OBITUÁRIO

A morte de Daniel Júnior deixa um silêncio nos palcos musicais da capital

Amigos e familiares lembram a grandeza de Daniel Júnior, refinado cantor, referência musical no Distrito Federal. Sambista e compositor morreu, aos 79 anos. Show solidário ajudará a família a custear despesas hospitalares

Paulo Pestana Especial para o Correio
postado em 09/05/2023 06:01
 Cantor e baixista Daniel Júnior -  (crédito:  Arquivo Correio/Rede Sociais)
Cantor e baixista Daniel Júnior - (crédito: Arquivo Correio/Rede Sociais)

Daniel Júnior já era um músico muito requisitado na noite do Rio de Janeiro quando, em 1978, desembarcou em Brasília, a bordo do projeto Pixinguinha, formando a banda que acompanhava Dona Ivone Lara e Roberto Ribeiro. O show lotou a Piscina Coberta — hoje ginásio Cláudio Coutinho — por duas noites, sob aplausos calorosos do público.

Após o término da turnê, que prosseguiu por capitais do Norte do país, o contrabaixista, que se encantara com a cidade, aqui se radicou, constituiu família e só retornava à sua origem, em viagens de férias ou para cumprir algum compromisso. No Distrito Federal se tornou um artista com trabalho amplamente reconhecido — tanto pelos companheiros de ofício, quanto pelo público, que o aplaudia, durante as apresentações, principalmente em bares e restaurantes.

Filho de Agostinho Júnior Neto e Ana Nunes Júnior, primogênito de nove irmão, nasceu em 25 de janeiro de 1944, na maternidade Carmela Dutra, no bairro de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O menino franzino, que dividia seu tempo entre escola, igreja e a construção de brinquedos rústicos, tinha como passatempo preferido construir maquetes de cidades.

Adolescente, passou a trabalhar no Serviço de Orientação Alimentar, ligado ao Serviço de Alimentação da Previdência Social (SOA/SAPS), na Praça da Bandeira, do qual saiu para servir o Exército. De volta ao serviço público, paralelamente, como músico, passou a tocar e boates da Praça Mauá, na região portuária. Ali acompanhou cantores e cantoras, entre os quais Carlos Alberto, Lana Bitencourt e Rosita Gonzales. Com o grupo Superbacana, passou pelas rádios Nacional e Maryrink Veiga; e as emissoras de TV Continental, Rio, Tupi e Exelcior.

Em Brasília, associado do Sindicato dos Músicos do Distrito Federal, batalhou por melhorias das condições de trabalho dos instrumentistas e cantores. Em entrevista ao Correio, há oito anos, destacou que a vida noturna de Brasília viveu sua melhor fase entre as décadas de 1980 e 2000. "Trabalhei muito naquele período, tocando em bares como Caras e Coroas, Nosso Bar, Galetão, Estação 209, Tasca e Tendinha, entre a Asa Norte e Asa Sul".

De tanto se apresentar no Otello, na 107 Norte, acabou tornando-se sócio e, posteriormente, proprietário do bar. "Lá, recebi nomes consagrados da música popular brasileira, entre eles, João Donato, João Nogueira, Sivuca e Maurício Tapajós, que tinham na plateia aplaudi-los, políticos, jornalistas e boêmios, num ambiente acolhedor e festivo", lembrava.

Uma parada cardiovascular tirou a vida de Daniel Júnior, ontem, às 18h55, no hospital Home, na Asa Sul. O velório ocorre hoje, a partir das 9h, na capela 7 do Campo da Esperança, seguido do sepultamento, às 11h30. O músico deixa seis filhos, 18 netos, 15 bisnetos e a companheira Conceição do Valle, com quem conviveu nos últimos 20 anos.

Família

"Tivemos uma convivência harmoniosa. Mesmo não morando juntos, a nossa relação era muito afetuosa. Convivo com uma tristeza imensa, desde que tomei conhecimento da morte do Daniel", afirma Ceiça, como a companheira é mais conhecida. Compositor, cantor e violonista, Marquinho Gil, 57, filho de Daniel Júnior, viu de perto, desde pequeno, a trajetória do músico. "Com a morte do meu pai, Brasília perde um pouco da cultura. As letras das músicas dele sempre falaram de algo importante, de sentimentos. Ele gostava de fazer samba puxado para a bossa nova. Também costumava pegar canções de artistas de outros gêneros e colocá-las em ritmo de samba, como Roberto Carlos e Tim Maia. Mas o destaque eram as composições dele, de alto nível. Tanto as melodias quanto as letras e as harmonias eram muito boas", ressalta. "Foi ele quem me incentivou a seguir a carreira artística, quando me levou para tocar ao seu lado no London Tavern, casa noturna que existia na 409 Sul", complementa Gil.

Artistas se unem em show solidário para ajudar a família de Daniel Junior, na quinta-feira (11/5), a partir das 20h30, no Feitiço das Artes (306 Norte), para arrecadar recursos visando ajudar nas despesas hospitalares contraídas e homenagear o músico. A iniciativa é conjunta de músicos e produtores locais, mas está sendo capitaneada pelo aniversariante do dia, o percussionista Jorge Macarrão, grande amigo de Daniel Júnior. Pelo palco passarão, entre outros, Régis Torres, Myriam Greco, Cássia Portugal, Paulo André Tavares, Cely Curado e Johnny Rodergas.

 


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