Brasília tem diversos pontos de encontro para se apreciar o pôr do sol. Antes de chegar ao ponto em que se torna avermelhado e vai descer rapidamente no horizonte, as pessoas começam a se reunir no local preferido. De carro, de bicicleta ou a pé. E se acomodam para assistir ao espetáculo na natureza, conversando com amigos, cuidando de um bebê, que começa a dar os primeiros passos, namorando, alongando pernas e braços. Gente de todas as idades.
"O pôr do sol de Brasília é o mais bonito do mundo. Porque somente aqui posso ver o céu em 360 graus completos no centro da cidade", ressalta Maria Célia Padilha, 78 anos, aposentada do Ministério da Saúde.
Baiana, ela vem do mar, mas se satisfaz todos os dias no encontro marcado na Praça do Cruzeiro, no Eixo Monumental. São poucos minutos do apartamento no Sudoeste. Ela convida a filha Mariana, arquiteta, pega o neto Samuel de 1 ano meio e corre pra rua. "Tem dias que vêm trailers de pão de queijo, de hambúrguer, até de pula-pula para cá", destaca. "Mas tem que vir cedo, senão não acha lugar. É uma festa!", exclama.
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A socióloga mineira Luiza Pinheiro também é adepta da contemplação dos finais de tarde. Costuma circular por vários pontos de encontro no entardecer. Tem 32 anos, morou em Brasília ainda criança, foi embora e voltou adolescente. Quase todos os finais de semana, ia com a turma ao Parque da Cidade curtir o pôr do sol. Apaixonou-se por esses momentos e passou a levar uma câmera fotográfica para captar as belezas que se sucediam.
Luiza faz isso até hoje. Atualmente, em alguns dias, prefere usar o celular, mas está sempre de olho nas possibilidades do céu. "Sou fotógrafa amadora", diz, mesmo depois de tantos cliques ao longo dos anos. E realmente consegue imagens lindas. Fotografou, inclusive, na pandemia. A generosa natureza proporcionou à sua janela uma coleção de tons, cores e interessantes contornos em composição com os prédios já à sombra na Asa Norte. "Foi o meio de conviver com o confinamento", lembra.
"Agora, sempre tem chovido no final de tarde. Mas fico atenta. O entardecer não é somente o espetáculo do pôr do sol. É uma pausa para o pensamento, para as emoções estarem em ordem. Para ver aquele espetáculo, tem que combinar com São Pedro, mas me preparo. Se vou à casa de um amigo, que sei ter uma bela vista, carrego a câmera", acrescenta. Ela conta que, em casa, tem também opção de janela para acompanhar o alvorecer. Escolhe uma ou outra, a depender do horário.
Luiza tem ao lado sempre a companhia de Carolina Neves, 33, brasiliense, que a acompanha nos passeios desde o ensino médio. "Na pandemia, a gente se ligava por meio de vídeo. Uma dizia: 'Olha lá, vai para a janela. O céu está lindo!'", relata a amiga, que mora na Octogonal e também tem boa visão do horizonte. "Mesmo sem poder estar com as pessoas no mesmo espaço físico, essa foi uma forma de estar junto".
Nesta época de fins de chuvas, o poente não é tão vibrante como nas temporadas secas, que favorecem raios solares de vermelho intenso. Mesmo assim, quem adora o pôr do sol espera aquela surpresa que muitas vezes acontece, um raio inesperado rompendo nuvens e desenhando o céu, um arco-íris que surge ou a luz dourada que se projeta sobre a Terra, acalmando o dia.
Estudos
O sol tímido neste mês de abril, escondido atrás das nuvens enegrecidas da chuva, que acabou caindo fina ao fim da tarde, afugentou o paulista Toni Gigliotti do banco de cimento na Praça dos Três Poderes, onde se distraía lendo um livro. Ele mora há 17 anos em Brasília e gosta de momentos em que foge um pouco dos estudos de doutorado na Universidade de Brasília (UnB).
"Este é um lugar de que gosto muito, mas meu lugar preferido é a Praça dos Cristais", diz, lamentando o tempo em que não pôde visitá-la, ocupada por manifestantes políticos. Assim conhecida, na realidade, chama-se Praça Cívica e é uma obra paisagística do artista plástico Roberto Burle Marx, localizada no Setor Militar Urbano, em frente ao Quartel General do Exército.
Toni Gigliotti diz que curte a Praça dos Três Poderes à noite. "Quando tenho tempo de espairecer, frequento as praças públicas para descansar, ler um livro. Brasília tem muitas praças e parques, oferece muitos espaços. E, comparando com outras cidades do país, o Plano Piloto não é violento. Mas prefiro as fases de lua cheia".
Nesta semana, Toni foi atrás de um pôr do sol e, apesar da garoa, não se decepcionou. Foi rápida. E deixou o céu encerrar o dia com uma luz que se derramou bem definida na cúpula da Câmara dos Deputados, como se a enchesse com os raios iluminados. O sol também apareceu por alguns minutos. Espiou a praça entre as duas torres do Congresso e correu para o horizonte.
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