Jornal Correio Braziliense

CPI atos antidemocráricos

O planejamento não foi cumprido, disse Subsecretária de Operações à CPI

Subsecretária de Operações da SSP, Cíntia Queiroz disse à CPI dos Atos Antidemocráticos que faltou execução do protocolo de ações para 8 de janeiro e que c ada órgão era responsável pelos desdobramentos

A coronel da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) e subsecretária de Operações da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal, Cíntia Queiroz, relatou, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, que a pasta tentou três vezes desmontar o acampamento de bolsonaristas no Quartel-General do Exército, no Setor Militar Urbano (SMU).

À CPI, Cíntia disse que o Comando Militar do Planalto (CMP) informou às forças de segurança da secretaria de que haviam restrições para a atuação do governo do DF no acampamento em frente ao QG. Em um desses momentos, a coronel pontuou o que era ou não permitido. "O CMP informava que, as operações que fossem desencadeadas dentro do Setor Militar Urbano (SMU) eram apenas para retirar o comércio irregular de ambulantes. Não eram permitidos, por exemplo, tocar nas barracas dos acampados. Não poderíamos mexer na cozinha coletiva. Não poderíamos mexer na tenda religiosa que foi montada. A orientação que a gente tinha era essa", destacou a oficial.

"Nas três vezes que tentamos tirar (o acampamento) foi disponibilizada uma tropa muito grande da PMDF, DF Legal, Corpo de Bombeiros e PCDF, todas as vezes que íamos iniciar a operação, sempre tinha uma resposta (de alguém) do CMP. Não sei se era uma ordem de cima. (Por isso, a operação) era cancelada na hora", completou.

A oficial, que ocupa a função de subsecretária de Operações há dois anos, esclareceu sobre uma troca de mensagens que ela teve com o então secretário-executivo Fernando de Sousa Oliveira, na manhã de 8 de janeiro. Ao ser perguntada sobre o pouco efetivo de policiais militares na Esplanada dos Ministérios à tarde, a oficial argumentou que só deveria questionar sobre o efetivo se fosse demandada pelo secretário de Segurança Pública em exercício, o que não tinha.

"Eu não me envolvo nas atribuições de execuções da Polícia Militar. Às 8h, 9h e às 10h, fiz contato com o coronel Casimiro (ex-comandante do 1° Comando de Policiamento Regional). Até então, no dia 8, não havia previsão de descida de nenhum manifestante à Esplanada. O efetivo que a PMDF tinha, naquele momento, com a quantidade de manifestantes, a informação que foi repassada para o dr. Fernando (então secretário executivo da SSP) condizia com o que estava acontecendo naquele momento", pontuou Cíntia.

No monitoramento da subsecretária, existiam entre 25 a 30 manifestantes na Esplanada, na manhã do dia 8, com 400 policiais. Em ofício enviado à CLDF, Fernando revelou troca de mensagens com a coronel Cíntia, que a oficial repassava informes sobre a área central de Brasília. Todas essas informações, segundo o ex-secretário-executivo, eram repassadas ao governador Ibaneis Rocha (MDB). De acordo com a coronel, a redução drástica de policiais militares na Esplanada, durante a ofensiva de manifestantes, só pode ser respondida por integrantes do Departamento de Operações e CPR.

Inteligência

Cíntia foi responsável pela elaboração do Protocolo de Ações Integradas (PAI). Ela relatou que trocou mensagens com a então subsecretária de Inteligência Marília Alencar, sobre a existências de áudios que chamavam manifestantes para atos do fim de semana do 8 de janeiro. A oficial acrescentou que o plano, elaborado pela subsecretaria que ela comandava, teve falhas na execução e não no planejamento. "Todo planejamento feito por mim e pela minha equipe segue atos normativos. Por exemplo, se eu for fazer (policiar) um jogo de futebol, sigo um ato normativo, que é o Estatuto do Torcedor (...) No termo de planejamento, foi tomado providências. No 8 de janeiro, cada órgão era responsável pelos desdobramentos operacionais. Estou há dois anos afastada da polícia, em um cargo de planejamento. Não foi executado (o planejamento) da forma que foi planejada. Para responder quem errou, tem que verificar quem estava respondendo sobre o Departamento de Operações. O planejamento não foi cumprido", pontuou.

Ao fim, Cíntia reforçou que, no dia em que foi realizada a reunião para a elaboração do PAI, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) — chefiado pelo então ministro e general Marco Edson Gonçalves Dias, conhecido como G. Dias — e a Câmara dos Deputados não participaram, porque não atenderam aos chamados. A oficial também contou que o general Dutra, que exercia o comando do CMP, a secretária de Desenvolvimento Social Ana Paula Marra, e o então secretário Anderson Torres, se reuniram na manhã daquele 6 de janeiro para tratar sobre pessoas em situação de rua que estavam no QG, se misturando aos bolsonaristas.