Jornal Correio Braziliense

CRIME

Caso Regiane causa revolta pela vida de uma jovem arrancada em uma barbárie

No sepultamento, mais de 150 pessoas homenagearam Regiane da Silva, 21 anos, jovem brutalmente assassinada ao voltar da escola. Criminoso fugiu no "saidão" e acumula condenações por roubo e estupro

A tristeza pela partida inesperada, a revolta e a certeza de que essa despedida vai marcar para sempre a família de Regiane da Silva, 21 anos, foram os sentimentos de mais de 150 pessoas que se reuniram no Cemitério de Planaltina (DF), nesta sexta-feira (28/4), no último adeus à jovem vítima de uma barbárie. Em prantos, familiares, amigos e colegas da escola da estudante se demonstravam inconformados com a morte precoce da garota.

A "garota dos sonhos". Era assim que Regiane era conhecida pelos parentes e amigos. Natural de Brasília, a jovem morou na capital federal até os 13 anos e, depois, se mudou com a mãe e o irmão mais novo para o distrito de Angico dos Dias (BA), onde ficou até cerca de seis meses atrás, quando decidiu dar um novo passo e retornou para o DF com o objetivo de estudar e trabalhar. Ela cursava o 3º ano do ensino médio na Educação de Jovens e Adultos (EJA) desde fevereiro e usava a bicicleta emprestada da tia para ir todos os dias à escola. 

Maria Gleice, 20, estuda na mesma escola que Regiane frequentava, o Centro de Ensino Médio 1 (CEM) de Planaltina. "Ela sempre falava que queria realizar o sonho de trabalhar, juntar dinheiro e reformar a casa da mãe dela. Seria um presente para a mãe. Era uma menina muito tranquila. Sempre que a via, ela estava com o sorriso no rosto", conta. A história de Maria é semelhante à de Regiane: ela também decidiu sair de casa, no Maranhão, para estudar e tentar uma vida melhor na capital do país. "Nos identificamos e falávamos bastante do que enfrentamos para alcançar os sonhos", desabafa. Danielle Madrid, 21, também era colega de classe de Regiane e lamenta a perda da amiga. "A Regiane era sempre sorridente. A gente via o esforço dela nos estudos. Se dedicava sempre para tirar notas boas. Estava muito empolgada. Vai ser muito triste chegar na escola e não vê-la", disse, em lágrimas.

Jorismar da Silva, 42, primo de Regiane, descreveu o sentimento de perda. "Esse é um sofrimento inabalável. Não existe fim para o sofrimento e para a dor de um pai e uma mãe. Pelo sentido da vida, é mais fácil o filho enterrar o pai. E não o contrário. Sei que toda vida é dada e tirada por Deus, mas olha só a tamanha crueldade que foi feita contra essa jovem!", desabafa.

Revolta

O cerimonial fúnebre não teve velório, apenas sepultamento. Além das pessoas próximas à jovem, moradores de Planaltina, comovidos com o caso, compareceram ao cemitério para prestar apoio. Marli Alves, 66, era conhecida da família e pede por Justiça. "Esse é um momento de muito sofrimento, de muita dor. Ainda não me conformo como uma pessoa com esse tanto de antecedentes estava aí na rua, foragido do saidão", desabafa.

Regiane ficou 12 horas em poder do assassino. Sérgio Alves, 42, é o acusado de estuprar, matar e enterrar o corpo da moça em uma área de mata, perto do Rio São Bartolomeu. A vítima apresentava perfurações por arma branca e foi encontrado seminu e envolvo a um tapete na manhã de quinta-feira. O homicida confessou o crime ao ser preso pelos policiais da Guarda Civil Municipal de Planaltina de Goiás (leia Ficha criminal).

A tamanha brutalidade cometida por Sérgio contra Regiane revoltou o DF. Enquanto o caixão da jovem descia à sepultura, familiares gritavam por justiça. "Essa mãe deveria ser indenizada pela Justiça por ter admitido que um bandido como esse fosse solto. Uma pessoa que já tinha histórico de estupro", disse uma familiar.

Inconformada com a perda da filha, a mãe de Regiane, Dulcinéia Alexandre, desmaiou durante o sepultamento da jovem e foi amparada pelos familiares. "Quero minha filha de volta. Regiane, onde você está, minha filha?", gritava, aos prantos.

Familiares confeccionaram camisetas com a foto de Regiane e com uma frase que dizia: "Aqueles a quem amamos nunca morrem, apenas partem antes de nós. Vá em paz, Nininha". Ao final da cerimônia, um grito: "Regiane, presente!" E, por fim, as palmas e os balões brancos soltos ao céu marcaram o adeus à jovem sonhadora. 

Persistência

Desde o dia do desaparecimento de Regiane, na noite de 17 de abril, um grupo de cerca de 10 familiares se mobilizaram para encontrar a jovem. Foram dias andando em matas, regiões de vale e córregos de Planaltina na chance de encontrar a estudante ainda com vida. Mas a esperança deu lugar à aflição e ao sentimento de perda.

Com a prisão de Sérgio, os parentes acreditavam que o criminoso confessaria onde Regiane estaria sendo mantida em cárcere. Mas sem pudor, o homicida desenhou um mapa ainda no hospital — pois tentou tirar a própria vida com uma facada no pescoço ao ser preso — e indicou o lugar onde estuprou a vítima, a matou esfaqueada e a enterrou. Bombeiros e policiais civis foram ao local e, para a dor de todos, confirmaram a informação.

O corpo de Regiane estava envolto em um tapete. Depois de estuprá-la em uma área de mata próximo ao Bairro Nossa Senhora de Fátima, Sérgio obrigou a estudante a acompanhá-lo até uma outra região. Os dois caminharam cerca de 6km até outro ponto de mata, onde ele novamente a violentou e a matou. Segundo as investigações da 16ª Delegacia de Polícia (Planaltina), o homicida enganou a garota dizendo que ela seria liberada, caso atendesse aos pedidos.

Ficha criminal

Morador de Samambaia, Sérgio é casado e tem um filho. Ele acumula uma longa ficha criminal e é considerado de alta periculosidade. Contra ele há seis condenações judiciais desde 2004, das quais quatro são por roubos, uma por ameaça e outra por estupro. Juntas, as penas impostas pela Justiça contra o homicida ultrapassam 45 anos. No começo deste mês, ao ser beneficiado com o saidão, Sérgio não retornou ao Centro de Progressão Penitenciária (CPP) — unidade prisional onde cumpria pena em regime semiaberto. A mesma situação ocorreu em março de 2013. Sérgio será transferido ao Complexo Penitenciário da Papuda, onde ficará inicialmente no Centro de Detenção Provisória (CDP 2). Pelos crimes contra Regiane, ele vai responder por sequestro, roubo, estupro, homicídio e ocultação de cadáver. Caso condenado, as penas podem ultrapassar 80 anos de prisão.

 

 

Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Inconformada com a perda da filha de 21 anos, a mãe de Regiane, Dulcinéia Alexandre, desmaiou
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - 28/04/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Enterro de Regiane da Silva no cemitério de Planaltina. vítima de assassinato.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Mãe da vítima precisou ser amparada durante a cerimônia
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - 28/04/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Enterro de Regiane da Silva no cemitério de Planaltina. vítima de assassinato.
Reprodução/PCDF - Estudante foi abordada após sair da escola
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - 28/04/2023. Crédito: Minervino Júnior/CB/D.A Press. Brasil. Brasilia - DF. Enterro de Regiane da Silva no cemitério de Planaltina. vítima de assassinato.
Minervino Júnior/CB/D.A.Press - Ao final da cerimônia, palmas e balões brancos soltos ao céu marcaram o adeus à jovem sonhadora