O general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto (CMP), afirmou que o Exército não proibiu a entrada de policiais militares no acampamento do QG do Exército, na noite do dia 8 de janeiro, cumprindo uma determinação do governo federal em deixar as prisões para a manhã do dia 9. Aos distritais da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), da Câmara Legislativa do DF, Dutra afirmou que eles só fizeram um cerco para ninguém sair. Segundo ele, os bolsonaristas achavam que o Exército estavam os protegendo, e por isso foram “dormir”.
“Começamos a coordenar a operação (para a prisão). Um dos ministros, que não me lembro qual, perguntaram quantos manifestantes têm na praça. Eu disse que tem entre mil e duzentos a mil e quinhentos. Perguntaram como iriamos tirar, e levantaram a possibilidade dos ônibus que estão estacionados na Granja do Torto. O ministro Flávio Dino, então, disse que era impossível, já que os ônibus foram entregues à Justiça. Nisso, o ministro Rui Costa fez uma ligação, e me perguntou quantos ônibus. Eu disse que uns 40, às 6h30”, disse.
“Eu emiti então, uma ordem de operações para os meus comandantes subordinados. Com isso, isolamos a Praça dos Cristais. Daí, acontece um fato interessante, porque havia, em umas pessoas, um nível de fanatismo. Quando isolamos a praça, as pessoas estavam pensando que estávamos isolando para protegê-los, e foram dormir. No dia seguinte, a PMDF chegou na hora certa, com todos os meios”, continuou Dutra.
O general explicou que nenhum manifestante entrou nos ônibus, disponibilizados pela Secretaria de Transporte e Mobilidade, sem saber para onde ia (o transporte mobilizado pelo governo do DF encaminhou todos do acampamento à Polícia Federal). Além disso, ele rechaçou a tese de que o Exército proibiu, à força, a entrada da PMDF. “As pessoas que estavam no acampamento, antes do ato do dia 8 e que foram presos, eram outro grupo. Cerca de 80% das pessoas presas na Praça dos Cristais são pessoas de fora do DF, e que voltaram à praça porque não tinham para onde ir”, disse o general.
Ilegalidades
O general também afirmou à CPI que o Poder Judiciário nunca tratou o acampamento como golpista. O militar detalhou que o Exército só trabalha para desobstruir ilegalidades, como furto de energia elétrica, furto de água e comércio ilegal.
“O comércio ilegal tiramos totalmente do acampamento no final do mês de novembro, porque em determinado momento o acampamento estava virando uma feira, o que é inadmissível. Em nenhum momento eles (bolsonaristas) tiveram vida fácil. Uma estratégia indireta de cansar (era a estratégia do Exército) (...) Como não havia uma ordem judicial, fizemos da maneira de desmotivar”, disse o militar, aos distritais.
O general chegou à CPI por volta de 9h30 e a oitiva teve início às 10h. Na CPI, um acordo entre os distritais e o Exército assegura a presença de generais na Casa, mesmo que não sejam obrigados a comparecer — a convocação foi transformada em convite.
Outros generais
CPI ouvirá também o general Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), em 1° de junho. O general era considerado, por muitos do núcleo do ex-governo, como braço-direito do então presidente Jair Bolsonaro (PL). Heleno e a CPI já chegaram a costurar um depoimento na CLDF, mas o general desistiu após ser orientado pelos advogados a não colocar “mais gasolina”.
Por fim, o general Marco Edson Gonçalves Dias, ou G.Dias, deve ser ouvido pelos distritais em 17 de junho. O militar ocupava o cargo de ministro-chefe do GSI nos ataques do dia 8 e pediu demissão após imagens, reveladas pela CNN Brasil, mostrarem que o militar estava circulando dentro do Palácio do Planalto durante os atos. A atuação do ex-ministro foi estopim para os distritais aprovarem a convocação do militar.
Apesar de todos estarem convocados, um acordo entre o Exército e os deputados distritais transformaram a vinda do trio em convites — quando não são obrigados a comparecer. Uma equipe do Exército compareceu à CPI na última semana, antes do depoimento do empresário suspeito de financiar os atos, Adauto Lúcio Mesquita, inspecionando a Casa e conversando com os parlamentares em cada gabinete. Os militares do Exército pediram que a comissão transformasse as convocações em convite e, com isso, confirmariam a presença dos generais.
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