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Vídeos esquentam clima na CPI e disputa entre esquerda e direita

Sem sigilo, imagens criam narrativas tanto de bolsonaristas quanto de petistas que, agora, trocam acusações sobre responsabilidades durante as invasões às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro

A presença de militares integrantes do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 8 de janeiro, na invasão ao Palácio do Planalto, repercutiu na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa. De um lado o presidente da CPI, Chico Vigilante (PT), defende que nada mude na condução dos trabalhos. Do outro, o relator das investigações, deputado Hermeto (MDB), pretende transferir a responsabilidade para membros do atual governo federal.

As primeiras imagens, que estavam sob sigilo, começaram a ser divulgadas na imprensa na última quarta-feira e mostravam o então chefe do GSI Gonçalves Dias em meio aos terroristas os conduzindo para que deixassem o Planalto. A situação do ex-chefe da segurança do petista ficou insustentável e ele pediu demissão.

Na última sexta, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou a quebra do sigilo de todas as imagens de 8 de janeiro, mostrando novos detalhes da invasão à sede da Presidência da República, dando combustível à nova disputa entre governistas e oposição.

Com o novo episódio, os dois principais nomes da CPI dos Atos Antidemocráticos iniciaram uma guerra de narrativas. "Essas novas imagens mudam tudo. Agora temos a presença do homem-forte da segurança do presidente Lula que nada fez. A Polícia Militar foi criticada por uma suposta ineficiência, agora, temos imagens da PM prendendo os manifestantes, enquanto o general G. Dias estava dando água. Isso mostra a ineficiência do governo Lula e do seu gabinete", atacou Hermeto.

O próprio relator apresentou requerimento para a convocação do general G. Dias. O documento deve ser levado à votação amanhã, quando o colegiado deverá se reunir. Antes, porém, o emedebista deverá se reunir em particular, hoje, com Chico Vigilante (PT).

Para Vigilante, a presença de G.Dias não altera a forma como a CPI está sendo conduzida. "Essas imagens não mudam em nada. Tudo que aparece ali, era de conhecimento de todos. A CPI tem que continuar da mesma forma, pois temos que cumprir a Constituição. Eu conheço de longa data o general G. Dias, sei da seriedade com que ele trabalha. Ele estava onde deveria estar. A questão é que quem está preocupado com as imagens são os bolsonaristas, que agora terão que abrir a CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do Congresso, que deve convocar todo mundo, inclusive o Bolsonaro."

Chico explica que gestão de Lula ainda estava no início e não seria possível ter feito a troca de todos os postos do GSI. "As imagens mostram homens de confiança do Bolsonaro. Pessoas que viajavam com ele", acrescenta.

Convocações

O presidente da CPI informou ao Correio que, além de G. Dias, serão convocados os generais Gustavo Dutra de Menezes, então comandante Militar do Planalto, que interviu contra a prisão dos terroristas em frente ao Quartel General do Exército; e Augusto Heleno, que era chefe do GSI na gestão Bolsonaro e que deu um "bolo" na comissão na última semana. "Consultei a assessoria jurídica da Casa e me disseram que eu posso convocar. Quem não quiser vir que vá à Justiça e peça para ser dispensado", concluiu Vigilante.