Saúde

Demora no diagnóstico de câncer em crianças reduz chances de cura

Em Congresso do Hospital da Criança de Brasília, especialistas afirmam que diagnóstico preciso e em momento oportuno é fundamental para combater o câncer pediátrico

Ana Luiza Moraes*
postado em 28/04/2023 19:45
O simpósio foi programado pelo Congresso Internacional da Criança com Condições Complexas de Saúde e organizado pelo HCB. -  (crédito: Eduardo Torres/HCB)
O simpósio foi programado pelo Congresso Internacional da Criança com Condições Complexas de Saúde e organizado pelo HCB. - (crédito: Eduardo Torres/HCB)

Diagnosticar o câncer de forma precisa é crucial para a recuperação efetiva do paciente. Os especialistas participantes do Simpósio “Enfrentando uma doença complexa: compartilhando modelos bem-sucedidos de oncohematologia pediátrica” destacam que descobrir a doença em momento oportuno pode aumentar a taxa de cura e sobrevivência dos pacientes. O simpósio foi programado pelo Congresso Internacional da Criança com Condições Complexas de Saúde e organizado pelo Hospital da Criança de Brasília José Alencar (HCB) em parceria com o Hospital Sant Joan de Déu, de Barcelona.

Neviçolino Pereira de Carvalho, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (Sobope), afirma que a demora em diagnosticar o câncer reduz as chances de cura ou sobrevivência. De acordo com o presidente, 1 entre 5 pacientes com menos de 18 anos que enfrentam câncer morre antes mesmo de iniciar um tratamento. “Precisamos superar todos os obstáculos relacionados ao diagnóstico precoce”, diz.

O presidente diz que para um diagnóstico preciso, é necessário oferecer o tratamento mais eficiente ao paciente. “O diagnóstico oportuno vai levar a um estadiamento adequado. Dessa forma, as crianças receberão terapias específicas para a sua situação, o que pode garantir uma melhor chance de cura”, explica Neviçolino. “Queremos que, no futuro, elas se tornem adultos produtivos, com as menores sequelas possíveis”, completa.

Segundo Neviçolino, muitas crianças acima de 12 anos não são atendidas por pediatras nos serviços básicos de saúde. “Isso precisa mudar. Temos de equalizar as oportunidades para que qualquer criança e adolescente que tenha câncer possa ter chance de cura”, afirma. O presidente também destaca a importância que o público infanto-juvenil seja atendido em centros especializados em oncologia, uma vez que pelo menos 4 entre 10 crianças e adolescentes não são tratados em hospitais reconhecidos e habilitados pelo Ministério da Saúde.

Rede de cooperação internacional

Os especialistas pontuam que o combate ao câncer pediátrico requer colaboração entre os profissionais de saúde. Guillermo Chantada, oncologista pediátrico do Hospital Sant Joan de Déu, explica que a troca de visões entre os médicos enriquece as informações sobre as doenças, em especial de condições raras.

Guillermo menciona o Grupo América Latina de Oncologia Pediátrica (Galop), uma iniciativa que conta com a participação de centros terciários da Argentina, Brasil, Uruguai e Chile e tem como um dos objetivos fornecer ferramentas para a educação em todos os níveis sobre o câncer infantil. A organização desenvolve projetos de pesquisa translacional de abrangência regional e potencial global em uma estrutura colaborativa e multidisciplinar. A ideia é identificar as causas do câncer infantil e seus determinantes na região dos quatro países integrantes para desenvolver estratégias de prevenção.

Segundo o oncologista, a cooperação entre os centros fez com que a taxa de sobrevivência de crianças com câncer alcançasse 80%. Guillermo diz que planeja expandir a rede de cooperação internacional do GALOP, aumentando o número de instituições dos países já aderentes e integrando outros países da América do Sul.

Além disso, também pretende desenvolver ações de cooperação internacional que contribuam para o cumprimento da missão do Galop. “Precisamos alargar o alcance das iniciativas à população de adolescentes e jovens da região para garantir equidade no acesso aos melhores recursos disponíveis para o diagnóstico e tratamento de pacientes com câncer pediátrico”, conclui Guillermo Chantada.

*Estagiária sob a supervisão de Suzano Almeida

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