A representatividade de mulheres na imprensa foi tema de palestra, nesta segunda-feira (24/4), no auditório do Correio Braziliense. Em parceria com a Embaixada dos Estados Unidos, o jornal promoveu o encontro entre a redação e a jornalista e diretora de Comunicação do Women's Media Center, Cristal Williams Chancellor. Na palestra, ela falou sobre presença, representação e desafios das mulheres na mídia.
Durante sua fala, Cristal destacou que, embora a população mundial seja majoritariamente feminina, em uma rápida olhada em uma redação de um jornal pode-se notar que as mulheres são sub-representadas. A jornalista apontou, ainda, que, quando se fala de mulheres negras, asiáticas, hispânicas ou indígenas o número é ainda menor. Ela explica que o papel do Women's Media Center (Centro de Mídia para Mulheres, em tradução livre) é engajar e lutar pela diminuição dessa disparidade (leia Para saber mais).
Cristal ressalta que a luta é importante para que a mídia possa ser justa e equitativa. "Isso, se quisermos contar histórias de todos, e não apenas de pequenos grupos, nem deixar de fora partes da sociedade", alertou. "A pergunta que devemos fazer é: Estamos sendo precisos na história que estamos contando? Estamos sendo verossímeis no trabalho que estamos fazendo?", refletiu.
A comunicadora avalia que os líderes das empresas de mídia, principalmente aqueles responsáveis por contratar, têm um grande papel na mudança de cenário quanto à presença das mulheres e aumento da diversidade nas redações, porque são eles que determinarão quem está em sua redação, quais papéis serão atribuídos a cada um, quais matérias cobrirão, e se mulheres sentem ou não que podem compartilhar abertamente suas experiências. A subeditora de Opinião do Correio, Rosane Garcia, apresentou o evento, que contou ainda com a presença do adido de imprensa e porta-voz da Embaixada dos EUA, Tobias Bradford, no palco.
"Esse programa faz parte do esforço de longa data da Embaixada e Consulados dos Estados Unidos de conectar a imprensa e especialistas dos dois países para trocar ideias, experiências e conhecimentos sobre questões importantes relacionadas à liberdade de expressão, profissionalismo, jornalismo investigativo e de dados, diversidade e, neste caso particular, liderança feminina na mídia", explica Bradford.
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Basta de violência
Cristal falou também sobre a recente onda de violência contra jornalistas, em especial as mulheres. A comunicadora citou a similaridade entre os ex-presidentes dos Estados Unidos e do Brasil. "Ele [Donald Trump] incentivou materiais contra mulheres no geral, contra jornalistas, considerando-as inimigas do Estado e, por isso, foi dado sinal verde para atacar as mulheres. O mesmo ocorreu com [Jair Messias] Bolsonaro, que também se sentiu livre para atacar, não apenas on-line, mas em qualquer situação", afirmou.
A diretora de Comunicação do Women's Media Center acrescentou: "A esperança é que agora que ambas as administrações mudaram, e há mais aceitação ao fato de que os jornalistas são importantes para contar a história, isso possa trazer algumas mudanças. Obviamente ainda há um longo caminho a percorrer e ainda há algumas pessoas on-line que acham que não há problema em assediar jornalistas durante o exercício do trabalho."
Leia entrevista abaixo.
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Informação para combater a desigualdade
O Women's Media Center é uma organização sem fins lucrativos que realiza pesquisas e defende a visibilidade das mulheres na mídia, ampliando as vozes delas sobre questões-chave no diálogo nacional, combatendo o sexismo e o preconceito contra as mulheres na mídia, com o intuito de aumentar as oportunidades profissionais em todas as plataformas, por meio de treinamento, defesa e desenvolvimento de conteúdo original. Um dos projetos desenvolvidos pela organização é o 'SheSource', um banco de dados on-line de mulheres especialistas com experiência em mídia. Nele, é possível localizar não somente jornalistas, como também profissionais de destaque nos assuntos a serem abordados na matéria jornalística. Você pode acessar aqui.
Além disso, a ONG produz e disponibiliza relatórios sobre a representatividade da mulher no jornalismo no seu país, entre eles o The Status of Women in the U.S. Media e The Status of Women of Collor in the U.S. Media 2018. Acesse aqui.
Quatro perguntas para
Cristal Williams Chancellor, diretora de Comunicação do Women's Media Center
Qual a importância de pesquisas sobre a representatividade feminina na mídia?
A pesquisa que o Women's Media Center faz é muito importante porque as pessoas têm que conhecer a informação. Informação é poder. Quanto mais informação você tiver, mais mudanças e soluções trará. Em primeiro lugar, tentamos identificar o problema que mostra que as mulheres são sub-representadas e, muitas vezes, mal representadas na mídia. Cinquenta e sete por cento das histórias da mídia são contadas por homens e apenas 41% por mulheres, mas elas são mais da metade da população. Portanto, há uma grande diferença de gênero sobre quem conta a história e como essa história é contada.
Como outros jornalistas podem dar mais visibilidade ao trabalho do Women's Media Center com a representação feminina na mídia?
Quando se trata, em particular, de representação de gênero, as mulheres ainda são mais de 50% da população. Quando você olha para as notícias, no entanto, não é o que está refletido e, portanto, todos nós temos um papel a desempenhar, não apenas as mulheres, mas também os homens. Os homens têm o papel de garantir que estão sendo justos no tratamento às mulheres e também de criar oportunidades e reconhecerem que há valor em ter uma mídia representativa. Se tivermos uma mídia que inclua a todos, independentemente de gênero ou raça ou vários outros aspectos, a sociedade como um todo valoriza isso e torna-se mais bem informada, o que é importante para a imprensa justa e igualitária e para a democracia.
Em termos de cargos de gerência, como trabalhar para trazer mais representação feminina e diversidade para a mídia?
As pessoas que estão em cargos de gestão têm um grande papel a desempenhar, porque determinarão quem está em sua redação, quais funções serão atribuídas a cada um, quais assuntos cobrirão, se mulheres sentem que podem ou não compartilhar abertamente suas experiências e moldar o que é coberto e o que não é coberto nas redações. Isso é importante para se perceber quais vozes estão sendo deixadas de fora das histórias, quais perspectivas estão sendo contadas e quais não estão.
Como podemos trazer o exemplo do seu trabalho para a nossa realidade, aqui no Brasil?
Acho que o Brasil faz parte disso, reconhecendo os desafios que estão por vir, quais são os problemas para encontrar soluções. O primeiro passo é o que o Brasil está fazendo agora, que é conversar tanto nas redações quanto com o público em geral sobre alguns dos desafios ou deficiências e o que, como sociedade, devemos fazer melhor para garantir que a voz de todos seja incluída. Eu acho que o Brasil, da minha perspectiva e o que eu vi das pessoas aqui, há uma vontade de fazer essas perguntas para olhar em volta e dizer quem não está sendo incluído na mídia: se são mulheres ou se são indígenas, para ter certeza de que essas vozes serão ouvidas. Por isso, parabenizo o Brasil, o povo brasileiro e as organizações de mídia que estão realmente dispostas a fazer o trabalho duro de formular perguntas e depois buscar soluções. Os EUA não têm todas as soluções, nós mesmos temos muitos desafios. Temos muitas vitórias sobre as quais ficamos felizes em falar e continuar avançando, mas acho que podemos aprender e compartilhar com outros países, outras nações, como eles fazem jornalismo ou como veem o mundo e, juntos, acho que faremos uma sociedade em que todos sintam que têm um lugar e uma voz.