Jornal Correio Braziliense

Semana Santa

Hospital da Criança promove bênção especial para os pequenos pacientes

O Hospital da Criança de Brasília proporcionou uma cerimônia de lava-pés para toda a família, nesta quinta-feira (6/4). Celebração religiosa teve adesão de pais. "É uma força a mais", comemora Angélica da Conceição, mãe de uma paciente, de 3 anos

Em celebração à Semana Santa, um momento religioso idealizado pelos funcionários do Hospital da Criança foi prontamente abraçado pelos familiares, que realizaram, ontem, o ato simbólico com lavagem de pés das crianças internas e seus respectivos responsáveis. O evento contou com um líder cristão e possibilitou homenagens a familiares perdidos, assim como o reencontro com a fé.

Para Angélica da Conceição, 38, a cerimônia de lava-pés foi um momento de reafirmação da fé. Ela acompanha a internação da filha, Alice Maria, 3 anos, e conta que o isolamento decorrente da pandemia a afastou da igreja. Mesmo com o afrouxamento das medidas sanitárias, Angélica não pode retomar o hábito de comparecer a celebrações religiosas por precisar cuidar da saúde da filha. Alice nasceu poucos meses antes do início da pandemia de covid e, já nos primeiros anos de vida, enfrentou dificuldades por ter um único rim que apresenta funcionamento comprometido.

As dificuldades causadas pela condição renal incluem atenção redobrada com a alimentação e horários de medicação, além de evitar contato com outras crianças para prevenir doenças e, ainda, 10 horas diárias de diálise. Para a fiel católica, que retomava cautelosamente a vivência religiosa, conforme Alice recebia vacinação contra a covid, a fé foi um suporte para os desafios da rotina no hospital. "É uma força a mais, a gente renova a nossa fé e é isso que a gente precisa a cada dia. Mas, às vezes é muito difícil", desabafa a mãe.

Devota de Nossa Senhora, a dona de casa conta que o lava-pés proporcionou um reencontro com sua relação com a Igreja. "Quando fui convidada a participar, eu cheguei a chorar e agradecer. Foi muito importante porque, apesar de aqui ser um hospital maravilhoso e com uma ótima estrutura, ele não é a nossa casa", observa. A mãe conclui explicando que a Semana Santa significa, para ela, um recomeço. "É um momento de renovação, de se arrepender de todos os seus pecados e de daquilo que já passou. É começar de novo a partir do zero, no propósito de não errar, de ser uma pessoa melhor e reforçar a fé nos momentos em que ela está mais abalada", reflete Angélica.

Maternidade

Durante o evento, os pais tiveram os pés lavados, seguidos pela lavagem dos pés das crianças. Ilda Peliz, 72, uma das fundadoras do Hospital da Criança, lavou os pés de uma mãe e sua filha com o auxílio do frei presente no local. "Assim como Jesus lavou os pés do discípulo, que eram pessoas mais humildes que ele, eu sugeri que os pés das mãe fossem lavados, porque a mãe é importantíssima e precisa ser valorizada", defendeu.

Ilda idealizou o Hospital da Criança após perder sua filha por um tumor no cérebro com mínimas chances de recuperação. Ela ressaltou a importância da maternidade na recuperação de internos. "A mãe é fundamental para a cura do filho. Não adianta receber um tratamento aqui, mas chegar em casa e não ter higiene necessária e não ter alimento", orienta. Para ela, as mães oferecem apoio incondicional da equipe médica e usa a própria experiência como exemplo. "Eu não dormia. Virava noites sem dormir para cuidar dela. As mães fazem isso. Então, hoje foi um momento também te acolher essa mãe", enfatizou.

A superintendente do Hospital da Criança, Valdenise Tiziane, 59, revela que é a primeira vez que é realizada uma cerimônia do tipo. A ideia, que começou tímida, foi logo tomando adesão dos funcionários do hospital e tomou ainda mais corpo com o engajamento espontâneo dos pais. Ela argumenta que trazer a religiosidade ao ambiente hospitalar é necessária devido à complexidade do serviço de saúde. "Nós vemos a criança na sua integralidade. Não tratamos de um órgão, de um coração ou de um cérebro, mas sim de uma pessoa, que tem seu lado orgânico, mas tem também sua espiritualidade", declarou.

A ação foi ministrada pelo Frei Edgar Alves, 52. O sacerdote expõe que o ato de lavar os pés simboliza aos fiéis cristãos os preceitos de Jesus. "É um gesto de amor que Nosso Senhor ensinou e também um gesto de serviço, de se colocar à disposição do outro. Ao lavar os pés, a gente está desejando o melhor para aquela pessoa, que ela se sinta bem e acolhida", argumentou.

Para o líder religioso, a cerimônia tem a importância de relembrar a "finitude da vida". "Por isso, a gente não pode se sentir superior ao outro, a gente não pode pisar ou machucar a outra pessoa. Então, esse gesto fez as pessoas se emocionarem por que nós percebemos a nossa finitude e o quanto precisamos ser rápidos em fazer coisas boas", conclui o frei.

*Estagiário sob supervisão de Patrick Selvatti