Praça dos Cristais, como armamento contra as forças de segurança.

“Eu virei para o dr. Ricardo e disse que a operação era complexa, precisando planejar, se não tem o risco de morrer gente. Ele virou para mim e disse: ‘general, você está me dizendo que eles estão armados?’. Eu respondi que não. Estou dizendo que a Praça dos Cristais não tem iluminação adequada para uma operação noturna; a Praça tem várias pedras portuguesas; a Praça tem degraus; a Praça tem um lago no meio, além disso tem, no acampamento, ainda há espeto de churrasco. As pessoas estão cansadas. Se entrarmos sem planejar, vai ter gente que pode morrer até afogado”, explicou Dutra.

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