Um dos lugares mais bonitos do Distrito Federal para brincar, correr e, com sorte ver animais silvestres soltos na natureza é o Jardim Botânico de Brasília (JBB). Além disso, é possível conhecer melhor a flora e apreciar obras de arte ao ar livre, tomando um saboroso café embaixo das árvores. A unidade de conservação tem 5 mil hectares com belos recantos arquitetônicos em meio ao bioma cerrado. No ano passado recebeu 15.723 visitantes, com expectativa de chegar ao final de 2023 com 11% a mais, especialmente por causa de novos e antigos atrativos, como a tradicional exposição de orquídeas.
Os caminhos do JBB se revelam neste mês abastecidos pelas chuvas do verão, e começam a entrar em novo ciclo de estiagem, que deverá durar até agosto, quando mostrarão flores nativas deslumbrantes nascidas de um solo no auge da aridez. Uma coisa é certa: em qualquer estação o Jardim Botânico estará lindo e receptivo, propício a passeios fotográficos onde se experimenta sensações de liberdade e segurança.
Ao lado do Centro de Visitantes, em uma das áreas de café e restaurantes, há um espaço para um piquenique perfeito. Com toalha xadrez na mesa comprida a poucos centímetros do chão, a família brinca com Enrico, de 1 ano. Às vésperas do aniversário de Brasília, o menininho já estava apropriadamente vestido para a data festiva, com uma camisetinha verde com a sigla da cidade e o simbólico ipê-amarelo estampado.
"Trouxe Enrico pra passear", conta o pai, Luiz Gustavo Medeiros. Engenheiro nascido na capital federal e morador de Macaé (RJ), todos os anos busca atrações na terra natal. A mulher, a psicóloga mineira Karine Antonini, adora. "Brasília tem muita coisa para fazer. A gente sempre vai também ao Parque da Cidade", diz. A irmã de Gustavo, a artista plástica Raquel Cavalcanti, é frequentadora assídua do JBB. "É lindo e muito bem cuidado", contempla ela.
Karine destaca que "o Jardim Botânico de Brasília tem espaço para todas as idades". São parquinhos, oficinas de educação ambiental para alunos de escolas públicas, espaços de belezas exóticas, como o Jardim Japonês e com temáticas como o Jardim de Cheiro, em que as crianças experimentam os cinco sentidos humanos, ou o Jardim Evolutivo, em que o paisagismo obedece a localização das plantas de acordo com o seu processo de reprodução ao longo de milhões de anos na Terra. Uma boa ideia é ver ao vivo esse tema do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
A comunidade tem outros meios de aproveitar os espaços do Jardim Botânico. Como a exposição de bordados de 15 mulheres que estará no Centro de Visitantes até domingo. Todos os quadros têm referências à arquitetura brasiliense. No JBB, 500 hectares são abertos livremente à visitação, inclusive uma trilha ecológica de 4,5km. Outros 4.500 hectares, constituem a Estação Ecológica Jardim Botânico de Brasília (EEJBB), resguardados para desenvolvimento de atividades científicas. O local tem uma estação de tratamento de água que abastece 25% do Lago Sul.
Critérios
"O Jardim Botânico de Brasília é um dos três únicos no país que tem classificação A", o que significa a máxima excelência, relata a superintendente técnico-científica do JBB, Lilian Breda. Segundo ela, os outros dois são do Rio de Janeiro e São Paulo. Ela explica que contempla critérios como ter coleções de plantas, o laboratório de reprodução in vitro de orquídeas ameaçadas de extinção, revista científica própria e o Herbário Ezechias Paulo Heringer.
Gerente do herbário e engenheira florestal, Daniela Ramalho enfatiza que estão ali guardadas "coleções dos anos 1960 de Ezechias Paulo Heringer". O primeiro editorial do periódico científico do JBB, "Heringeriana" (2007), traça um perfil do engenheiro agrônomo, com "sua prensa, podão, olhos e mãos de desbravador", vindo "para Brasília em 1960 a convite do presidente Juscelino Kubitschek, pioneiro no estudo do cerrado e suas orquídeas".
Daniela Ramalho conta que o herbário tem cerca de 38 mil exsicatas, que são amostras da flora fixadas em papel vegetal com linha de algodão e agulha, com informações trazidas por pesquisadores que saem cerrado adentro, buscando galhos, folhas, sementes, enchendo os bolsos e mochilas.
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Cientistas
A gerente relata que "o espaço reúne 45% de todas as espécies do DF, com 1.877 espécies vegetais e mais de 500 animais vertebrados, além de centenas de invertebrados, como insetos e aracnídeos". A diretora executiva do Jardim Botânico, Aline De Pieri, anuncia para maio a inauguração de um novo herbário, com 393m², praticamente quatro vezes maior que as instalações atuais. A área do acervo terá 100m². "Um espaço aberto à comunidade científica que representará nossa missão para continuar classe A", ressalta.
Haverá ainda um recanto especial para obras raras. Daniela Ramalho mostrou à reportagem do Correio um dos 15 volumes da raríssima Flora Brasiliensis, com total de 10.367 páginas com tratamentos taxonômicos de 22.767 espécies e 3.811 litografias ricas em detalhes que são de grande auxílio para identificações de espécies.
A coleção foi produzida entre 1840 e 1906 pelos editores Carl Friedrich Philipp von Martius, August Wilhelm Eichler e Ignatz Urban, com participação de 65 especialistas de vários países. É praticamente intocada, mas pode ser visitada on-line (http://rabrasiliensis.cria.org.br).
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