Em termo de cooperação assinado tarde desta quarta-feira (26/4) pela Fundação Instituto para Desenvolvimento do Ensino e Ação Humanitária (Ideah), da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), e o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT), a capital do país passa a oferecer, oficialmente, atendimento gratuito às mulheres e crianças vítimas de violência doméstica.
De acordo com o presidente do TJDFT, desembargador Cruz Macedo, o tribunal tem formado uma verdadeira rede de proteção à mulher, com diversas frentes. "Agora, com o convênio, vamos tentar reparar os danos físicos que muitas mulheres sofrem, em decorrência da violência", apontou. "A nossa ideia é que as varas de Violência Doméstica indiquem as pessoas que precisem de uma cirurgia de reparação, para que a gente possa tentar devolver a autoestima a elas", ressaltou Cruz Macedo.
A juíza de direito Luciana Lopes Rocha, coordenadora do Núcleo Judiciário da Mulher do TJDFT, deu mais detalhes sobre a parceria. "A partir dos casos judicializados, será feito o encaminhamento das vítimas para a Fundação Ideah, que vai fazer o diagnóstico sobre a indicação de cirurgia. Em seguida, elas serão encaminhadas para a rede credenciada privada e da SBCP", disse.
A partir da assinatura do acordo, segundo a magistrada, serão feitas reuniões de trabalho com a Fundação Ideah, para realizar esses diagnósticos. "Serão oficiados todos os juízes das varas de Violência Doméstica, para fazer um mapeamento da necessidade de cada vítima", acrescentou Luciana.
Dignidade
O presidente da Fundação Ideah, Luciano Ornelas Chaves, lembrou que, durante a pandemia, houve um crescimento de 50% nos casos de violência doméstica. "Além disso, o país tem uma estatística de um feminicídio a cada seis horas. As mulheres que não são mortas, ficam sequeladas e isso é um problema de saúde pública", alertou. Ele destacou que a vítima de violência doméstica se difere de outros pacientes. "Ela se refugia. Não procura um especialista, pois precisa se justificar durante a consulta e são sempre histórias terríveis. O projeto vai realizar uma busca ativa, por meio do TJDFT, dessas vítimas, para que possam ter o mínimo de dignidade recuperada", reforçou Ornelas.
Membro titular da SBCP, Luiz de Gonzaga Guimarães, que atua como cirurgião no DF destacou a importância da assinatura desse acordo. "É uma iniciativa muito acertada, pois a sociedade vive uma crescente na violência doméstica, tanto no DF quanto em todo o país. O projeto mostra o engajamento da SBCP com o meio social, pois inclui as vítimas em situação de vulnerabilidade", ressaltou o médico.
Uma das vítimas de violência doméstica — que passou pelo projeto em Goiás —, a auxiliar de limpeza Ana Paula Tavares discursou durante o evento e contou sobre o que passou com o seu agressor, em 2004. "Morava em São Sebastião e vivia com uma pessoa. Numa noite, ele chegou tarde em casa, bêbado, e eu levantei para ir ao banheiro. Nesse momento, ele quis brigar e não dei muita atenção", comentou. "No que entrei no banheiro, ele veio atrás com uma faca e começou a me golpear, acertando três vezes. Comecei a sentir muita dor e a ficar fraca. Depois disso, ele me pegou no colo, jogou na cama e deu mais duas facadas", acrescentou.
A moradora de Formosa (GO) disse que só sobreviveu porque as filhas gritaram muito alto e chamaram a atenção dos vizinhos. "Fui atendida no Hran e saí de lá depois de 28 dias. Após esse período, minha vida não foi fácil. Ele passou um ano preso, e eu fiquei com esse trauma. Eu me senti uma pessoa mutilada, o meu umbigo ficou para o lado", ressaltou. "A minha filha, que tinha 4 anos na época, precisa passar por tratamento psiquiátrico, pois ela presenciou tudo, e hoje vive à base de remédio controlado", lamentou Ana Paula.
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