O Museu Vivo da Memória Candanga e o Museu do Catetinho são guardiões da história de Brasília e disponibilizam aos interessados lembranças da época da construção da capital. Para muitos brasilienses, o acesso às memórias de décadas atrás permite conhecer melhor o lugar onde vivem hoje.
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O Palácio de Tábuas, no Museu do Catetinho, foi a primeira edificação durante a transferência da capital, conta Artani Pedrosa, gerente do lugar, e, não surpreendentemente, foi o primeiro local a ter algumas modernidades, "a primeira luz, o primeiro telefone, a primeira geladeira", completa.
A gerente do museu descreve o papel do palácio para manter as lembranças do início de Brasília acesas. "É um patrimônio histórico desde 1979 e tem essa função social de resguardar e preservar a memória dos anos iniciais da construção de Brasília. Tem essa obrigação de preservar o acervo e promover ações educativas sobre o patrimônio cultural da cidade", ressalta Pedrosa.
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Segundo ela, quem visita o lugar viaja no tempo e cria laços com o que está sendo visto. "É uma volta, é uma memória afetiva, que é ativada quando você vem ao lugar. As pessoas têm uma ligação muito forte quando entram nos espaços, quando veem as fotografias, quando notam a simplicidade do local. Elas esperam ter esse contato com 'a Brasília de madeira' dos anos iniciais."
A brasiliense Alessandra de Souza, 52 anos, revisita o Catetinho como quem revive a própria infância, marcada por inúmeras visitas ao lugar junto à família. "Lembro-me que meu pai gostava de nos levar para passear em pontos turísticos da capital, e, por repetidas vezes, ao Museu do Catetinho. Como se fosse hoje, ele explicava sobre o Palácio do Catete, no Rio de Janeiro; e o então Palácio de Tábuas construído em 10 dias, em Brasília. Contava sobre cada cômodo, a comparação dos objetos do acervo com os 'atuais'. Ainda que, para nós, crianças, fosse tudo novidade dentro do Museu do Catetinho, para meus pais, o tempo passou rápido."
Neta de avós que trabalharam fornecendo materiais para a construção da capital, ela se lembra perfeitamente do que aprendeu durante os passeios no palácio de madeira. "Minha memória se faz presente como nos dias daqueles passeios pelo jardim do Catetinho, eu passava sobre uma ponte de madeira, sobre um riozinho, e uma grama sempre bem aparada e verdinha. E, pelo caminho, meu pai mostrava orgulho de ser conterrâneo de JK, e minha mãe, Marta Garcia, nunca perdia a oportunidade de falar que meu avô descarregou muitos caminhões de areia na Esplanada dos Ministérios", relembra, emocionada.
O museu se tornou parte da memória de Alessandra não apenas pelos passeios com a família, mas também porque foi assim que ela conheceu a história do lugar onde nasceu. "Desde pequena, aprendi a importância da minha cidade de forma bem lúdica", destaca. Para ela, saber sobre o passado é necessário, e preservar essas lembranças, imprescindível. "Se percebe a importância de preservar nossa história, a importância de um museu nos conectando ao passado, presente e futuro", enfatiza.
O pai de Alessandra, Antônio Ronaldo de Souza, tocava violão e cantava para os filhos nos jardins do Museu do Catetinho. A música sempre fez parte da existência do Palácio de Tábuas, ressalta o gerente do espaço. "Há especialmente a ligação com a música, a primeira composta em Brasília, Exaltação à Brasília, foi composta aqui, no Catetinho, e a gente também tem relação com Tom Jobim e Vinícius de Moraes, que ficaram aqui hospedados para composição da Sinfonia da Alvorada e que daqui saiu inspiração para Água de beber", diz.
Ponto Cultural
Pethalla Carvalho, 27, morou no Gama desde que nasceu até a vida adulta e conta que, para se deslocar rumo à região central de Brasília, sempre tem um vislumbre do Museu do Catetinho ao lado da pista. No entanto, a história de como ela conheceu o lugar chegou muito antes dos passeios de carro ao Plano Piloto.
"Foi em um passeio da escola, o Catetinho é um dos principais pontos culturais, visitei o museu várias vezes quando pequena. A gente teve a oportunidade de aprender ali como tudo foi construído, enfatizavam muito a história do Juscelino. Era um espaço que dava para brincar, era sempre um passeio bem especial."
A advogada discorreu também sobre a importância de preservar o museu e suas memórias. "Confesso que, depois que fiquei mais velha passei muitas vezes pelo Catetinho e até um tempo atrás, percebi que foi abandonado, tanto pelas pessoas quanto pelo governo. Ele precisa, sim, ser muito bem preservado, faz parte da história de Brasília e da nossa identidade cultural. Hoje (revitalizado) ele pode ser melhor explorado, falta uma divulgação. É um lugar que faz parte de mim como brasiliense, tenho muito amor pelo Catetinho", acrescenta.
Pethalla espera que o museu continue sendo preservado, conhecido pelas pessoas e aguarda a oportunidade para levar os futuros sobrinhos para conhecer, brincar e aprender sobre a história de Brasília, "com muito orgulho".
Artani Pedrosa deixou um recado para aqueles que ainda não conhecem o Catetinho. "O museu é um lugar para todos, um espaço aberto, um espaço público, a gente espera que as pessoas visitem mais", e reforça que é um lugar que está aberto para receber todos os públicos.
Você sabia?
O Museu Vivo da Memória Candanga (MVMC) ocupa as instalações que, nos primórdios da construção de Brasília, pertenciam ao Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira. Até 1974 as 23 construções de madeira serviam para socorrer operários acidentados, fazer partos e atender donas de casa e crianças, em 1990, foi reaberto como museu com a função de preservar a história brasiliense.
As casas de madeira coloridas e cercadas de plantas dão vida à memória candanga. Com grande destaque para a mostra permanente, que ilustra a vida dos candangos ‘Poeira, Lona e Concreto’, o MVMC, localizado entre as regiões administrativas de Candangolândia e do Núcleo Bandeirante, oferece à comunidade diversos cursos e oficinas gratuitas, preservando e disseminando a cultura local.
“O museu é diferente, ele também é uma escola, com oficinas para a comunidade em situação de vulnerabilidade social, aqui tem oficina de costura criativa, corte e costura, tecelagem, cerâmica, reciclagem de papel, crochê, bordado, gravura, entre outros”, revela Eliane Rodrigues, gerente do museu.
Conforme Eliane, o lugar não tem relevância apenas na história local, pois é uma parcela importante da trajetória brasileira como um todo. “É um patrimônio histórico e cultural, então é muito importante para a memória. Venha visitar, gostaria de convidar a comunidade não só de Brasília, mas do Brasil para conhecer, porque ele não faz parte apenas da história local, mas do país”, aponta a gerente.
Mensalmente, entre 2.500 e 5 mil pessoas visitam o Museu da Memória Viva Candanga, entre brasileiros e estrangeiros. O local recebe principalmente excursões escolares, tanto de instituições públicas, como particulares, passando para gerações futuras a história das origens de Brasília.
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