O juiz Francisco Marcos Batista, da Vara Criminal e do Tribunal do Júri do Guará, determinou que a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), no prazo de 48 horas, coloque um veículo apreendido do youtuber Kléber Rodrigues de Moraes, mais conhecido como Klebim, 27 anos, dentro de uma garagem. A justificativa é evitar a depreciação do carro, que estaria exposto às condições climáticas.
- Justiça declina da competência e caso Klebim será investigado em Águas Claras
- Advogado de Klebim foi contratado para lavar dinheiro para o youtuber
- MPDFT denuncia youtuber Klebim e mais nove pessoas na operação Huracán
- Do luxo à apreensão: Porsches, Ferraris e BMW do crime em poder da PCDF
A decisão foi proferida na sexta-feira (28/4). Dos 23 carros apreendidos na operação Huracán — que também levou à prisão do influencer —, está uma BMW M4, avaliada em mais de R$ 450 mil. Além de determinar que o veículo seja colocado em um local longe da exposição climática, o juiz pediu que a PCDF envie um relatório detalhando a situação de todos os veículos apreendidos, dentro do prazo de 10 dias.
Como o processo está suspenso por conflito de competência de quem vai julgar o caso, o magistrado decidiu não autorizar a restituição de nenhum veículo. Existe dúvidas de quem será responsável por julgar, já que a maioria dos supostos crimes de lavagem de dinheiro teriam sido movimentada de uma conta bancária do Guará, mas o maior número de infrações teria ocorrido em Águas Claras.
A reportagem entrou em contato com a PCDF. A corporação informou que a BMW M4 verde (da foto) está apreendida em um local coberto.
O caso
O MPDFT ofereceu denúncia contra o youtuber Klebim em 19 de setembro. Outras nove pessoas foram indiciadas, incluindo o advogado dele, José Sousa de Lima. Os investigados foram alvos da operação Huracán, desencadeada em 21 de março pela Polícia Civil (PCDF) e que desmantelou um esquema milionário voltado à prática de jogos de azar de rifas ilegais e lavagem de dinheiro em nome de empresas de fachada.
Além de Klebim e do seu defensor, os outros oito denunciados pelo MPDFT são: Vinícius Couto Farago, Pedro Henrique Barroso Neiva, Alex Bruno da Silva, Mateus Welington Sousa Cirineu, Michael Fernandes da Silva, Henrique Sadao Ramos de Araújo, Ronyel Santos Castro e Douglas Muniz Dutra.
No crime de organização criminosa, o MPDFT apresentou denúncia contra Kleber, Pedro, Alex Bruno e Vinícius — o mesmo que chegou a ser preso por atropelar e matar um jovem de 26 anos no Guará. Segundo consta no documento, entre novembro de 2019 e março de 2022, os quatro investigados se utilizaram da conta bancária pertencente à empresa Estilodub e integraram organização criminosa para obter vantagem econômica, mediante a prática de crimes de lavagem de dinheiro.
As rifas variavam entre R$ 5 e R$ 50 e eram vendidas pela internet. De acordo com o MPDFT, para ocultar e dissimular a origem do dinheiro dos sorteios ilegais, os denunciados utilizaram algumas empresas como fachada. Por meio delas, eles recebiam valores oriundos da contravenção penal de jogo de azar e geravam notas fiscais falsas.
Klebim, Pedro, Alex e Vinícius também foram denunciados por exploração de jogos de azar. Pela internet, o grupo promovia e divulgava os sorteios de diversos veículos em redes sociais e por um site específico. As investigações da Divisão de Repressão a Roubos e Furtos (DRF) revelaram que, no período de diligências, os acusados sortearam ao menos 12 veículos de maneira ilícita.
Lavagem de dinheiro
De acordo com o MPDFT, os investigados criaram uma estrutura organizacional criminosa com a finalidade de ocultar e dissimular a natureza e a origem dos recursos financeiros obtidos na venda das rifas. Dessa forma, eles criaram várias empresas de fachada para que os valores pudessem ser "branqueados" mediante a emissão de notas fiscais falsas.
O advogado de Klebim, José Sousa Lima, teria sido contratado pelos investigados para realizar o desbloqueio junto a plataformas de pagamento do dinheiro oriundo das rifas ilegais pela internet. Mas, segundo o Ministério Público, o profissional extrapolou os limites da legítima atuação ao auxiliar os acusados no "branqueamento" desses recursos financeiros.
Huracán 3.0
A operação, que levou à prisão de Klebim, já foi desencadeada três vezes. Na última, em dezembro de 2022, a PCDF prendeu o influenciador digital de Brasília conhecido como Goiano Felype. Pelo Instagram, Goiano promovia os sorteios de veículos de luxo, assim como faziam os influencers Klebim e Big Jhow (também alvos da operação Huracán).
Segundo as investigações conduzidas pela Divisão de Repressão a Roubos e Furtos da Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (DRF/Corpatri), o influenciador havia sido cientificado pela polícia sobre a prática ilegal, mas continuou a com o sorteio de pelo menos dois veículos, além de dissimular os valores arrecadados em contas de “testas de ferro”.
Goiano Felype foi preso na cidade de Uruaçu (GO) por policiais civis do Estado de Goiás, após a Justiça expedir o mandado de prisão preventiva. Na decisão, o juiz Carlos Fernando Fecchio dos Santos apontou fortes indícios de que o investigado está envolvido em crime de lavagem de dinheiro. Ainda segundo o magistrado, “nem mesmo o indiciamento, a publicidade da denúncia oferecida pelo MPDFT com relação a “rifeiros” próximos e a repercussão na mídia nacional sobre as operações relativas às rifas ilegais inviabilizaram a atuação de representado em novos ciclos de lavagem de dinheiro”.
A pedido da PCDF, o magistrado decretou o sequestro de duas caminhonetes preparadas com som e suspensão especiais — uma Ford/F250 e uma GM/S10 – e de um caminhão plataforma, tudo de propriedade do influencer e, supostamente, adquiridos com dinheiro do crime. Também foi determinado o bloqueio do montante de R$ 971 mil das contas investigadas.