A história dos moradores de Ceilândia com o Parque Urbano do Setor O remonta e muito, a data em que ele foi criado oficialmente, há quatro anos. Em uma área de 105,2 hectares, alguém desavisado enxerga um grande descampado cercado, com uma ciclovia e um Ponto de Encontro Comunitário (PEC). Mas para quem mora ali, a vegetação baixa, salpicada de árvores retorcidas é muito mais que isso. É a esperança de ver preservada uma reserva ambiental bem estruturada, onde a população possa desfrutar de atividades ao ar livre com segurança e cercada pelo bioma do Cerrado.
Há meio século, os olhos e os pés da coordenadora sócio ambiental da Casa da Natureza do DF, Ivanete Silva dos Santos, 53 anos, não desgrudam da paisagem. Mesmo antes de o espaço ser oficializado como parque na Lei de Uso e Ocupação do Solo (LUOS), em 2019, ela desfruta de momentos de lazer naquele espaço que, segundo ela, é referência para os moradores da região que lutam pela estruturação do local como um espaço de lazer para a comunidade. "Preservar o espaço trará maior tranquilidade para a população e vai promover uma economia mais verde com redução dos riscos ambientais, diminuindo os impactos negativos das atividades humanas. Precisamos focar no desenvolvimento sustentável sem a degradação do meio ambiente, pensando sempre nas próximas gerações", defende.
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Moradora do Setor O há quase três décadas, a aposentada Carmem Lima Alencar, 63, conhece bem a reserva ambiental e enxerga o espaço como um bem da comunidade, com potencial para atrair visitantes de outras regiões administrativas. "Esse parque próximo de nossas casas nos proporciona bem estar e muita liberdade para apreciarmos a paisagem e fazermos nossas caminhadas. É uma maravilha passar por aqui e ver os casais namorando ao ar livre totalmente conectados com a natureza ", descreve.
A pergunta que os moradores se fazem é: porque o parque urbano do Setor O continua na lista dos parques de papel da capital? Segundo o administrador regional de Ceilândia, Dilson Resende de Almeida, o Plano de Uso de Ocupação da área só foi concluído no início de 2022, quando foi encaminhado para a Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação (Seduh), que, por sua vez, enviou o documento para o Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal (Conplan). Procurada, a Seduh confirmou o recebimento do documento e disse que aguarda a avaliação por parte do Conplan.
"Esse espaço é muito importante para a comunidade de Ceilândia. Estamos aguardando a aprovação do conselho (Conplan) e o decreto de regularização da área como parque para darmos andamento aos projetos arquitetônicos. Mesmo sem isso, fizemos obras de recapeamento da ciclovia e, há cerca de um mês, toda a iluminação foi substituída por LED", afirma.
Metropolitano e Lagoinha
Não muito distante do Setor O, a comunidade do Sol Nascente e Pôr do Sol luta pela criação de duas reservas ambientais: o Parque Metropolitano, cortado pelo Rio Melchior, e o Parque Lagoinha. Ali, o sonho pode estar mais distante. Isso porque as regiões reivindicadas não são regulamentadas ainda. O administrador da região, Cláudio Ferreira Domingues, esclarece que o lugar necessita de regularização fundiária para que os primeiros estudos sejam realizados. "Estamos aguardando o posicionamento de outros órgãos do governo (Seduh, Secretaria de Meio Ambiente, Terracap e Novacap) para discutirmos sobre a regularização dessas regiões para, em seguida, darmos uma resposta à demanda dos moradores", ressalta.
A Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Proteção Animal (Sema/DF) recebeu os representantes das cidades para debater sobre a criação e a estruturação dos parques urbanos e ecológicos. Glauco Amorim da Cruz, subsecretário de Gestão das Águas e Resíduos Sólidos da pasta, destaca que o papel da Sema é controlar as políticas públicas ambientais com foco no desenvolvimento sustentável do DF e avaliar as propostas de interesse da população. "A comunidade pode contar com nosso apoio na busca de financiamento dos projetos para a implantação de florestas urbanas, parques e recuperação de bacias", destaca.
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Parque das Garças: piquenique e protesto em defesa da reserva ambiental
A insatisfação dos frequentadores do Parque das Garças com o destino do espaço reuniu cerca de 1 mil pessoas e resultou em pelo menos 650 assinaturas em um abaixo assinado exigindo a regularização e a ampliação da unidade de conservação.
Criado há 21 anos, o parque fica ao lago do Clube do Congresso, no fim do Lago Norte. Além das aves que deram origem ao nome do parque, outras 56 espécies como corujas, quero-queros, mergulhões e patos, já foram identificadas na reserva, que conta também com 500 árvores plantadas, sendo 50 delas espécies nativas do cerrado.
De acordo com Doralvino Sena, um dos coordenadores do Movimento em Defesa do Parque das Garças, na operação Orla Livre a área foi recuperada ficando aberta aos frequentadores. A proposta da comunidade é que a manutenção da reserva ocorra de forma regular e eles cobram a criação de um plano de manejo e conservação para o local. "O parque é um patrimônio natural de Brasília, oferece qualidade de vida aos frequentadores e deve ser protegido, ampliado e preservado na sua totalidade, beneficiando visitantes de várias partes do DF", disse.
Antônio Matoso, prefeito comunitário da Península Norte, destaca a importância da manutenção da reserva ambiental por tudo que o lugar oferece a quem o frequenta. "É preciso cuidar e proteger este espaço para que possamos preservar acima de tudo a natureza e toda a paisagem que temos em volta", defende.
O casal Alessandra Schimitt e Jimmy do Carmo, moradores do Jardim Botânico, visitaram pela primeira vez o Parque das Garças, e além de prestigiar a paisagem e toda a beleza que o lugar oferece, estiveram atentos ao movimento em defesa da reserva. "Viemos tomar sol e um banho, aqui parece muito com uma praia, estamos admirados com a beleza e a limpeza deste local. O movimento e a reivindicação são muito importantes para que tudo seja preservado neste lugar, que é incrível, com uma paisagem fora do comum, de uma uma beleza extraordinária", ressalta Alessandra.
Outra defensora do parque é Selma Siqueira, moradora do Lago Norte. Ela lembra que a área é uma reserva importante para a população de Brasília e precisa estar regular. "Eu defendo o Parque das Garças pela importância que ele representa para a comunidade. Brasília precisa ter consciência desse espaço e cuidar dele", disse.
Cidade parque
Para o urbanista e professor da Universidade de Brasília (UnB) Frederico Flósculo, a questão ambiental no Distrito Federal, não é tratada de forma fundamentada e equânime. O ideal é ter parques urbanos e ecológicos em todas as regiões da cidade, tanto para preservar o meio ambiente, quanto para o lazer popular. O especialista lembra que Brasília nasceu como uma cidade parque e a comunidade deve ser incluída na gestão desses espaços. "É fundamental que existam planos de manejo onde a população participe e contribua efetivamente para o acesso aos parques públicos em cada bairro do Distrito Federal. É essencial que os moradores tenham iniciativa e assumam o protagonismo da criação de mais parques em cada região administrativa, pressionando o governo por mais agilidade nesse sentido", ressalta.
Ibram
De acordo com o Instituto Brasília Ambiental (Ibram), no segundo semestre de 2023, serão iniciados os estudos do Plano de Manejo do Parque Ecológico das Garças, para que os zoneamentos das áreas de preservação e de uso público sejam definidos. Após essa etapa, serão detalhados também os tipos de obras de infraestrutura que devem ser implantadas na unidade de conservação.