Em Brasília para acompanhar o “Acampamento Terra Livre”, evento que conta com plenários, marchas e noites culturais de diversos povos originários, Lucila Nawa diz ter enfrentado de perto o preconceito contra sua cultura ao tentar se hospedar em uma pousada na Asa Sul. A indígena relatou que chegou ao KzaZenDF e foi mal recebida pela proprietária, além de ser questionada sobre o uso de cocar e pinturas corporais.
“Perguntávamos e ela respondia de forma torcida, estávamos pintadas, como é a tradição do nosso povo, e ela disse que, caso nos hospedássemos, não poderíamos ir ao café da manhã vestida da forma como estávamos, com pinturas e com cocar”, relatou Lucila ao Correio. Ao questionar sobre o motivo para tal regra, que não estava previamente informada em nenhuma das páginas do hotel, a recepcionista teria alegado que “era coisa da casa dela”, e não deu nenhum outro motivo plausível para o ocorrido.
"Eu me senti discriminada e envergonhada. A gente sempre sofre esses tipos de discriminação, de racismo. Eu não me senti bem, eu não quis mais ficar lá na pousada dela. Porque onde entro e a minha cultura não pode estar junto comigo, eu também não posso estar nesse ambiente", acrescentou Lucila.
O uso do cocar e de pinturas corporais assume diferentes significados para os povos indígenas. Geralmente esses elementos são usados como forma de conexão ou para afastar "espíritos ruins". "Nunca me senti tão discriminada, tão machucada. Fiquei abalada emocionalmente", desabafou a indígena. “Nossa pintura é a nossa identidade, nossa alegria, nossa luta e tem muito significado”, finalizou Lucila.
Procurada pelo Correio, a administração da pousada KzaZenDF informou que o dinheiro pago por Lucila pela hospedagem foi devolvido, já que a indígena não ficou no quarto. Sobre o episódio de preconceito relato por Lucila Nawa, a administração informou que "pedir desculpa é algo que faço sempre, estando certa ou errada, cometer erros faz parte do aprendizado, da evolução".
Acampamento Terra Livre
As delegações indígenas começaram a chegar a Brasília no domingo (23/4) para a edição de 2023 do Acampamento Terra Livre (ATL), que ocorre até 28 de abril. O tema deste ano é “O futuro indígena é hoje. Sem demarcação, não há democracia!”.
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A programação conta com plenários e marchas pelas ruas de Brasília para protestar contra o projetos de lei considerados por eles como “anti-indígenas”. Um desses projetos, o PL 191/2020, permite a mineração em terras ancestrais dos povos indígenas.
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