De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com o maior índice de transtorno de ansiedade no mundo. As várias demandas diárias, em casa, no trabalho e nas relações interpessoais, causam preocupações intensas, excessivas e persistentes, além do medo de situações cotidianas. A qualidade de vida das pessoas acometidas pela ansiedade é drasticamente afetada e o estresse é uma das principais causas do mal.
O grande desafio dos ansiosos é o foco no agora. O Programa de Redução de Estresse, ofertado pela Sociedade Vipassana de Meditação (SVM), ajuda os alunos a identificar onde está o foco e mudá-lo para o objeto e momento desejados. São oito aulas presenciais semanais, cada uma com duração de três horas, e um retiro de seis horas, na sede da SVM, na 909 Norte. São ensinadas diversas técnicas de meditação e movimentos corporais. Haverá, ainda, momentos de interação com os colegas em duplas ou grupos, proporcionando compartilhamento de vivências.
As aulas são ministradas pelo professor de mindfulness Marcus Santos. O termo em inglês significa "consciência plena". "A maioria das pessoas chegam com ansiedade. É muito comum que a mente fique perdida no passado ou no futuro. No curso, o objetivo é treinar e trazer o foco para o agora. É um exercício mental", explica. "Já foram constatados benefícios em casos de fibromialgia, diabetes, insônia e pressão arterial alta", relata o professor.
Santos frisa que qualquer pessoa pode meditar a partir dos 6 anos de idade. No entanto, o programa é voltado para o público com mais de 18 anos. As próximas turmas começam a partir de 25 de abril, com finalização em 17 de junho. As inscrições são feitas até 25 de abril, no endereço sociedadevipassana.org.br/mbsr/. O investimento é no valor de R$ 1,3 mil, que podem ser parcelados no cartão de crédito. Em 12 de abril, haverá uma palestra introdutória gratuita sobre o curso, às 19h, na sede da SVM.
Mudanças
Professora da Secretaria de Educação do Distrito Federal, Gigliola Mendes, 41 anos, foi diagnosticada com transtorno de ansiedade generalizada aos 30. "Começo a fazer muitas coisas ao mesmo tempo e adoeço pelo excesso de cobranças e pela pressão. Quando fico sobrecarregada, sinto falta do silêncio e corro de volta para a meditação", confessa. Ela concluiu o Programa de Redução de Estresse no final de março deste ano. "Eu tenho conseguido estar presente em minhas atividades. Desde as mais simples, como tomar banho e comer, até as mais complexas, como dar aula e me exercitar", revela a docente.
Foi no metrô de São Paulo que Gigliola pôde pôr em prática o conhecimento adquirido com o método de meditação mindfulness. "Comecei a ter uma crise de pânico no caminho para a Avenida Paulista. Fechei os olhos e foquei na respiração por 90 segundos. Depois meditei por menos de 10 minutos na estação, o que foi suficiente para que eu continuasse o meu passeio com meus amigos, como se nada tivesse acontecido", lembra ela. "Com o curso, passei a compreender os efeitos da meditação e a enfrentar o estresse. Agora, medito todos os dias. O curso criou uma base consistente para que eu criasse novos hábitos", comemora.
Luiz Flávio Higa, 42, sabe bem do que Gigliola fala. A experiência com a meditação mindfulness lhe deu condições mais viáveis para abandonar um vício tóxico: o tabagismo. Higa fumava desde os 14 anos e já havia tentado parar várias vezes, mas as crises de abstinência sempre o faziam voltar ao péssimo hábito. Essas crises se manifestavam com insônia, tontura, fadiga e falta de concentração. Agora, ele encara o desafio de maneira diferente. "A meditação não é um remédio, mas sim uma mudança de comportamento que não é intencional. Ao acrescentar os 15 minutinhos de meditação na minha rotina, a mudança de comportamento acabou sendo inevitável", sustenta.
Higa já tinha praticado meditação antes do programa, mas com o método mindfulness foi a primeira vez, na Vipassana. "A mudança veio naturalmente, sem o peso da obrigação. Os estressores que aparecem na minha vida, no dia-a-dia, ficam sob controle, gerando menos ansiedade, e, como consequência, não tenho tido crises de abstinência".
Experiência
A psicóloga clínica Isabel Frantz medita desde 2007, na Vipassana, quando se preparava para fazer um mestrado em Lisboa. A iminência da experiência de morar no exterior lhe dava ansiedade devido à enxaqueca. "Quem sofre de dor crônica sabe que é refém do problema", constata. O Programa de Redução de Estresse levou Frantz a conhecer novas camadas do poder da meditação. Ela fez o curso em 2020, em meio à pandemia, na modalidade à distância. "Para mim, ficou muito clara a plasticidade neuronal, que é a capacidade de achar novas formas de agir das que estamos acostumados, devido a traumas do passado", explica.
O treinamento da respiração é outra vantagem do curso destacada por Isabel. "Está em uma situação ruim? Respire. O curso é muito bom para mudar comportamentos automatizados do organismo. Mas isso leva treinamento e tempo, por isso a importância do programa", salienta.