É tempo de celebração para algumas religiões. Este ano, as datas se aproximaram no calendário e tanto Judeus e como cristãos vão comemorar a Páscoa na mesma semana. A compatibilidade de datas trouxe a tona as tradições e jeitos diferentes de vivenciar esse momento. Mas com um elo em comum, para todas essas religiões, a época simboliza um acontecimento importante de passagem para para ambas as crenças.
O historiador e professor da Faculdade de Teologia da Arquidiocese de Brasília, Dr. Julio Chaves explicou sobre o surgimento da celebração. Segundo ele, a Páscoa é uma festa de origem israelita/judaica que comemora a fuga do povo hebreu do Egito, segundo relatos do livro de Êxodo, o terceiro das escrituras judaicas, correspondendo ao antigo testamento na fé Cristã.
Ainda segundo Júlio, a Páscoa judaica segue o calendário lunar, enquanto no calendário ocidental, usado pelos cristãos, a referência é o ciclo solar. O Pessach (nome da Páscoa para os judeus) significa travessia, celebra a libertação do povo judeu do Egito. A comemoração ocorre sempre na primeira lua cheia depois do início da primavera no hemisfério norte. Neste ano, será festejada na noite do dia 5 para 6 de abril e as celebrações se estendem até a noite do dia 13 de abril.
No cristianismo, a Páscoa é vivenciada de diferentes maneiras, por conta das distintas religiões que seguem os ensinamentos de Jesus Cristo: os católicos, os ortodoxos e os protestantes. Mesmo que celebrando de forma diferente, o motivo é o mesmo para todas, a morte e ressurreição de Jesus Cristo. É o marco central da doutrina. E no calendário deste ano, ocorre entre 2 e 9 de abril.
"Desde o séc. II havia controvérsia sobre a fixação da data da Páscoa entre cristãos orientais e ocidentais. O Concílio de Nicéia (325) estipulou que deveria ser a mesma para todos os cristãos, mas a decisão nunca foi posta em prática", disse o historiador.
Tradições
Pessach é a festa mais antiga do calendário judaico, de forma tradicional, é comemorada com a família e amigos em volta de uma mesa arrumada e repleta de comidas tipicas e símbolos da fé judaica. Na ocasião, é contada a história da escravidão e libertação do povo judeu, por meio da leitura da Hagadá, um dos mais antigos livros da liturgia judaica.
A celebração dura sete dias, número da perfeição na cultura israelita. Neste período, não se consome nada que seja fermentado. Isso porque, durante a fuga apressada do cativeiro, os judeus comeram o pão que tinham preparado, sem esperar a massa crescer. Essa abstinência ao fermento virou então um ritual durante a festa do Pessach.
A judia Vivienne Landwehr, 70, integra a Associação Cultural Israelita de Brasília (ACIB) e guarda a data como um momento religioso e afetivo. "Me faz voltar à casa dos meus avós" contou. Segundo ela, atualmente existem cerca de 200 famílias judias em Brasília, que costumam se reunir para passar o Pessach juntos.
Para os católicas, a preparação para a Páscoa inicia-se depois do carnaval, na quarta- feira de cinzas, que marca o começo da quaresma. A celebração é um período muito importante para a doutrina, além de celebrar a ressurreição do filho de Deus e sua passagem pela terra é o ponto alto de todo calendário litúrgico da igreja.
Segundo o Padre Antônio Xavier, da arquidiocese de Brasília, a quaresma é um período de introspecção. "E a preparação para a grande festa da ressurreição, um momento de recolhimento". O sacerdote também explicou que a data relembra todos os momentos até a crucificação de Cristo.
O período da Quaresma dura até o domingo de ramos, momento que simboliza a entrada de Jesus em Jerusalém e o início da Semana Santa. Em seguida, a quinta feira santa, que para a crença remete a última ceia de cristo e a eucaristia. A sexta-feira da paixão, dia da morte de Jesus, e o único dia que não tem missa nas igrejas católicas. No sábado de aleluia ocorre a vigília pascal, um ritual de preparação para a ressurreição de Jesus, no Domingo de Páscoa.
A principal diferença entre as tradições da Igreja Católica e Ortodoxa está na data da Páscoa. Os ortodoxos sempre celebram a data mais tarde porque seguem o calendário juliano, do período de Júlio César, e não o gregoriano, instituído pelo papa Gregório XIII.
Ainda que cristãos, os protestantes vêem a Páscoa de maneira diferente. Não costumam celebrar todos os dias da Semana Santa como católicos, dando enfase a Sexta-feira Santa e ao Domingo de Páscoa. "Na celebração da Sexta-feira Santa, lembramos a crucificação de Jesus. Neste culto são lidas as passagens do Evangelho que narram a sua condenação e morte. Tratamos o sábado como um dia da ausência de Jesus neste mundo e, no domingo comemoramos a ressurreição", explicou a pastora Romi Bencke da igreja evangélica de confissão luterana do Brasil.
Ainda segundo ela, a Páscoa para os protestantes é um momento de reafirmação de fé. "Nesse período refletimos e meditamos para sermos mais coerente com o Evangelho de Jesus Cristo" , ressaltou a pastora.