Em Brasília e no Correio desde 1968, apenas oito anos após o nascimento de ambos, a jornalista Liana Sabo pode e deve ser considerada um dos patrimônios vivos da capital e do jornal brasiliense. É por esse pioneirismo que ela fecha a série do especial Podcast do Correio — 63 anos de história, programa que reúne jornalistas e profissionais do veículo para contar a trajetória de Brasília pelos olhos dessas testemunhas oculares.
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Aos jornalistas Ronayre Nunes e Talita de Souza, Liana contou sobre como a entrada no jornal já mostrou a ela como era Brasília e o jornalismo na época: momentos de tensão que demandavam ousadia.
“Eu vim conversar com o chefe de redação para conseguir uma vaga, e um protesto dos estudantes da Universidade de Brasília resultou em uma briga entre policiais e os alunos, fato que fez com que todos os repórteres fossem para o local”, conta a repórter, que na época tinha 19 anos e tinha acabado de se graduar na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
“Só que eles não voltavam ao jornal e o chefe estava preocupado porque precisava de informações para fazer a edição do outro dia. Ele virou para mim e disse ‘minha filha, eu só tenho você. Vai lá’. E eu fui”, lembra. No mesmo dia, Liana teve que enfrentar um policial para conseguir acesso ao local em que a briga ocorria e diz que nunca esqueceu do momento.
No mesmo ano, o trabalho de Liana levou a repórter a cobrir o Palácio do Planalto e noticiar as viagens dos presidentes da República da época. O momento, que demandava muita entrega, foi marcado por pioneirismo feminino. “A primeira viagem que fiz de um presidente da República foi aos Estados Unidos. Nós éramos uma comitiva de 25 jornalistas e 24 eram homens. Eu era a única”, relata.
Liana passeou pelos 55 anos de experiência no Correio e contou como driblou as dificuldades de cada época, desde o machismo até enviar dados de uma cobertura no Japão em uma época sem internet. A repórter também contou como é a experiência de ser a primeira jornalista de Brasília a tornar “comida e vinho notícia”.
Ela é dona da coluna Favas Contadas desde 1998, que reúne as novidades e análises sobre a gastronomia brasiliense — um compilado dessa parte da carreira de Liana está eternizada no livro Histórias dos sabores que vivi, organizado por Rosualdo Rodrigues.