Bailes da terceira idade

Pessoas com mais de 60 anos curtem em Brasília os embalos da feliz idade

Os bailes e serestas da capital reúnem a terceira idade, que nesses espaços se sente à vontade para celebrar a vida com dança e boa música, ingredientes fundamentais para melhorar a qualidade de vida

Mariana Saraiva
postado em 03/05/2023 06:00
 (crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)
(crédito: Minervino Júnior/CB/D.A.Press)

Dançar e se divertir não é privilégio para jovens. Pessoas acima de 60 anos também buscam por curtição. No Distrito Federal, bailes e serestas da terceira idade são marcados por danças, risadas e até mesmo histórias de amor. E há aqueles que garantem ter mais fôlego que muitos jovens e não dispensam uma boa festa. 

 A Associação Maria da Conceição (Asmac) está localizada no Setor Norte do Gama e tem bailes de forró para a melhor idade desde 1994, todas as quintas-feiras e aos domingos. A presidente da instituição, Maria José Resende, de 80 anos, conta que aos domingos o local chega a reunir cerca de 260 pessoas que não dispensam um bom forró pé-de-serra. "Tudo surgiu com a quinta da dança, como uma forma de terapia. O sucesso foi tanto que estendemos para o domingo e estamos aqui até hoje. Vêm pessoas de todo o Distrito Federal e do Entorno para dançar. Temos  um público fiel que sempre está por aqui", revela.

Ana Rita, 70, vem do Novo Gama em todos os dias da programação para dançar na Asmac e garante que não sabe o que seria dela sem os amigos da dança. "Eu amo isso, se pudesse, todos os dias estaria aqui", conta, animada.

  • Seresta do clube dos previdenciários Clube dos previdenciários
  • 27/04/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Baile para os Idosos na ASMAC em comemoração ao dia do idoso.Eulina Tereza,78, e José Pereira, 86 Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • Maria Anísia, frequentadora da Asmac há 15 anos, chamou Manoel Sá para dançar e desde então não se desgrudaram Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • 27/04/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Baile para os Idosos na ASMAC em comemoração ao dia do idoso. Zilda Vidal e João Costa. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • 27/04/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Baile para os Idosos na ASMAC em comemoração ao dia do idoso. Ana Tavares e Francisco de Araújo. Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • Ana Rita, moradora do Novo Gama, diz que se pudesse, encontraria os amigos todos os dias na pista de dança Minervino Júnior/CB/D.A.Press
  • 27/04/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Baile para os Idosos na ASMAC em comemoração ao dia do idoso. Minervino Júnior/CB/D.A.Press

Do outro lado da cidade, na Asa Sul, no Clube dos Previdenciários, todas as sextas-feiras tem seresta para a terceira idade, desde 1975. O espaço chega a reunir cerca de 500 pessoas em busca de celebrar a vida e balançar o esqueleto. O Previ sugere um traje esporte fino, mas não é uma exigência. Porém, muitos aderem e capricham no visual para a noite de agito e boa música.

A supervisora administrativa do clube, Daniela Lobo, percebe o quanto a dança tem ajudado a manter a saúde física e mental dos participantes, prevenindo doenças e melhorando a qualidade de vida. "Por isso, a seresta é uma tradição muito valorizada pelos idosos de Brasília, que encontram no Clube dos Previdenciários um espaço acolhedor e seguro para aproveitar o melhor da vida," enfatiza.

O amor não tem idade

As sábias palavras de Tom Jobim já preconizam que "fundamental é mesmo o amor, é impossível ser feliz sozinho". E não há idade para se amar, afinal de contas, um chamego faz bem para todo mundo. E foi entre os passos de dança e as confraternizações amistosas nas festas voltadas para a terceira idade que muitos casais se formaram para viver histórias de amor.

Eulina Tereza, 78, e José Pereira, 86, se conheceram durante um baile de forró. Eles estão juntos há 23 anos e casados há 20. "Eu não sabia dançar e ele veio dizendo que iria me ensinar e me cantou", diverte-se Eulina ao contar.

Ana Tavares, 69, e Francisco de Araújo, 72, namoram há três anos e a primeira troca de olhar ocorreu durante uma dança. Seu Francisco contou que a amada não quer casar, mas que mesmo assim ele se alegra com a companhia da namorada.

Maria Anísia, 76, frequenta os bailes da cidade há 15 anos e em meio a tantos pretendentes foi Manoel de Sá, 72, que chamou a sua atenção. Ela então deu o pontapé inicial e o chamou para dançar. Depois disso não desgrudaram mais e estão há um ano juntos. "Já fizemos cinco viagens e agora estamos morando juntos" contou Manoel.

Socialização

O pé-de-valsa João Costa, 68, frequenta há dez anos o forró na Asmac. Porém, há oito meses sofreu um AVC e mesmo com sequelas acompanha a esposa, Zilda Vidal, 60, ao baile para dançar e ver os amigos. "Faz bem, não quero que ele fique triste em casa e ache que o acidente acabou com a vida dele, temos que procurar viver," enfatiza Zilda.

A psicóloga comportamental Jhanda Siqueira explica que a socialização para os idosos é muito importante e permite que eles entrem em contato com a própria identidade. "Se fala muito que precisamos aprender a ser felizes sozinhos, mas a verdade é que a gente não percebe que só é feliz sozinho quem realmente não é sozinho e tem pessoas com quem contar, quem tem rede de apoio, um grupo que se sinta pertencente," analisa.

Segundo Jhanda, na maioria dos casos, o idoso está em um momento da vida em que ele tem poucas funções obrigatórias, diferente da vida adulta, onde trabalhava, cuidava dos filhos e exercia diversas atividades. "Depois eles se veem sem isso e precisam criar novas atividades e oportunidades de entrar em contato com outras pessoas, algo que antes acontecia de forma automática devido às atividades do cotidiano."

A especialista ressalta que muitos idosos entram em depressão porque não enxergam perspectiva de futuro, pois já constituíram família, trabalharam, construíram patrimônio. "A socialização permite a possibilidade de sonhar com novos objetivos e criar laços. Eles se sentem úteis e que ainda têm muito a oferecer," conclui a psicóloga.

 

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