A W3 Sul serviu como shopping à céu aberto para aqueles que se mudaram para Brasília nos primeiros anos da nova capital e passou por transformações ao longo das décadas. Com o decorrer do tempo, o antigo ponto de encontro entrou em decadência, o lazer deixou de fazer parte dos caminhos da avenida e a sensação de abandono tomou conta do espaço. Propostas para revitalização da avenida começaram a ser apresentadas ainda em 2002 e, em 2020, o governo do Distrito Federal deu início às mudanças que devem deixar a W3 Sul moderninha, e quem sabe, dar ao local uma nova era de ouro.
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A W3 expressa muitas histórias, não apenas por meio de espaços físicos, mas pelas memórias de quem conhece a avenida como o quintal da própria casa. Ivan Choas, segunda pessoa a nascer em Brasília e proprietário da loja Raio do Sol, na W3 Sul, há 39 anos, conta que os shoppings centers fizeram minguar a quantidade de clientes no comércio da via e aqueles que continuam comprando na W3 Sul, o fazem pela tradição criada em família.
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"O grande shopping da cidade era a W3 Sul, isso mudou porque o pessoal esqueceu dela e agora vai aos shoppings mesmo. Os moradores tradicionais, por exemplo, o filho que vinha acompanhado da mãe tem lembrança de infância da W3. 'Ah! Na W3 tem aquela lojinha que vendia isso, que vendia aquilo', ele lembra, porque esse filho vinha com a mãe. Mas aqueles que não tiveram o costume de vir à W3, preferem o shopping mesmo", lamenta.
Ivan viu o lucro do comércio diminuir ano após ano, os depósitos do dinheiro das vendas, que antes eram feitos até três vezes em um único dia, passaram a ser realizados uma vez na semana, "e olhe lá". O comerciante garante que a avenida tem tudo o que alguém precisa comprar e um pouco mais, pois onde se procura produtos para casa também é possível encontrar amizade e parceria.
"W3 Sul é nostalgia e romantismo, a gente tem tudo aqui, tudo que precisamos. O que tem lá no shopping tem aqui também. Mas tem um diferencial, na W3 a gente está mais próximo do cliente, o shopping está mais distante das pessoas. O nosso cliente está ligado à gente com aquele companheirismo e aquela amizade que temos desde antigamente, porque aqui o filho comprava, o pai comprava, o avô comprava, mas hoje é bem diferente daquela época", destaca.
Apesar do tempo não regredir, são os visitantes antigos que mantêm a popularidade da avenida e, talvez, com o fim das reformas em andamento, mais pessoas sejam atraídas e o apego ao local, e aos comerciantes, tornem a surgir de novo. "O que salva a W3 ainda são aquelas pessoas de antigamente, os novos quase não têm esse romantismo pela rua. Agora, se eles fizerem essa reforma trazendo um pouquinho do que tinha lá de trás, pode voltar a melhorar", diz esperançoso Ivan Choas.
Moisés Choas, filho de Ivan, conhece a avenida há três décadas, desde que nasceu. Fez amigos pelo caminho e pela rua que o assistiu envelhecer. "Vimos a W3 crescer, quando eu era pequenininho, a gente ficava do outro lado da rua, colocávamos as cadeiras comíamos ali, fazíamos lanche da tarde. Tinha muito pé de manga, a gente pegava manga verde para comer com sal, vivemos muito aqui, é nossa segunda casa."
Os processos de reforma da W3 Sul impactam diretamente no comércio local. "Essa revitalização foi muito boa para nós comerciantes. Não mudou muito a questão do consumo das pessoas, mas acabou com problemas como a queda de pedestres nas calçadas. Isso era um caos, depois que revitalizou, ficou muito bom de andar, a circulação melhorou. Agora vejo muitos idosos com cadeira de rodas elétrica passando rápido. O estacionamento também ficou legal", destaca Moisés.
Repaginação
O comércio tradicional da W3 Sul pode até depender de seus clientes mais antigos guiados pelo hábito, mas como tudo se renova, a avenida abre espaços para atrair o público mais jovem e sacudir a poeira dos tempos de JK. Essa repaginação se dá graças a locais como a Infinu, uma comunidade criativa na altura da 506 Sul, que movimenta os novos filhos da capital com arte, cultura e modernidade.
O local iniciou as atividades em junho de 2020, com a intenção de mostrar, na prática, como funciona uma economia baseada em compartilhamento e cooperativismo, além de ter pegadas de responsabilidade socioambiental, de autonomia e autossuficiência. A Infinu tem um espaço que conta com lojas e serviços voltados para gastronomia, moda, inovação e bem-estar, além de dar destaque à cultura produzida em Brasília.
"Nossa ideia era de desenvolver uma vitrine perene do que é feito na cidade, sobretudo vinculado a ideias, projetos e empreendimentos criativos e inovadores, somando com processo de revitalização da W3 Sul. Como nosso funcionamento é bastante amplo, acabamos atendendo um público heterogêneo, o que se tornou uma força do projeto. No entanto, entendemos que os clientes têm algo em comum: são entusiastas da cultura, inovação e criatividade", conta Miguel Galvão, um dos organizadores da comunidade.
Raphaella Moino Donon, 26 anos, se mudou de São Paulo para Brasília há cinco anos e frequenta a Infinu desde o ano passado. Para ela, a comunidade criativa da W3 Sul consegue proporcionar aos moradores de Brasília, e visitantes, uma agenda cultural muito diversa. "Eu gosto bastante do espaço, acho que traz uma cara mais jovem para a Asa Sul", relata. "As pessoas costumam dizer que é um lugar de velhos (a Asa Sul)", brinca a estudante de audiovisual. "Eles trazem alguns artistas interessantes, é impressionante até mesmo pelo tamanho do local", diz.
Dos mais antigos aos mais jovens, a W3 Sul permanece como cenário de memórias e afetos dos brasilienses, com reforma ou sem, a icônica avenida continuará sendo destaque no coração de Brasília.
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