Um projeto de lei em tramitação nas comissões da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) pretende criar uma faixa exclusiva para veículos de duas rodas, como motos, motocicletas, motonetas e ciclomotores, com o propósito de melhorar o fluxo nas vias de trânsito da capital federal. O Correio ouviu especialistas, que apresentaram versões distintas sobre a proposta.
Saiba Mais
O projeto é de autoria do deputado distrital Fábio Felix (PSol) e visa reduzir o número de acidentes de trânsito. O PL já foi aprovado, por unanimidade, na Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana (CTMU) e, nesta semana, chegou à Comissão de Assuntos Sociais (CAS). "É uma forma de criar regras no trânsito para a segurança de motociclistas que são muito vulneráveis no trânsito diante dos outros veículos automotores. Há experiências que estão sendo bem sucedidas em São Paulo. Essa medida ajuda não só os motociclistas, mas também motoristas de outros automóveis que não serão surpreendidos com acidentes no trânsito", comentou o autor do projeto, deputado Fábio Felix.
"O problema é que, aqui no Distrito Federal, se for propor uma faixa exclusiva na grande maioria das nossas vias teríamos que tirar espaço dos carros. A briga será imensa. O problema não é técnico", disse o especialista em trânsito Artur Morais.
"Vamos lembrar, por exemplo, de quando foi proposto a faixa para ciclistas nas avenidas Castanheiras e Araucárias de Águas Claras. Lembro que foi uma confusão imensa, porque reduziria a via dos carros, o que não ocorreu. É muita gente que reclama, mas não vê o lado técnico. Estão mais preocupados apenas em achar que vai perder espaço na via, como se o outro não tivesse direitos também. A separação do trânsito diminui os acidentes, as interrupções e consequentemente melhora a fluidez. A cidade de São Paulo, por exemplo, reduziu em 15% a lentidão no trânsito com a faixa", contextualizou.
O pesquisador em mobilidade urbana Carlos Penna Brescianini também opinou sobre a proposta. Para ele, o grande problema que pode surgir é que uma proposta desse tipo, caso sancionada pelo chefe do Executivo local, pode aumentar o número de acidentes. Ele explicou que a faixa exclusiva faz com que motociclistas trafeguem em uma velocidade ainda maior. "O incentivo ao aumento de velocidade dentro das cidades é sempre problemático. Seguramente aumenta o número de acidentes. Os motociclistas são a categoria de usuários de veículos automotores com maior incidência de vítimas fatais e de sequelas. No momento, vejo com preocupação a criação de faixas exclusivas, por se levarem ao aumento da velocidade e ao aumento dos acidentes", explicou.
Para o conselheiro da ONG Rodas da Paz Raphael Dornelles, a faixa exclusiva para motos é muito possível e com certeza será bem aceita pela classe. Segundo ele, além dessa alternativa, existem opções que podem ser adotadas, como a redução da velocidade das vias onde registram mais mortes de motociclistas no Distrito Federal. "A faixa exclusiva é uma possível solução, além das várias que podem surgir. Não acho uma boa ideia utilizar a faixa de ônibus, por exemplo, o que escancara que é uma ótima opção. Uma das melhores formas para trazer segurança aos motociclistas, principalmente para aqueles que são entregadores — que existe a cobrança de entregarem rápido — é a redução da velocidade", comentou.
De acordo com uma tabela repassada pelo Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) ao Correio, de 2000 a 2023, 1.840 motociclistas morreram no trânsito da capital federal, incluindo BRs, DFs e vias urbanas. A frota no início do século era de 15.469 motocicletas. Agora, são 244 mil no DF. Procurado, o governo disse que só vai opinar sobre o tema quando o projeto chegar à mesa do governador Ibaneis Rocha (MDB).
Segurança
O motoqueiro Vilmar da Silva, 50, está esperançoso por esse espaço exclusivo para a categoria. "Os acidentes serão evitados, pois o pessoal não presta muita atenção na rodovia e acaba sobrando para nós motoboys", salienta. O morador de São Sebastião relata que a faixa deve ser igual à exclusiva para os ônibus, aplicando multa para quem violar as regras. "Para funcionar é preciso ter essas vias em todo o DF, pois se tiver somente na área central não resolve todo o problema", completa.
A segurança é o principal ponto que pode melhorar com a via exclusiva de acordo com Daniel Oliveira, 41. "Vida a gente só tem uma, nos corredores é muito perigoso. O pessoal não dá seta, aí acontecem vários acidentes", conta. No entanto, o morador da Asa Norte acredita que os motoristas não vão respeitar a faixa exclusiva. "Precisa de educação no trânsito, só a multa não resolve. Vamos acabar pegando menos trânsito, é o principal com maior segurança", ressalta.
*Estagiário sob a supervisão
de Márcia Machado
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.