Os desafios do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) foram abordados pelo CB.Poder — parceria entre Correio e TV Brasília, que recebeu, nesta quarta-feira (17/5), o presidente do órgão, Leandro Grass. Na entrevista concedida à jornalista Ana Maria Campos, ele destacou como o patrimônio pode ser um instrumento do desenvolvimento urbano e da economia. O professor e ex-deputado distrital falou ainda sobre seus projetos políticos e sua avaliação da gestão Ibaneis Rocha.
O senhor acha que existia uma intenção do governo Bolsonaro de extinguir o Iphan ou até deixá-lo morrer para não realizar o seu trabalho?
O que aconteceu com o Iphan foi o que aconteceu à cultura de forma geral, porque a cultura é esse elemento que une as pessoas, que cria esse sentimento de pertencimento à sociedade. E um governo de extrema direita, um governo não democrático não se interessa por isso. O Ministério da Cultura foi extinto, o Iphan migrou para o Ministério do Turismo, e havia, ali, um conjunto muito sério e muito grave de descontinuações de projetos. A educação patrimonial foi praticamente paralisada. De alguma maneira, foi um desvirtuamento do órgão. O Iphan não é só um órgão fiscalizador. Tem gente que acha que o papel do Iphan é só ver se tem alguma coisa errada com os patrimônios, com os bens tombados. O Iphan tem uma agenda positiva imensa para o Brasil. Essa pauta do patrimônio interage com o turismo, com o meio ambiente, com a geração de emprego e renda, com a educação e, obviamente, estamos na cultura, então, é um grande elemento de promoção cultural.
A preservação do patrimônio, muitas vezes, no olhar do senso comum, acaba trombando com o desenvolvimento. Como é esse desafio de possibilitar que Brasília e outras cidades tombadas se desenvolvam, cresçam, mas também sejam preservadas?
Esse dualismo, esse antagonismo entre preservação e desenvolvimento foi superado no mundo inteiro. E a gente também precisa superar no Brasil. Ao contrário: ele é um instrumento do desenvolvimento, na medida em que gera emprego, promove turismo, une as pessoas, integra a sociedade. Ele não pode ser visto como um entrave ao desenvolvimento. No entanto, a gente também tem de partir do pressuposto de que os lugares, as pessoas e as comunidades mudam. As necessidades começam, também, a se modificar. Por exemplo, do ponto de vista da mobilidade urbana, hoje temos desafios que não tínhamos 30 anos atrás. Então, como a gente concilia as necessidades da população, principalmente no que diz respeito aos direitos que ela tem, com o projeto de preservação do patrimônio? O patrimônio também está em mudança, ele também está em processo de adaptação. A gente fez obras de restauro recentemente no Iphan que já contemplam acessibilidade. Isso não era pensado 40 anos atrás. São as modificações da sociedade que também nos impulsionam para uma nova forma de fazer política.
Hoje, olhando para o governo, o que o senhor vê que ainda deveria melhorar? Como avalia que está a gestão, até agora, do governador Ibaneis Rocha?
Eu não vi mudanças significativas em relação ao que havia antes. Eu fui parlamentar, fiscalizei o governo durante quatro anos, apontei uma série de problemas e apontei várias soluções, principalmente. Eu não vi nenhuma alteração significativa, até porque é o mesmo projeto que existia antes e que existe agora. Eu espero realmente que parte dos problemas da população sejam resolvidos. Não dá para Brasília ter esse sistema de mobilidade horroroso que nós temos. Não dá para Brasília continuar tendo um sistema de saúde que falha ao atender as pessoas ou que não atende. Da mesma forma, a crise que a gente está vivendo agora na educação é muito séria, e ela é anunciada. É anunciada porque esse diálogo já foi tentado várias vezes. Tudo isso já havia sido apontado lá atrás. Então, espero realmente que esses problemas se resolvam. A cidade continua crescendo de maneira desordenada, essa é a realidade. Nós temos cada dia novas ocupações, a grilagem continua atuando em Brasília, e isso tudo também é um problema do ponto de vista do patrimônio, porque coloca em risco a nossa sustentabilidade urbana, a nossa capacidade de sobreviver com qualidade de vida. Isso precisa ser pensado. A questão da habitação, do ordenamento urbano e do cumprimento das regras que, muitas delas, acabaram sendo desrespeitadas.
Qual a expectativa em relação ao seu próprio projeto político? O senhor pensa em ser candidato de novo?
Eu me preparei para ser governador em 2022. Não fui eleito e respeito a decisão da população. Eu continuo preparado e nosso programa está pronto. Ele vai ser atualizado ao longo desse tempo, graças ao debate público, que a gente quer promover com os partidos e as lideranças. Mas, hoje, o meu papel prioritário é fazer o governo Lula dar certo na pauta do patrimônio cultural. Eu sigo construindo politicamente dentro do governo, por meio dos nossos partidos, do diálogo com as lideranças, para a gente amadurecer um projeto ainda melhor para 2026 e dar uma alternativa para Brasília.
*Estagiária sob a supervisão de Malcia Afonso
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