Mesmo com mais de 2,2 milhões de cristãos no Distrito Federal, Jesus não conseguiu superar a popularidade das sobremesas de Páscoa. As buscas no Google por "cacau" ou "chocolate" foram duas vezes maiores do que as feitas por "Jesus". Somados, os doces tiveram 74 pesquisas por minuto. Enquanto Jesus Cristo, 37. Quem entrava no Google procurava por bolos, barras e caldas.
Na tarde deste domingo (9/4) – em que se comemora a ressurreição de Cristo – o interesse pelos ovos de Páscoa na capital também foi maior. De 100 pesquisas, 31 estavam relacionadas a ovos de chocolate e outras 28 eram sobre Jesus.
O brasiliense se atraiu mais até pelas marcas de chocolate do que pelo filho de Deus. Cacau Show, Kopenhagen e Brasil Cacau foram 10% mais pesquisadas. Os moradores queriam saber preços de bombons e endereços de lojas e se tinham serviço de delivery.
O levantamento foi feito pelo Google Trends, que mostra em tempo real as buscas mais repetidas na plataforma.
A ferramenta ainda revela que até mesmo o coelhinho da Páscoa passou na frente do Senhor. Na madrugada, o animal ícone da data foi 144% mais pesquisado.
"Está acontecendo uma espécie de ressignificação", explica o historiador e professor de teologia Julio Chaves. "Essas festas, para muita gente, perdeu o significado religioso", completa.
Ovos de chocolate e o coelhinho
Para os povos da Antiguidade, o ovo significa o surgimento de uma vida nova, renascimento e renovação. Já o coelho — que pode gerar até 10 filhotes, de quatro a oito vezes por ano — é ligado à fertilidade e à abundância de vida.
Os símbolos associados ao feriado tem origem pagã (vindas de religiões politeístas), mas ao longo do tempo foram se misturando às tradições cristãs.
Na avaliação do especialista, estamos vivendo um momento em que a Páscoa deixa de ser a comemoração da ressurreição de Cristo e passa a ser uma festa de troca de chocolates.
"Com o Natal ocorre algo semelhante. Uma festa que devia ser sobre o nascimento de Cristo, está se transformando numa festa de dar presentes, de comemorar o inverno [no hemisfério norte]", acrescenta.
De acordo com o historiador, a Europa e o Continente Americano estão em processo de "descristianização". O catolicismo vem perdendo cada vez mais fiéis e os feriados religiosos são os momentos em que os cristãos voltam a se interessar pela Igreja.
O diagnóstico de Chaves coincide com os dados do Google Trends. O interesse por Jesus se mantém em baixa durante boa parte do ano, mas com dois picos: no Natal e na Páscoa. Em Brasília, no Dia do Evangélico, há um terceiro aumento.
Para ele, a indústria do entretenimento percebeu esse comportamento e usa para lucrar. "São épocas onde se lança filmes sobre Jesus, livros sobre os apóstolos, reportagens sobre o assunto", indica.
*Estagiário sob a supervisão de Márcia Machado