Educação

Estudantes e professores se unem para pedir paz nas escolas

Com ameaças a unidades de ensino para o dia 20 de abril sendo propagadas, algumas escolas realizaram, ontem, projetos de incentivo à paz entre estudantes, pais e comunidade

Júlia Eleutério
postado em 21/04/2023 00:01 / atualizado em 21/04/2023 06:57
 (crédito:  Ed Alves/CB/DA.Press)
(crédito: Ed Alves/CB/DA.Press)

Após os inúmeros registros de ameaças a escolas do Distrito Federal, em especial neste dia 20 de abril — data dos atentados de Columbine (EUA), em 1999, que inspira atos da mesma natureza pelo mundo —, as unidades de ensino promoveram ações dentro do ambiente escolar demonstrando se trata de um ambiente seguro para alunos e comunidade escolar. Na Escola Casa de Brinquedos, o projeto "Paz na Escola" destacou junto aos alunos a importância do respeito, da amizade, da inclusão e da união entre todos. Ações também foram realizadas em unidades públicas de ensino.

Diretora pedagógica da Escola Casa de Brinquedos, Margareth Resende, ressalta que algumas crianças relataram, na semana passada, que estavam com medo de ir à aula. "Nos últimos dias, os pais estão muito preocupados pela onda de ameaças", destaca. Ela pontua que a escola fez uma reunião com a Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), onde a pasta afirmou estar fazendo o monitoramento da situação. A unidade recebeu orientações sobre como proceder em casos de emergência. A unidade, localizada em Taguatinga Norte, atende cerca de 400 alunos divididos entre o Infantil I (4 anos) e 5º ano (10 anos).

Segundo a pedagoga, a instituição optou pela segurança dentro do ambiente escolar com cercas elétricas, mais pessoas para ajudar na entrada e na saída de estudantes, chave acessível aos professores caso necessário trancar a porta. "Fomos ajustando. A gente entende que fora das dependências da escola é de competência do Estado", pontua. Para criar o projeto, Margareth diz que a ideia surgiu devido as crianças chegarem perguntando se teria um massacre na escola por ouvirem falar. "Resolvemos fazer essa semana dedicada também a paz para falar para elas a importância da escola e de estar aqui", destaca.

Para o projeto, cada aluno escreveu a palavra paz em idiomas diferentes em uma bandeira branca. Além disso, a escola proporcionou atividades com os alunos para que eles ouvissem palavras positivas. Aos alunos de 9 e 10 anos, os professores trabalharam também a responsabilidade de não produzir ou compartilhar notícias falsas, já que muitos possuem celulares. Por fim, no horário de saída, os estudantes se reuniram para cantar a música "A paz", do Roupa Nova, com bandeirinhas brancas confeccionadas por eles.

  • O pastor Samuel Fontana e o estudante Davi Almeida também se uniram por dias melhores nas escolas Ed Alves/CB/DA.Press
  • Lais Silvana e Evellyn Alves participaram do pedido por mais serenidade Ed Alves/CB/DA.Press
  • O pequeno Antonio Mohammmed escreveu em árabe a palavra paz, em homenagem ao avô Ed Alves/CB/DA.Press
  • Escola em Taguatinga promoveu atividade com a criançada Ed Alves/CB/DA.Press

Insegurança

A diretora afirma que nem todos os estudantes compareceram, pois alguns pais não se sentiram seguros em levar os filhos. "Temos alunos em todas as salas, então ficamos felizes em saber que a escola transmite segurança para esses pais", ressalta. "Frisamos para eles que não precisam estar com medo, porque a escola é um lugar seguro e criamos esse ambiente de tranquilidade", destaca.

Pai do estudante Antônio Mohammed, de 10 anos, o servidor público Antônio Ahmad, 56 anos, comenta que muitos pais ficaram apreensivos com a data e os dias anteriores. Mesmo diante do medo, ele optou por levar o pequeno à aula. "A gente precisa estar junto com a escola e não se deixar amedrontar por essa onda que está nas redes sociais", pontua. O morador de Taguatinga Norte conta que conversa e dialoga com o filho sobre a ida à escola. "Tem que estar junto com os amigos e colegas. Precisamos superar esse momento e a escola proporciona essa segurança", frisa.

Aluno do 5º ano, Antônio escreveu na bandeirinha a palavra "paz" em árabe em homenagem ao avô que faleceu. "A gente tem que respeitar a língua dos outros, porque alguns nasceram em outros países e tem pessoas que são descendentes. Meu avô era palestino e árabe", destaca o menino. Para ele, paz é esperança e é não ter guerra, brigas e ódio no mundo.

Mãe e funcionária da escola, Laís Silvana, 36 anos, ressalta que se sente acolhida pelo ambiente escolar. "A escola é um lugar seguro para deixarmos o nosso filho. Passei para minha filha essa tranquilidade e essa proposta de segurança", comenta. Evelyn Alves, 9 anos, e a mãe prepararam bombons para entregar aos professores e funcionários para que também  se sentissem acolhidos. A estudante do 4º ano pontua que ontem foi um dia normal com os amigos e as atividades diárias. "Paz para mim significa união, estar junto com pessoas que você ama, se sentir com segurança", conta um pouco sobre o que aprendeu.

Pai de Davi Almeida, de 10 anos, o pastor Samuel Fontana, 54 anos, trata os ataques às escolas como terrorismo. "Não faço nenhuma grande crítica às pessoas e sim ao sistema. Até onde a gente sabe se tratam de perfis falsos, na maioria dos casos, e cabe às autoridades identificar os perfis falsos e punir os culpados", pontua. Ele avalia que só não levaria o filho para a escola se as autoridades dissessem que há perigo. "Como a Secretaria de Segurança disse que está seguro, eu trouxe meus filhos", destaca o pastor.

O estudante escreveu na bandeirinha a palavra "paz" em italiano. "Para mim, significa tranquilidade, sem guerra, sem conflitos com ninguém e é o que ultimamente não tem acontecido", lamenta a criança.

 


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