"Toda vez que escuto um barulho no corredor penso que pode ser ela chegando." As palavras são de uma mãe que há 1 ano e 2 meses busca notícias da filha desaparecida. Sara Carlos de Morais Silva, 14 anos, saiu de casa, em Taguatinga Norte, em 16 de janeiro de 2022, dizendo que iria a um shopping de Ceilândia com uma amiga. Ela nunca mais foi vista. A história do desaparecimento da garota foi revelada em detalhes pelo Correio Braziliense há três meses e se aproxima do capítulo final. O principal suspeito pelo sumiço da menina está preso em São Paulo e será trazido ao DF.
Em janeiro deste ano, o Correio publicou a reportagem "Desaparecimento e suspeita de assassinato: onde está Sara Morais, 14 anos?", que revelou detalhes inéditos de fatos que antecederam o sumiço da adolescente, inclusive uma suspeita de estupro cometido pelo homem preso em São Paulo, até então conhecido como Fernando. As equipes da 17ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Norte), encarregadas pelo caso, descobriram que, na verdade, o homem chamava-se Jailton Silva dos Santos e era foragido da Justiça desde 2013 por um roubo cometido em Brazlândia.
Jailton e Sara se conheceram em uma festa na região da Estrutural. O homem era dono de uma empresa de limpeza de estofados e convidou a garota para ajudá-lo no serviço. Ana Cleide Carlos de Morais, 47, mãe de Sara, relembra que Jailton esteve na casa dela para pedir autorização para que Sara trabalhasse com ele. "Ele chegou à noite, de boné, todo acuado e, aparentemente, demonstrando ser uma boa pessoa. Sentou na mesa e disse que queria ajudar nossa família. Como a Sara não queria estudar, vi uma boa oportunidade para ela trabalhar. Aqui (em casa), ele jantou e passou toda essa imagem de bom moço", relata a empregada doméstica.
O serviço começaria logo no dia seguinte. Sara chegou a trabalhar com o suspeito e, ao término do expediente, foi convidada por Jailton para ir à casa dele, onde teria um aniversário. No dia seguinte, a adolescente contou à irmã que havia ocorrido algo de estranho na residência. "Ela contou que havia sido estuprada, mas não queria registrar boletim de ocorrência por medo. Sugeri irmos à delegacia, mas ela estava com receio", afirmou Vânia Morais, 21.
Após o episódio do suposto estupro, Sara parou de visitar a Estrutural e se afastou de alguns amigos. Tornou-se, segundo a mãe, uma adolescente reclusa, trancada no quarto e amedrontada. "A Sara relatava que não podia aparecer na Estrutural, que o pessoal queria pegar ela, caso a encontrasse. Mas ela nunca falava e desabafava nada para mim", diz a mãe.
A mãe de Sara vive sob efeito de remédios. "Não perdi a esperança". "Quero encontrar minha filha viva ou morta. Não quero que escondam nada de mim, só isso que peço. É muito sofrimento. Eu estou levando a situação, mas não dá para se conformar", frisa.
Prisão
As investigações da PCDF revelaram que Jailton passou a se esconder em São Paulo após o desaparecimento de Sara ganhar notoriedade na mídia. O Correio apurou que, em depoimento prestado na delegacia de São Paulo, o suspeito negou envolvimento no sumiço da menina, mas admitiu conhecê-la. Contou, ainda, que certa vez a levou em casa após uma festa. Os policiais, no entanto, notaram contradições na versão contada. "Uma testemunha negou que ele tenha levado ela (Sara) para a casa. Sabemos que ele mentiu e isso só corrobora para que ele seja o principal suspeito desse sumiço", frisou o delegado Mauro Aguiar, chefe da 17ª DP.
Outras ocorrências que acusam Jailton por estupro surgiram após o desaparecimento da Sara. Uma das vítimas relatou, pelas redes sociais, ter sofrido uma tentativa de homicídio. Segundo a jovem, ao sair de uma boate, foi abordada pelo suspeito, que insistiu que ela fosse com ele a uma "after". Após a recusa, de acordo com a vítima, Fernando a segurou com força e os dois entraram em luta corporal. "Quando ele viu que não conseguiria me levar, pegou uma pedra e bateu contra a minha cabeça, me deixando tonta no chão e falando que iria me matar. Depois que fiquei tonta no chão, ele pediu para eu ir com ele ou morrer. Fingi que iria com ele e depois consegui fugir e fui à delegacia", detalha.
Jailton morava na Estrutural, mas chegou a residir em algumas casas de Vicente Pires. O Correio apurou que duas vítimas do suspeito contaram à polícia que, ao irem na casa dele, sentiram um forte odor no quintal da casa dele.
O imóvel ainda não foi identificado pela polícia. De acordo com o delegado, a divulgação da foto de Jailton pode ajudar na localização do endereço em Vicente Pires e de possíveis outras vítimas feitas por ele. "As diligências continuam no intuito de comprovar autoria e eventual paradeiro da jovem desaparecida. A ajuda da população, especialmente dos moradores de Vicente Pires, é crucial para acharmos essa casa e comprovar ou descartar qualquer coisa. As denúncias podem ser feitas pelo número 197 de maneira anônima", concluiu.