Um menino curioso caminha na água procurando um tubarão na piscina de fontes naturais do cerrado, enquanto um grupo de mulheres enche e esvazia agbês, cabaças envoltas de contas coloridas, numa dança de busca aos orixás das águas, ali, bem próximo, um homem nada todos os dias. Na floresta
às margens, bandos de macaquinhos espreitam sorrateiros a distração dos humanos para bisbilhotar pertences e, por vezes, os afanam fugindo rápidos para a mata.
São misteriosas realidades que se repetem no cotidiano dos visitantes que frequentam a Água Mineral, principal ponto de atração do Parque Nacional de Brasília, que se localiza quase colado à Asa Norte, ao noroeste do Distrito Federal, em uma área estratégica na região do divisor de três bacias hidrográficas: Amazônica, do Prata e do São Francisco.
“Mamãe, onde está o tubarão?”, pergunta agitado o menino João Pedro, de 2 anos, filho da arquiteta Thais Brotas. “Ele está se sentindo um peixinho, livre, adorando!”, exclama. Eles moram no Guará e visitam a Água Mineral pela primeira vez. Uma surpresa para os dois, mesmo para o pequeno, que se alegrou assim que viu a piscina ao final da alameda de árvores da entrada. Todas as magias são possíveis, inclusive avistar a grande e impressionante borboleta azul que passeia por lá. Segundo o artista plástico radicado em Brasília Gilberto Mello, quando se cruza por uma é sinal que alguma coisa boa vai acontecer.
Pela proximidade com o Plano Piloto, o parque é uma ótima opção de lazer urbano. A unidade de conservação federal tem duas piscinas rústicas, uma com 2.700m² , com locais rasos onde, por exemplo, o pequeno João Pedro pode caminhar como corpo todo a mostra e até 1,5m de profundidade; a outra tem 4.400m² e 1,6m de profundidade.
Ambas abastecidas por águas correntes canalizadas e fundo de pedra. Uma delas forma uma pequena cachoeira artificial antes da água seguir por um córrego mata a dentro. A queda d’água também é apreciada pelos banhistas. O Parque Nacional de Brasília preserva as nascentes dos principais rios regionais, nas bacias do Torto e Bananal, que contribuem com a formação da Barragem Santa Maria, de 825 hectares, responsável pelo abastecimento de água potável do Plano Piloto.
O uso da área pública varia. As moças com os agbês fazem uma oficina do Clã das Águas, em uma das saídas mensais do curso que acontece com visitas a lugares “onde as águas se manifestam em Brasília”, como a beira do Lago Paranoá, conta a professora Natalia Sol. “Dançamos os movimentos das águas, das nossas emoções e arquétipos dos orixás, como Oxum (divindade das águas doces).O que fazemos não é ritual, mas abre espaço para nossas essências, as emoções se mostram. Trabalhamos as individualidades para compor um coletivo forte”. Ela considera Brasília “muito rica em espaços acolhedores”.
Nas florestas, às margens das piscinas, os animaizinhos que espreitam as pessoas são os macacos-prego, que estão ali atraídos por comida. Essa interação entre a vida selvagem e humanos não é salutar, se não for mantida a distância e obedecidas as regras. Uma das mais importantes é não oferecer alimentos. Por causa do agravamento de acidentes com pessoas agredidas pelos bichinhos, ainda em 2006 pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) fizeram um estudo e demonstraram que os prejuízos são mútuos.
Os alimentos com alto nível calórico provocam aumento dos níveis de glicose e colesterol fazendo os macacos-prego sofrerem de obesidade e riscos de problemas cardíacos e diabetes, além do aparecimento de cáries. “É comum essa aproximação dos bichos com os humanos. “Certa vez, um macaco roubou parte do lanche de uma pessoa e foi pro alto de uma árvore. Só se ouviu os gritos depois. Tinha levado pimenta”, conta Edson Giovanni Gori, morador do vizinho Noroeste.
Analista de tecnologia da informação no Banco do Brasil, ele visita a Água Mineral diariamente, antes de ir paro trabalho. Geralmente nada também aos sábados ou domingos. É mensalista do parque, paga R$ 160 para ter entrada livre nas áreas de visitação pública. O ingresso diário é R$ 16, com isenção para mais de 60 anos e crianças até 12. O local abre para os nadadores às 6h todos os dias.
“Vim morar no Noroeste por causa deste lugar. Meu dia só começa aqui. Preciso. Para meu dia ser legal e a noite também. É um privilégio, meu quintal. Comecei a frequentar o parque há sete anos, com 50 anos. Hoje tenho 45”, brinca ele. “Nado até mesmo nos meses de frio, a água fica até mais quente. Mas, o prazer é a recompensa depois. A qualidade de vida é excepcional. Meus exames (clínicos) estão em ordem”, relata Edson.
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