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Lago Paranoá pede socorro contra assoreamento e poluição

Com o crescimento urbano, o reservatório artificial, símbolo da capital, sofre com o assoreamento e a degradação de suas margens, colocando em risco a vida do bioma e a sobrevivência de quem tira dele o sustento

Mila Ferreira
Mariana Saraiva
postado em 18/04/2023 06:00 / atualizado em 18/04/2023 06:15
 (crédito: Fotos: Ed Alves/CB/DA.Press)
(crédito: Fotos: Ed Alves/CB/DA.Press)

O Lago Paranoá é um dos espaços mais democráticos de Brasília. Fonte de renda de pescadores e instrutores de esportes aquáticos, o local também recebe milhares de pessoas por dia em busca de lazer. Mas, todo esse potencial oferecido pela bacia artificial está sendo ameaçado pelo assoreamento, que vem trazendo graves consequências. No Paranoá, já é notório o baixo nível da água, que está mais raso com o passar dos anos. Além disso, houve ainda uma redução das áreas destinadas às atividades náuticas. Estudos recentes da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa) confirmaram os efeitos de assoreamento com uma perda aproximada de 6,5% de seu volume total até 2019.

O assoreamento consiste no acúmulo de areia, terra, rochas, lixo e outros materiais levados até o leito dos cursos d'água pela ação da chuva, do vento ou do ser humano. O fenômeno pode tornar a água turva, impossibilitando a entrada de luz, dificultando a fotossíntese e impedindo a renovação do oxigênio para algas e peixes. Além disso, com o assoreamento, há também redução do volume da água.

O professor do Instituto de Geociência da Universidade de Brasília (UnB), Henrique Llacer Roig, explica que grande parte do assoreamento no Lago Paranoá se dá devido a obras civis, que fazem o descarte errado de resíduos. "Esse processo de urbanização demasiado cria diversos resíduos, e com a chuva, vem tudo para dentro da bacia", explica o especialista.

Em pesquisa feita para a UnB, o professor chegou à conclusão que as áreas mais afetadas atualmente, são nas proximidades da Ponte do Bragueto e no braço do Riacho Fundo, perto da Estação de Tratamento de Água (ETA-Sul). Segundo ele, o estudo apontou que um dos motivos do assoreamento perto da ponte foram as construções no Noroeste.

Estudo recente sobre o assoreamento do Lago Paranoá, realizado por meio de parceria entre a Adasa e a UnB, demonstrou que a urbanização de fato acelera o assoreamento de reservatórios. Além disso, segundo o estudo, os materiais que ultrapassam os limites das obras podem causar muitos outros prejuízos ao meio ambiente e à sociedade, como a redução da capacidade de escoamento dos sistemas de drenagem, potencializando o risco de inundações, a presença de lama e poeira nas vias públicas, a deterioração da qualidade da água, o aumento dos custos de tratamento da água para o abastecimento, a alteração nos ambientes aquáticos e em sua biodiversidade, entre outros.

O servidor público Edvaldo Guilherme, de 54 anos, frequenta a orla do Lago Paranoá desde que chegou a Brasília em 1971, e conseguiu notar as mudanças com o decorrer dos anos. "Eu acho que, devido ao crescimento de cidades que são afluentes do lago como Samambaia e Vicente Pires, veio muita sujeira, inclusive naquela região do Deck Sul, onde estão se formando ilhas, devido à grande quantidade de areia. De uns 10 anos para cá, o assoreamento no lago vem ficando mais evidente. Locais que eram fundos antes, hoje em dia estão rasos", disse o servidor.

Sandra Regina, 46 anos, monitora escolar, relatou que também percebe os reflexos do assoreamento no lago com o passar do tempo. "À noite tem mau cheiro, um lixo horroroso. Tem gente que vem passar o dia, fazer piquenique, churrasco, etc. Há vezes que eu vim e estava muito sujo. Comecei a frequentar o lago há três anos, quando meu marido se mudou para a Vila Planalto e, de lá para cá, percebi que o nível da água diminuiu bastante", afirma ela.

O presidente da Associação Náutica, Esportiva e do Turismo de Brasília (Asbranaut), João Carlos Bertolucci, acredita que uma solução para o problema do assoreamento é a realização de uma dragagem no lago, que consiste na escavação para retirada de resíduos e sedimentos do fundo dos rios e lagos. "É preciso ser feito, o mais rápido possível, um acordo com a UnB e outras entidades responsáveis por estudos de lagos para fazer uma dragagem. O lago tem perdido sua dimensão em função desse assoreamento", avalia Bertolucci.

Segundo o presidente, outro problema que tem acentuado o assoreamento no lago é o fato de algumas embarcações usadas para turismo náutico não têm caixa de esgoto, fazendo com que o dejeto produzido nos banheiros das embarcações sejam jogados dentro do lago sem tratamento. "O lixo jogado no lago também é um problema. Constantemente, nós vemos sacolas e garrafas pet jogadas na água. Observo também um excesso de pneus e entulhos jogados às margens do lago", alerta Bertolucci.

Boas práticas

Com o objetivo de orientar projetos, execuções e fiscalizações de obras civis, a Adasa divulgou, em 2022, o "Manual de Boas Práticas: Controle de erosão do solo e manejo de sedimentos e outros contaminantes em canteiros de obras". No material, é destacada a importância do gerenciamento de sedimentos e resíduos sólidos em obras civis, visando minimizar o processo de assoreamento no lago Paranoá. O manual pode ser acessado no QR Code.

 

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    Embarcações também são responsáveis pelo descarte de resíduos impróprios para a qualidade da água Foto: Ed Alves/CB/DA.Press
  •  15/04/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Assoreamento no Lago Paranoa. Ponte do Bragueto.
    15/04/2023 Credito: Ed Alves/CB/DA.Press. Cidades. Assoreamento no Lago Paranoa. Ponte do Bragueto. Foto: Ed Alves/CB/DA.Press
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