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Reajuste a professores do DF: "Ninguém gosta de fazer greve"

Segundo o distrital, paralisação é o último recurso para os professores, uma vez que governo e categoria não entraram em acordo. Paralisação deve deixar 460 mil alunos de escolas públicas do Distrito Federal sem aulas, a partir amanhã

Isac Mascarenhas*
postado em 03/05/2023 06:00 / atualizado em 03/05/2023 06:36
 (crédito:  Mariana Lins )
(crédito: Mariana Lins )

Enquanto Ibaneis Rocha (MDB) aumenta em 18% o salário dos servidores, o Sindicato dos Professores (Sinpro-DF) prepara uma greve para amanhã. Para o deputado distrital Gabriel Magno (PT), que já foi da entidade, o reajuste não é o suficiente para acabar com a defasagem salarial da classe.

"O governo deve tratar algumas carreiras com um olhar mais específico. [O reajuste] não atinge a lei do piso salarial de magistério", apontou no CB.Poder - parceria entre Correio e TV Brasília —, de ontem, que para nível médio é de R$ 4.400.

Segundo Magno, a paralisação foi o último recurso, já que as negociações não avançavam. "Ninguém gosta de fazer greve. Tem um prejuízo enorme para as famílias e para os professores", disse à jornalista Ana Maria Campos.

Estamos vendo uma possível greve dos professores da rede pública, o que pode acontecer esta semana?

Os professores estão numa campanha de mobilização desde o ano passado junto ao GDF pedindo a reestruturação da carreira. Hoje estamos abaixo do piso nacional do magistério. O DF não cumpre as metas do Plano Distrital de Educação (PDE). Hoje o DF ocupa a penúltima colocação em termos de salário e as condições de trabalho são muito ruins. Vimos esses casos recentes de violência contra as escolas. O Tribunal de Contas (TCDF) acabou de fazer uma vistoria em algumas escolas do DF e identificou que um terço delas têm problemas de segurança e de estrutura, salas superlotadas, não foram construídas escolas nesses últimos anos. A Secretária de Educação (SEE), perdeu a oportunidade da pandemia, quando as aulas estavam sendo remotas, para equipar as escolas, construir novos espaços pedagógicos, informatizar. O governo interrompeu uma negociação com o sindicato. Na última assembleia, em 26 de abril, a categoria decidiu pela greve, que começa amanhã e está na mão do governador apresentar uma proposta.

Quanto é hoje o salário médio dos professores?

Os professores hoje, quando a gente fala do piso nacional do magistério estabelece que o menor salário para nível médio tem que ser de R$ 4.400. Hoje, no DF, o piso do nível médio está R$ 3.300. Então, mais mil reais abaixo do que diz a lei do piso. Lembrando que o DF já foi uma das unidades da Federação, que se orgulhou de ter o maior piso do Brasil. Hoje não consegue cumprir nem a própria lei nacional. 

É um salário baixo para o professor, uma função importante e que também atinge a família.

A gente relembra que, na campanha, o governador Ibaneis (Rocha), disse que os professores era a profissão que devia receber melhor. Nas palavras dele, deveria ganhar "igual juiz" e que o governo dele faria todos os esforços para isso. Se não fosse atingir o teto do funcionalismo, mas para ter uma remuneração prevista em lei. O problema é que nos últimos oito anos não foi feito nenhum movimento [de reajuste] para tentar uma isonomia dessas remunerações. Quando o governo apresenta uma proposta de 18% parcelo em três anos — que, na verdade, são 6% por ano — você tem outro problema: quando você faz o mesmo reajuste para todo mundo, além de não dar conta da inflação acumulada dos últimos anos, que passa de 50%, você também não caminha para a isonomia. 6% de quem ganha menos, é menor que 6% de quem ganha mais. 

Ontem, o governador Ibaneis Rocha (MDB) sancionou o aumento de 18%. A defasagem salarial dos professores ainda é grande?

Sim. Quando comparado a outras carreiras que ganham melhor, a defasagem e diferença salarial aumenta. Também não consegue atingir a própria lei do piso, o mínimo para pensar a educação do país inteiro. Para isso ela foi instituída em 2008, que estabelece o que deveria ser o salário mínimo de professores e professoras do Brasil.

A paralisação tem um impacto grande nas famílias. Como os professores vêem isso?

Eu fui dirigente do Sindicato dos Professores (Sinpro-DF) e eu falo o seguinte: ninguém gosta de fazer greve. Tem um prejuízo enorme para as famílias, para comunidade escolar e também para os próprios professores, que sempre repõem os dias paralisados. Então, você entra numa greve é um grau de desgaste muito grande. Porque depois da greve você tem esse processo de recomposição do calendário, que aumenta muito o trabalho. Neste ano, comparado ao ano passado, nós temos um acréscimo do Fundo Constitucional para educação de R$ 2 bilhões. É possível fazer um esforço, é possível apresentar uma proposta que cabe dentro do orçamento  para atender as reivindicações.

A greve é o único instrumento de pressão?

A greve é o último recurso. Você tenta negociar, coloca proposta, chama o governo e, quando o diálogo já não avança mais, a greve é o último instrumento. Temos acompanhado isso desde o início do ano. Infelizmente o GDF, nesses quatro meses, ficou jogando responsabilidades para outros lados. Toda a reunião nova começava do zero, porque mudava o secretário que ia acompanhar. O que nos parece é que ou não tem comunicação entre as secretarias ou o próprio governo não quis avançar nesse processo, infelizmente.

Estagiário sob a supervisão
de Suzano Almeida

 

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