Hoje é dia de São Jorge, um dos santos mais populares do Brasil, e um dos únicos queridos tanto pela Igreja Católica Apostólica Romana, quanto pela Igreja Ortodoxa e também pelas religiões de matrizes africanas, onde é conhecido como Ogum ou N’kosi. Aqui no Distrito Federal é notória a presença do santo guerreiro. Há igrejas e devotos espalhados por toda a capital, que hoje celebram a força de São Jorge diante das batalhas e obstáculos da vida.
O santo ganhou notoriedade pela incansável dedicação ao Cristianismo, marcada por perseguições, milagres e uma fé inabalável no poder divino, se tornando, assim, um símbolo de superação e alento nos momentos difíceis. A bacharel em direito Márcia Gargalhone, de 45 anos, cresceu vendo a tia e a avó fazendo rituais de fé para São Jorge, e por influência delas, trilhou o caminho da fé em Jorge. Ela se mudou para Brasília em 2013 e manteve viva a devoção e fez uma bela homenagem ao santo. “Eu e meu marido somos muito devotos, inclusive o nome do nosso filho é Jorge em homenagem ao santo” , contou.
Ao longo da vida, Márcia diz ter vivido experiências que só fizeram aumentar sua fé. São Jorge a ajudou a ultrapassar um dos momentos mais difíceis da vida dela. “Em 2014 meu marido teve uma doença chamada trombofilia do mediterrâneo, que o fez infartar. Ele precisou passar por duas cirurgias e na terceira eu já estava desesperada, porque eu achava que ele não ia resistir. No dia do procedimento, ele estava internado no Hospital Alvorada, eu, muito angustiada e com medo pensei 'eu preciso ir em uma igreja rezar para São Jorge', E fui em uma paróquia católica em frente ao hospital, e quando eu entrei algo me disse para olhar pro lado e quando eu olhei era uma imagem de São Jorge, e eu comecei a chorar muito, aquilo pra mim foi um sinal, de que ele cuidaria de tudo.” disse emocionada.
O marido de Márcia foi curado, mesmo com a equipe médica alertando sobre a chance de 10% dele sobreviver e sobre a gravidade do caso.” Depois fui ao Rio de Janeiro e levei um coração que se compra em casas de umbanda, para agradecer a São Jorge por ter cuidado do meu marido. Tudo que eu peço a São Jorge eu alcanço. Fazemos questão de ir todos os anos para a festa de São Jorge no Rio de Janeiro.” disse a devota.
Carioca com raízes brasilienses, Roberto Silveira, 65, sempre teve contato com a figura de São Jorge por conta da presença marcante do santo no Rio de Janeiro. "Vindo para Brasília, a minha sogra sempre foi devota de São Jorge e isso aguçou mais ainda a minha devoção e admiração a São Jorge, inclusive ela me deu uma imagem do santo, que tenho há 40 anos" , contou
Roberto tem uma conexão muito forte com o santo, o que segundo ele, o leva a ter uma ideia diferenciada das coisas, inclusive dos obstáculos e adversidades da vida."
Uma situação que me marcou muito foi o nascimento da minha filha, quando a minha mulher ficou grávida ela tinha sofrido recentemente um aborto espontâneo. E no decorrer da gravidez, ela teve toxoplasmose (doença infecciosa causada por protozoário), e eu tive rubéola e a gente firmou uma corrente muito forte com São Jorge pedindo que tudo desce certo com o nascimento da minha filha. Havia o risco de ela nascer com alguma sequela por conta da doença da minha esposa, mas graças a Deus, ela nasceu bem. Mas esse é apenas um dos vários registros que eu posso citar sobre a mão de São Jorge na minha vida ", relatou o carioca.
Tudo em volta de Roberto tem o santo guerreiro como amuleto. "Eu tenho mais de 30 camisetas de São Jorge, todos os meus carros tem um adesivo de São Jorge, o meu cachorro tem a medalha com a imagem dele, os meu netos e os meus filhos, todos carregam a imagem dele. Inclusive, os meus dois netos saíram da maternidade com um body de São Jorge ", relatou.
Festividades
O monsenhor Agápios Al Sayegh da Igreja Ortodoxa Antioquina de São Jorge, no Lago Sul, contou que grande parte dos frequentadores do templo são devotos, e sempre se reúnem durante as festividades feitas para celebrar o dia de São Jorge. Hoje, a paróquia ortodoxa São Jorge e Expedito, na Ceilândia, faz a tradicional procissão e missa em homenagem ao padroeiro da igreja.
A servidora pública, Adriana Reis, 49, contou que ficou dois anos afastada do trabalho por conta de uma depressão profunda, e nesse período o santo guerreiro foi fundamental para que ela conseguisse seguir em frente. “Por conta da separação de um casamento de nove anos, eu me afastei da espiritualidade e caí na depressão. Até então não conhecia a Umbanda e não conhecia Ogum. Conhecia São Jorge da igreja católica, mas não tinha nenhuma ligação com esse santo”, relatou.
O primeiro contato de Adriana com Ogum foi em um terreiro de Ceilândia, onde a mãe de santo era de Ogum. Ali ela encontrou forças para superar os problemas de saúde. “Foi este Orixá que devolveu o meu discernimento e me resgatou como ser humano. Depois me tornei devota e umbandista.” O encontro com o Orixá guerreiro foi tão transformador que Adriana que ela se batizou na Bahia e se tornou mãe de santo há quatro anos. Ela tem o próprio terreiro e o padrinho é Ogum.
A capela São Jorge da Polícia Militar do DF, é dedicada ao santo guerreiro, que desde de 2019 foi declarado pelo Arcebispo Ordinário Militar do Brasil padroeiro dos militares. “São Jorge é um dos santos mais conhecidos da igreja católica. Grande herói da fé pelo martírio e pela castidade. Para a PMDF também é importante pelo testemunho de verdadeiro homem público das armas. São Jorge foi membro da guarda pretoriana do Imperador Deocleciano”, explicou o Diácono da capela, Emerson Cândido.
Ainda segundo o Diácono, todos a igreja da PMDF celebra São Jorge com missa festiva, pedindo sua intercessão e proteção e, ao final, confraternizam com os membros da comunidade. Nas religiões de matriz africanas, o mês de abril é totalmente dedicado ao santo, para que os caminhos sejam abertos e todas as batalhas sejam vencidas.